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domingo, 15 de junho de 2014

Nosso futuro está nas estrelas

A conquista do espaço faz parte da nossa vida diária. Quando usamos a internet, telefonamos para o exterior, assistimos a programas de televisão via antena parabólica, estamos captando mensagens transmitidas por satélites bem longe, no espaço. A previsão do tempo, que aparece diariamente nos telejornais, também depende da atividade silenciosa dos satélites que giram ao redor do mundo. O espaço estrelado cerca nosso planeta e quase não percebemos mais isso. As estrelas só despertam nossa atenção quando viajamos para o interior e ficamos longe das luzes e da poluição das grandes cidades.

As viagens dos astronautas já viraram rotina e só merecem manchete dos jornais quando acontece algum acidente grave. Elas podem ser vitais para a sobrevivência da humanidade no terceiro milênio. Como os astronautas vão ao banheiro? 

O avião e a nave espacial são invenções muito recentes. O primeiro voo de um avião ainda não completou cem anos. A astronáutica, como é chamada a ciência das viagens espaciais, é ainda mais jovem. Em 4 de outubro de 1957 o primeiro satélite entrou em órbita. O primeiro astronauta, o russo Yuri Gagarin, completou sua missão pioneira em 12 de abril de 1961, e a primeira mulher cosmonauta subiu ao espaço dois anos depois. Foi a russa Valentina Tereskhova, que deu várias voltas em torno do mundo dentro de uma cápsula Vostok, em junho de 1963. Em 1969, os astronautas americanos Armstrong e Aldrin desciam na Lua pela primeira vez. Acidentes como o que destruiu a nave Challenger em 1986, e a Columbia em 1° de fevereiro de 2003 interromperam os vôos por um ou dois anos , até que a causa do acidente fosse descoberta e contornada. Aviões caem, mas ninguém deixa de voar por causa disso. Nosso futuro está nas estrelas.

Os primeiros astronautas foram ao espaço em pequenas cápsulas, lançadas na ponta de foguetes militares. As viagens eram tão curtas que as naves nem tinham banheiro.

No livro Os Eleitos, o escritor Tom Wolfe conta que o primeiro astronauta americano, tenente-comandante Allan Shepard, não agüentou e urinou dentro de sua roupa pressurizada, enquanto esperava para ser lançado. O vôo de sua cápsula Mercury devia durar apenas 15 minutos, mas o lançamento atrasou devido a problemas técnicos. Shepard passou quatro horas fechado dentro de um escafandro prateado, encolhido no interior da nave Mercury, que media apenas dois metros de comprimento por 1,80m de largura.

HIGIENE ESPACIAL
Os primeiros dispositivos sanitários espaciais surgiram com as cápsulas Gemini. Elas levavam dois astronautas para viagens de duas semanas no espaço, na década de 60. Na Gemini, os astronautas urinavam dentro de garrafas plásticas e faziam sua higiene com toalhas molhadas. O vaso sanitário não passava de uma garrafa plástica. O astronauta James Lovell reclamou do fedor dentro do Gemini 7, depois de um voo de 14 dias.

Uma parte da urina era jogada no espaço e congelava, formando uma nuvem de cristais brilhantes que os astronautas chamavam de constelação do Urion.

Durante as viagens do projeto Apollo, em direção à Lua, a situação não era melhor. Enquanto passeavam pela superfície lunar os astronautas usavam fraldas plásticas, como bebês, por dentro de sua roupa espacial.

As primeiras naves com instalações sanitárias decentes foram as Salyuts russas e a Skylab americana. A Skylap era um apartamento espacial de três cômodos, montado dentro de um foguete Saturno 5. Skylap entrou em órbita em 1973, seu banheiro tinha um chuveiro, montado dentro de um cilindro de plástico flexível. Como não havia gravidade, as gotas de água flutuavam, colando-se ao corpo do astronauta. Com uma ducha o astronauta se olhava e depois usava um aspirador especial para sugar a espuma do sabonete e a água suja. Um chuveiro desse tipo é usado atualmente na Estação Espacial Internacional (ISS).

O vaso sanitário era ligado a sacos plásticos contendo germicida. A urina e os dejetos sólidos eram guardados nos plásticos para posterior exame por médicos na Terra. 

A situação melhorou um pouco com os ônibus espaciais em 1982. O onibus espacial foi a primeira nave a levar tripulações de homens e mulheres, o que obrigou os engenheiros espaciais a criarem instalações sanitárias unissex e mais confortáveis. O banheiro foi instalado dentro de um cubículo para garantir privacidade. No vaso sanitário do ônibus espacial uma corrente de ar substitui a água. A urina e os dejetos são aspirados para dentro de um compartimento lacrado e exposto ao vácuo do espaço. O vácuo evapora os líquidos e o que resta é trazido para a Terra para não sujar o ambiente espacial (Será mesmo que não largam o coco no espaço?). Infelizmente, o ônibus espacial não tem chuveiros dentro de casulos plásticos, como a Mir e a Skylab. Como na Gemini de trinta anos atrás, os tripulantes continuam a se limpar com tolhas umedecidas. Os astronautas esperam que a nave se acople com a Estação Espacial Internacional (ISS). Nela há chuveiros e banheiros mais sofisticados.

CULINÁRIA ESPACIAL
Nas primeiras missões espaciais, os tripulantes das cápsulas russas Vostok e das Mercury americanas comiam alimentos em forma de pastas, acondicionados em tubos semelhantes aos de creme dental. Essas pastas tinham gosto de frutas e eram espremidas dentro da boca. O objetivo era fornecer um alimento de fácil digestão e que não produzisse muitos resíduos sólidos. 

Os astronautas detestavam a comida em pasta e logo se rebelaram contra ela. No voo da Gemini 3, em 23 de março de 1965, o co-piloto John Young escondeu um sanduíche de carne dentro de sua roupa espacial. Assim que a cápsula entrou em órbita, o comandante da missão, o astronauta Virgil Ivan Grisson, apoderou-se do sanduíche e comeu, para desespero dos cientistas, que desejavam que a tripulação fizesse jejum. O voo durou apenas quatro hoas e 53 minutos  mas inaugurou uma nova era da culinária espacial. 

Nas viagens da Gemini e Apollo os astronautas seguiam uma dieta ditada por três necessidades básicas: A comida precisava ocupar pouco espaço, para não abarrotar as pequenas cápsulas; ser pré-cozida, já que não havia fogões; a acondicionada de modo a não soltar migalhas e glóbulos que ficassem flutuando dentro das cabines. Os alimentos eram submetidos a um processo de desidratação e congelamento. Afinal 9/10 do peso das verduras e 4/5 do peso da carne e do peixe são simplesmente água. O processo reduzia o alimento numa série de tabletes de um pó marrom, como aquelas sopas pré-preparadas dos supermercados. Tudo era acondicionado em sacos plásticos transparentes, os astronautas usavam uma pistola para injetar água morna no saco, transformando o pó numa sopa espessa tomada com canudinho. 

A comida em sopa foi o cardápio predominante durante todas as missões à Lua do projeto Apollo. A situação só melhorou na década de 70, com as naves espaciais Salyut e Skylab. Na Skylab, os americanos puderam comer bife, vitela, bacon, ovos, legumes e até lagosta. Tudo acondicionado dentro de latas lacradas. Não tinha forno, por isso os alimentos eram pré-cozidos e congelados na Terra. Antes de comer a lata era colocada numa resistência elétrica que aquecia o alimento para ser consumido. Infelizmente a ausência de de gravidade deixa os astronautas com o nariz congestionado e sem paladar. Eles se queixavam de que a comida não tinha sabor e solocavam muito sal em tudo. 

A grande inovação culinária na década de 80, veio com os ônibus espaciais americanos que continham um forno. A dieta das tripulações americanas incluíam salsichas, ovos mexidos, sopas de cogumelo, camarões, brócolis e bifes. Tudo ainda é pré-preparado e desidratado na Terra para ocupar pouco espaço. Acondicionado em latas e recipientes plásticos, os astronautas injetavam água nos recipientes com uma agulha e esquentavam no forno. De sobremesa ele podiam escolher morangos, pudins (que não precisavam ser desidratados para ir ao espaço), ou doces. Para o lanche: sanduíche de queijo com presunto e suco de laranja.

Cada astronauta come o que prefere. George Nelson comia ovos mexidos com um apimentado tempero mexicano. O piloto da Discovery, Richard Covey, preferiu comer camarão à creole bife com molho à campanha, enquanto o comandante da nave, Frederick Hauck, escolhia uma dieta mais leve: geléia e manteiga de amendoim no desjejum e almôndegas no jantar. John Lounge, um dos especialistas encarregados de lançar o satélite TDRS, revelou-se louco por pudins e atacou a dispensa, acabando com o estoque de pudins de chocolate, caramelo e baunilha. Mas ao todo o que os astronautas mais consumiram foi o café preto.

Os franceses levaram a sofisticação de sua culinária para o espaço. Durante a estada do astronauta Jean-Loup Chrétien na Mir, em novembro de 1988, enviaram um cardápio que incluía coelho com passas, pombo com tâmaras, pato com alcachofra e repolho recheado com passas e tâmaras. Tudo preparado pela empresa Comtesse du Barry, confeccionados sob a direção dos chefs Pierre Roudge e Lucien Vanel.

(Fragmentos retirados do livro "Como os astronautas vão ao banheiro? E outras questões perdidas no espaço" de Jorge Luiz Calife, 2003)

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