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sábado, 17 de janeiro de 2015
domingo, 5 de outubro de 2014
TUDO AQUILO QUE EU NÃO DISSE
Arregalar não é ver. Como consequência natural das leis da óptica, todos os telescópios astronômicos produzem uma imagem de cabeça para baixo e invertida, da esquerda para a direita. Para reproduzir a visão habitual, como acontece com os binóculos e miras terrestres, uma lente, extra, introduzida na ocular põe a imagem na posição correta. Essa lente encarece o instrumento e absorve alguma luz. Para fins astronômicos ela é dispensada por ser totalmente desnecessária. É por isso que muitas imagens astronômicas aparecem com a indicação "sul" no alto. Você não entendeu nada ao ver a minha indicação escrita a caneta por cima da testa. Esfregou-a evitando olhar para meus olhos, que se contorciam , desnorteados pela rapidez do seu gesto. Você arregala porque não quer ver.
domingo, 28 de setembro de 2014
quarta-feira, 25 de junho de 2014
shhhhh!!!
Planeta terra chamando. Grita o despertador, o sino da igreja, três tons acima o metrô, desafinado e monopolizante o ônibus velho, alguns elevadores, todas as maquinas de lavar, celulares que ainda silenciados vibram estridentes durante peças de teatro e cenas fortes do cinema como se já não bastassem o ranger das pipocas. Ensurdecedor? Antes algo fosse. Qualquer coisa eu comprava, qual fosse o preço da abençoada, quase santa surdez. Se algum planeta tentasse se comunicar conosco, se é que já não tentaram, evidentemente não escutariamos o chamado. A tecnologia corre a passos largos; multiplica pães, transforma água em coca-cola, inventa até gente, mas não se dedica, minimamente, a silenciar. Silêncio é perigoso, faz pensar. Por alguma teoria da conspiração o barulho e os guarda-chuvas permamecem intocáveis. Planeta terra chamando! É essa a mensagem subliminar interplanetária. "Mantenha os pés no chão e nao reflita sobre isso!" grita o progresso.
" meu ouvido é pinico!" respondemos como um coro de criancinhas em uma daquelas brincadeiras infantis que envolviam batatas fritas, galinhas e pintinhos que a essa altura com certeza ja foram transformados em nugget.
Talvez por isso tenha escolhido às bibliotecas. "shhhhhh!" Essa é a regra número 1. Logo o silêncio é preenchido com letras e de repente todas as palavras são possíveis tal como tudo o que puderem formar a reboque. Os pés podem estar nas paredes, nas nuvens, no amarelo, no vácuo, menos em cima da mesa, que consiste na regra numero dois. Qualquer chamado pode ser ouvido. Diálogos com marte ou com o Olímpo são travados pelo mesmo terráqueo em questão de segundos. E o melhor: em silêncio. um mundo sem guarda-chuvas apenas por lá é possível. Acredite!
" meu ouvido é pinico!" respondemos como um coro de criancinhas em uma daquelas brincadeiras infantis que envolviam batatas fritas, galinhas e pintinhos que a essa altura com certeza ja foram transformados em nugget.
Talvez por isso tenha escolhido às bibliotecas. "shhhhhh!" Essa é a regra número 1. Logo o silêncio é preenchido com letras e de repente todas as palavras são possíveis tal como tudo o que puderem formar a reboque. Os pés podem estar nas paredes, nas nuvens, no amarelo, no vácuo, menos em cima da mesa, que consiste na regra numero dois. Qualquer chamado pode ser ouvido. Diálogos com marte ou com o Olímpo são travados pelo mesmo terráqueo em questão de segundos. E o melhor: em silêncio. um mundo sem guarda-chuvas apenas por lá é possível. Acredite!
sexta-feira, 6 de junho de 2014
"Mistérios Insondáveis" de Alcione Araújo
O poder da razão nos enche de genuíno orgulho. É extraordinária a capacidade humana para compreender o mundo em que vivemos - da minúscula intimidade da matéria aos espaços infinitos do cosmo, da inteligência artificial ao uso das células-tronco. É tamanha a empolgação com a capacidade de compreender as miraculosas elaborações da razão que, às vezes, somos instilados a crer que não há limites para o conhecimento - o que, de fato, parece não existir - e nós alçamos a extremos nos quais a soberba ultrapassa a própria razão.
Inflados pela onipotência, passamos a viver como senhores da natureza e deuses da razão. Nesses momentos, humildade deixa de ser apenas uma virtude e passa a ser uma necessidade - até para ajustar pesos e contrapesos e restaurar o equilíbrio.
A despeito das fantásticas conquistas da ciência, a espécia humana convive com mistérios tão insondáveis quanto essenciais à vida. É quase alarmante que a vida siga seu curso sem que possamos balbuciar qualquer verdade sobre questões que nos acompanham do nascimento à morte.
O nascimento, para começar é um mistério. Nada sabemos como e quando a vida se instala. Além do absurdo acaso implícito num determinado espermatozoide, entre milhões, fecundar o ovo e resultar num ser e não noutro, inteiramente distinto - o que nos define como um acaso da natureza, ao qual se junta o aleatório da programação celular detectado pela biologia genética. Somos, enfim, um acaso do acaso. Ademais, quase todo o saber clínico sobre o nascimento apoia-se em estatísticas e estudos de caso - não no conhecimento do momento decisivo onde tudo começa. Vivemos no mistério do nosso surgimento.
Noutro extremo, a morte - sabemos o que leva ao colapso de órgãos e sistemas, mas nada sabemos sobre o que ocorre após o repouso cerebral - instala-se nos inescrutável domínio da fé. No âmbito do conhecimento, é puro mistério. Sabemos que a vida, tudo o que somos e deixamos de ser, se dá entre o nascimento e a morte, nossos limites. E nada sabemos sobre os próprios extremos determinantes da vida entre si.
Mencionei a seara inescrutável da fé - eis outro mistério. Sabemos que muitas pessoas têm fé - vários tipos, em vários revelações -, mas não sabemos dizer o que seria a fé. Santo Agostinho, que a chamava de esperança, considerava-a um privilégio - ou seja, não é para todos! E reiterava essa ideia como quase um paradoxo. Dizia o santo das Confissões que quem entendeu Deus está longe da verdade, porque Deus não é acessível pela razão. Que mistério a fé! Sem ironia, para ter fé é preciso crer, antes, na fé - que não se dispõe ao entendimento.
Mais prosaico e rotineiro, porém não menos misterioso e intrigante, é o sonho. Desde as remotas civilizações nos primórdios da espécie que o homem quer entender os sonhos. O Talmude, o Corão e a Bíblia estão repletos de interpretações dos sonhos. No início do século XX, Freud, com A interpretação dos sonhos, lançou alicerces da teoria da subjetividade. Mas é uma interpretação entre outras. Dormimos todas as noites com o desconhecido sonho.
E o que sabemos do amor? Como surge, de que se constitui? Sabemos que são complexos impulsos subjetivos, vindos de recônditos obscuros, mas não conseguimos defini-lo. Pode-se se escolher, com critérios da razão, um marido, uma esposa, pode-se criar parcerias e conveniência e pode-se acomodar afinidades, mas não pode escolher a quem se ama. O amor brota por si e como um mistério.
Há outros, muitos outros, mistérios que nos cercam. Lembro só mais um, com o qual convivo dia e noite: a arte. Para o que é a arte, de que se constitui e a que serve, não há respostas conclusivas, todas giram em torno de conceitos - talvez pela falta de uma teoria geral da emoção, outro mistério! Por lidar com a criação, a arte propõe paradoxos, que não respondem, mas nos distraem do seu próprio mistério, como o de Jean Cocteau: "A arte é indispensável, se ao menos soubéssemos para quê."
(Crônica escrita por Alcione Araújo para o jornal Estado de Minas, retirada do livro "Cala a boca e me beija")
Inflados pela onipotência, passamos a viver como senhores da natureza e deuses da razão. Nesses momentos, humildade deixa de ser apenas uma virtude e passa a ser uma necessidade - até para ajustar pesos e contrapesos e restaurar o equilíbrio.
A despeito das fantásticas conquistas da ciência, a espécia humana convive com mistérios tão insondáveis quanto essenciais à vida. É quase alarmante que a vida siga seu curso sem que possamos balbuciar qualquer verdade sobre questões que nos acompanham do nascimento à morte.
O nascimento, para começar é um mistério. Nada sabemos como e quando a vida se instala. Além do absurdo acaso implícito num determinado espermatozoide, entre milhões, fecundar o ovo e resultar num ser e não noutro, inteiramente distinto - o que nos define como um acaso da natureza, ao qual se junta o aleatório da programação celular detectado pela biologia genética. Somos, enfim, um acaso do acaso. Ademais, quase todo o saber clínico sobre o nascimento apoia-se em estatísticas e estudos de caso - não no conhecimento do momento decisivo onde tudo começa. Vivemos no mistério do nosso surgimento.
Noutro extremo, a morte - sabemos o que leva ao colapso de órgãos e sistemas, mas nada sabemos sobre o que ocorre após o repouso cerebral - instala-se nos inescrutável domínio da fé. No âmbito do conhecimento, é puro mistério. Sabemos que a vida, tudo o que somos e deixamos de ser, se dá entre o nascimento e a morte, nossos limites. E nada sabemos sobre os próprios extremos determinantes da vida entre si.
Mencionei a seara inescrutável da fé - eis outro mistério. Sabemos que muitas pessoas têm fé - vários tipos, em vários revelações -, mas não sabemos dizer o que seria a fé. Santo Agostinho, que a chamava de esperança, considerava-a um privilégio - ou seja, não é para todos! E reiterava essa ideia como quase um paradoxo. Dizia o santo das Confissões que quem entendeu Deus está longe da verdade, porque Deus não é acessível pela razão. Que mistério a fé! Sem ironia, para ter fé é preciso crer, antes, na fé - que não se dispõe ao entendimento.
Mais prosaico e rotineiro, porém não menos misterioso e intrigante, é o sonho. Desde as remotas civilizações nos primórdios da espécie que o homem quer entender os sonhos. O Talmude, o Corão e a Bíblia estão repletos de interpretações dos sonhos. No início do século XX, Freud, com A interpretação dos sonhos, lançou alicerces da teoria da subjetividade. Mas é uma interpretação entre outras. Dormimos todas as noites com o desconhecido sonho.
E o que sabemos do amor? Como surge, de que se constitui? Sabemos que são complexos impulsos subjetivos, vindos de recônditos obscuros, mas não conseguimos defini-lo. Pode-se se escolher, com critérios da razão, um marido, uma esposa, pode-se criar parcerias e conveniência e pode-se acomodar afinidades, mas não pode escolher a quem se ama. O amor brota por si e como um mistério.
Há outros, muitos outros, mistérios que nos cercam. Lembro só mais um, com o qual convivo dia e noite: a arte. Para o que é a arte, de que se constitui e a que serve, não há respostas conclusivas, todas giram em torno de conceitos - talvez pela falta de uma teoria geral da emoção, outro mistério! Por lidar com a criação, a arte propõe paradoxos, que não respondem, mas nos distraem do seu próprio mistério, como o de Jean Cocteau: "A arte é indispensável, se ao menos soubéssemos para quê."
(Crônica escrita por Alcione Araújo para o jornal Estado de Minas, retirada do livro "Cala a boca e me beija")
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Da descoberta que a Terra gira em torno do Sol até o convívio com OVINIs
O teatro é uma arte que se utiliza da homem para falar dele mesmo. Uma metáfora do ser humano. De todas as artes talvez a mais humanista. A perspectiva sensível do homem sobre o mundo é a matéria-prima que imprime uma simplicidade essencial: a figura do ator (há quem discorde). É um pouco contraditório partir do universo como tema central da construção de uma peça, tema tão factual e amplo (o maior de todos), acreditando estar no homem a essência do teatro. É da curiosidade pela descoberta, ou da capacidade de inventar que este projeto surge. Existe um começo do universo? O que aconteceu antes dele? De onde ele surge e para onde ele vai? Qual é a natureza do tempo? Chegará ele a um fim? Desde o princípio o homem busca estas e outras respostas percorrendo um longo caminho de certezas provisórias, mentiras prazerosas, políticas de poder, fé, desenvolvimento científico e técnico... Enfim, toda teoria é crível até que se descubra o contrário. O que importa não é a verdade universal mas todas as mentiras sinceras que explicam nossa necessidade de compreender o universo. Quando Galileu prova que a Terra gira em torno do Sol e colabora com a criação da Física Moderna, ele quebra com a crença no Modelo Ptolomaico que persistia desde a Grécia Antiga. Acima de tudo, quando Galileu consegue comprovar através da observação, o modelo de Copérnico, e se livrar das esferas celestes e religiosas de Ptolomeu considerando o infinito, ele oferece ao homem a autonomia da descoberta, dando credibilidade ao seu modo de "olhar" o universo. No Renascimento surgem a figura do artista e as academias que diluem as fronteiras entre ciência e arte. A criação da perspectiva linear possibilita a reprodução da ideia de imitação da natureza, presente na Cultura Clássica. O espaço é uma experiência. A perspectiva é um pensamento sobre o espaço, e surge a partir da matemática: Uma forma de representação da realidade exterior; A representação do visível a partir de um ponto de vista individual e fixo; A produção de uma ilusão de profundidade. No momento que o homem se percebe perdido no espaço muito maior que o esperado, ele investe na sua própria inteligência, complexidade e solidão. No espaço infinito qualquer ponto pode ser considerado o centro. Leonardo da Vinci busca no "Homem Vitruviano" a relação de perfeição do corpo do ser humano com a grandiosidade do universo. O que vamos buscar? A relação desse tema com nosso dia-a-dia, dos pequenos acontecimentos às grandes coincidências. Vamos investigar, criar, inventar... As grandes teorias de conspirações envolvendo OVINIs; a aleatoriedade do horóscopo; a lua como assunto para se aproximar de alguém; ônibus espaciais; novas experiências com tempo/espaço; o nascimento de uma estrela; viagem no tempo; universos paralelos; realidade virtual; nebulosas... As associações mais humanas e sensíveis que pudermos fazer com o tema.
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quarta-feira, 4 de junho de 2014
Homem Vitruviano
O pintor italiano Leonardo da Vinci (1452 – 1519) é tido como uma das mais importantes figuras do Alto Renascimento. Embora tenha sido conhecido principalmente como pintor, era também cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Dentre os desenhos deixados por Leonardo, o Homem Vitruviano (ou o Homem de Vitrúvio)tornou-se um ícone cultural. Trata-se de um desenho encontrado em seus diários, feito por volta de 1490, que mostra o traçado e as proporções entre as diversas partes do corpo humano. Durante o Renascimento, muitos artistas, arquitetos e tratadistas puseram-se a interpretar os textos vitruvianos, para fazer novas representações gráficas, mas nenhum deles conseguiu combinar de forma harmoniosa e matemática as proporcionalidades do corpo humano e a solução da quadratura do círculo, conforme propunha Vitruvius. Dentre os desenhos que foram feitos, o de Leonardo da Vinci tornou-se o mais famoso e o mais difundido.
Duas diferentes posturas, formadas pela combinação das posições dos braços e das pernas. A figura humana com braços e pernas em cruz está contida dentro do quadrado. Enquanto aquela com braços e pernas abertos está contida no círculo. A postura em cruz delimita os lados do quadrado, enquanto que a postura com pernas e braços abertos delimita o círculo. A área das duas figuras geométricas é igual. O umbigo da figura humana é o seu real centro de gravidade que continua imóvel, embora pareça se mover. Examinando o desenho como um todo, pode-se notar que a combinação das posições dos braços e das pernas forma quatro posturas diferentes: braços e pernas em cruz, braços e pernas abertos, braços em cruz e pernas abertas, braços abertos (para o alto) e pernas unidas.
A razão de tê-lo chamado de Homem Vitruviano baseia-se no fato de que o arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio (I a. C.) apresenta no seu tratado sobre arquitetura, composto por uma série de dez livros, uma descrição sobre as proporções do corpo humano, usando como unidade de medida o dedo, o palmo e o antebraço, o que o levou a acreditar que um homem com as pernas e os braços abertos encaixaria perfeitamente dentro de um quadrado e de um círculo – figuras geométricas perfeitas. E, se o corpo humano fosse representado ao mesmo tempo, dentro das duas figuras, o umbigo, centro gravitacional da figura humana, coincidiria com o centro das duas figuras geométricas.
Vitrúvio tanto fez a sua apresentação em forma textual, como através de desenhos. Mas, com o passar dos anos, a descrição gráfica se perdeu, enquanto a obra passou a ser copiada. O homem descrito por Vitrúvio apresenta-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas, segundo o ideal clássico de beleza. Ele já havia tentado encaixar as proporções do corpo humano dentro da figura de um quadrado e um círculo, mas suas tentativas foram falhas.
O desenho do Homem Vitruviano reafirma o grande interesse de Leonardo da Vinci pela arte e ciência. No conceito da Divina Proporção, tão procuradas nas obras do Renascimento, dá-se a busca e definição das partes corporais do ser humano.
Para a filosofia a figura mostra mais que as proporções perfeitas, pois está repleta de símbolos, a figura presente na obra está dentro de um círculo e de um quadrado que tem relação com a numerologia sagrada, o círculo como símbolo da divindade e o quadrado símbolo da manifestação na matéria a partir da divindade.
A figura humana está totalmente integrada à estas figuras geométricas, demonstrando a relação do homem com o universo, o macrocosmo aqui como o universo e o microcosmo como o homem totalmente integrados.
A figura na posição de braços abertos longitudinais ao corpo formam uma cruz latina, símbolo da verticalização do homem em busca do sagrado com um trabalho na matéria (horizontal).
Desta maneira o Homem Vitruviano é um pentagrama, que é um símbolo estelar de cinco pontas representando o homem e sua relação também com os quatro elementos (terra, água, ar e fogo) que por sua vez tem relação com os quatro corpos da Personalidade e a cabeça como o elemento racional da Tríade que traz o poder de discernimento adquirido pela obtenção de conhecimento.
Marcus Vitruvius Pollio descreve no terceiro livro de sua série de dez livros intitulados De Architectura as proporções do corpo humano masculino. Eis algumas:
- O comprimento dos braços abertos de um homem (envergadura dos braços) é igual à sua altura.
- A distância entre a linha de cabelo na testa e o fundo do queixo é um décimo da altura de um homem.
- A distância entre o topo da cabeça e o fundo do queixo é um oitavo da altura de um homem.
- A distância entre o fundo do pescoço e a linha de cabelo na testa é um sexto da altura de um homem.
- O comprimento máximo nos ombros é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre a o meio do peito e o topo da cabeça é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre o cotovelo e a ponta da mão é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre o cotovelo e a axila é um oitavo da altura de um homem.
- O comprimento da mão é um décimo da altura de um homem.
- A distância entre o fundo do queixo e o nariz é um terço do comprimento do rosto.
- A distância entre a linha de cabelo na testa e as sobrancelhas é um terço do comprimento do rosto.
- O comprimento da orelha é um terço do da face.
- O comprimento do pé é um sexto da altura.
- Face -> do queixo ao topo da testa = 1/10 da altura do corpo.
- Palma da mão -> do pulso ao topo do dedo médio = 1/10 da altura do corpo.
- Cabeça -> do queixo ao topo = 1/8 da altura do corpo.
- Base do pescoço às raízes do cabelo = 1/6 da altura do corpo.
- Meio do peito ao topo da cabeça = 1/4 da altura do corpo.
- Pé = 1/6 da altura do corpo.
- Largura do peito = 1/4 da altura do corpo.
- Largura da palma da mão = quatro dedos.
- Largura dos braços abertos = altura do corpo.
- Umbigo = centro exato do corpo.
- Base do queixo à base das narinas = 1/3 da face.
- Nariz -> da base às sobrancelhas = 1/3 da face.
- Orelha = 1/3 da face.
- Testa = 1/3 da face.
O teatro é humanista
Para entender o contexto em que Galileu vivia, e em que medida sua
descoberta aboliu um modelo de mundo que persistia à séculos, foi preciso
pesquisar a passagem histórica da Idade Média para a Idade Moderna.
Humanistas, foram a vanguarda da grande
transformação cultural chamada Renascimento. Quando nos referimos ao
Renascimento temos em mente, de maneira geral, o período que vai de meados do
século XIV até o final do século XVI. Ou seja, é um movimento histórico
relativamente breve que marca o início da chamada Idade Moderna e é
caracterizado pelo progresso técnico e científico, por maior conhecimento da
filosofia e da literatura antigas e maior amor pela beleza.
O termo Renascimento se refere ao retorno
ideal às formas da Antiguidade Clássica enquanto verdadeira fonte da beleza e
do saber. A idéia de Renascimento pertence à própria época e seus
protagonistas. Apesar do retorno ao passado clássico, o movimento conhecido por
esse nome nada possuía de nostálgico. Era, na verdade, portador de um acentuado
sentimento de superioridade em relação aos séculos precedentes,
acompanhado de atitude de substancial otimismo diante do presente e do futuro.
A idéia vinha acompanhada de “trazer à luz”, subtrair ao esquecimento a
grandiosidade da cultura do passado, sepultada pelas “trevas” da Idade Média. A
visão da Idade Média como um abismo cultural foi instaurada pelo Renascimento.
As pesquisas do último século desmistificaram a idéia de “Idade das Trevas” e
se dedicaram a identificar os inúmeros vínculos entre a Idade Média e o
Renascimento. Os resultados alcançados puderam demonstrar que ao longo dos
séculos, não propriamente de trevas, a tradição clássica não havia desaparecido
completamente. Em ruptura com a tradição medieval, as artes visuais procuraram
reencontrar as mais harmoniosas proporções do corpo humano e redescobrir em
tais medidas humanas a alma da arquitetura antiga, capaz de dar às novas
construções o ritmo musical recomendado por Platão.
O movimento humanista foi fundado na literatura. Francesco
Petrarca (1304-74) havia sido o primeiro a contrapor as imagens de trevas e
luz, ao confrontar o presente medieval cristão com o esplendor cultural do
passado clássico. Não obstante fosse problemática a identificação do passado
pagão com as “luzes” e da era cristã com as “trevas”, a ideia, cultivada por um
grupo de literatos, vingou. Ainda na primeira metade do século XIV, Giovanni
Boccaccio (1313-75), genial discípulo de Petrarca, utilizava o esquema “luz e
trevas” de análise em louvor da arte de Giotto. Para afirmar a evolução da
pintura em relação ao passado, o aspecto mais evidente era observar a
excelência com que esta se tornara capaz de imitar a natureza; no caso, a
natureza humana. O elogio de Boccaccio ao naturalismo de Giotto, além de
sobrepor a luz do presente às trevas do passado medieval, revelava uma
sensibilidade diferente em relação às imagens pictóricas e sua representação do
mundo visível. As palavras do poeta e precursor do Humanismo
indicavam a existência de um público interessado em formas mais complexas de
apreciação das artes a que o novo tipo de artista era chamado a satisfazer.
A imitação é um conceito crucial para todo o Renascimento, o ponto
de interseção por onde passam os diferentes elementos do projeto Renascimento.
O conceito portanto comporta uma vasta gama de significados, que absolutamente
não excluem a ideia de originalidade. Para a cultura do Humanismo, a imitação
era fundamento de um sistema moral e estético que tinha como referência os
valores da Antiguidade, suas virtudes públicas e suas grandes realizações. Em
oposição à imobilidade hierática das figuras da arte bizantina, os humanistas
estavam interessados na representação dos “afetos” – como eram designadas as
atitudes e expressões. Esse novo naturalismo era a essência da inovação
Renascentista e construía o principal desafio para a nova arte. A doutrina
estética do Renascimento se referia, por um lado, à imitação da natureza , à
imitação do real; por outro à imitação do modelo, imitação da Antiguidade
Clássica. Imitar não significava copiar, mas assimilar princípios; indicava
limites e oportunidades para a invenção. As obras produzidas não deviam ser
iguais, mas parecer com os modelos tal como o filho dos pais, segundo exemplo
da época.
Na primeira metade do Quatrocentos, o conceito de imitação
correspondia à reprodução o mais possível perfeita da realidade e estava ligado
a uma prática pictórica determinada a recriar a perfeita ilusão do visível. As
figuras de Masaccio na capela Brancacci, em Florença (1424-1425) são exemplos
da nova orientação. A anatomia e a perspectiva linear eram consideradas
diciplinas essenciais: à primeira era destinada à construção dos corpos
conforme a natureza; a segunda à construção do espaço. As regras da perspectiva
renascentista – inventadas em 1415 por Brunelleshi, possibilitam a criação do
espaço tridimensional sobre a superfície plana, resultando em uma imagem muito
semelhante à percepção que o olho humano possui da realidade espacial e dos
objetos nela colocados.
Depois dos primeiros tempos mais pragmáticos, dedicados às novidades da prática pictórica capaz de desenvolver a ilusão do real, a avaliação totalmente externa da beleza logo dará lugar a justificativas filosóficas. Aristóteles é considerado principal fonte para a interpretação da imitação como mímeses da natureza. Na Poética, a arte é espelho da natureza concebida como comportamento humano. O tratado De pictura (1433), de Alberti, texto fundamental para todas as formulações sobre arte dali em diante, já contemplava a idéia de eleição ao lado da de imitação, isto é, do livre-arbítrio do pintor, que, posto diante da natureza, podia não apenas retratá-la, mas eleger seus aspectos mais belos. A busca dessa "natureza ideal" era identificada pelos humanistas na frase de Aristóteles sobre a imitação: imitar a natureza não como era, mas como deveria ser.
O início do Renascimento havia sido marcado por certa dissolução das divisões rígidas da vida intelectual, fazendo com que a arte e a ciência compartilhassem um mesmo terreno. A geometria e a matemática estavam impregnadas por idéias filosóficas. A mateática possuia lugar de preeminência enquanto ciência singular, capaz de conduzir ao conhecimento abstrato das relações e das medidas, fazendo com que estas assumissem significados além do nível racional. Por meio da matemática, o espaço arquitetônico, por exemplo, prestava-se a analogias universais astrológicas e teológicas a que estavam sujeitos formas e números. Tais analogias punham em comunicação o macrocosmo e o microcosmo. O antigo simbolismo dos números e a harmonia numérica das esferas celestes remetiam aos preceitos pitagóricos retomados por Plotino e os neoplatônicos da Antiguidade. Tais ideias sobre o misticismo dos números - que nunca desapareceram totalmente - são redescobertas e desenvolvidas pelos filósofos do Renascimento com grande influência sobre as artes.
O processo de promoção social das artes se desenvolve em sintonia com a celebrada centralidade que a ideia de individuo teve para o Renascimento. O novo protagonismo adquirido pelo artista acompanha um processo de secularização da cultura no qual as realizações e os feitos terrenos dos homens passavam a ser altamente considerados e louvados. No decorrer do Quatrocentos, surgem diversos livros no gênero "homens ilustres" como o de Vilani, sobre os notáveis de Florença. O elogio do indivíduo e o culto da fama se estendem da literatura para a escultura, a pintura e a arquitetura.
(Fragmentos do texto “o projeto do renascimento” de Elisa Byington)
sexta-feira, 30 de maio de 2014
Tão obvio quanto a Terra girar em torno do Sol, ou tão ridículo quanto uma torre de tartarugas
Um famoso cientista - alguns dizem que foi Bertrand Russell - , fazendo uma conferência sobre astronomia, descreveu como a Terra gira em torno do Sol, por sua vez, gira em torno do centro de uma vasta coleção de estrelas chamada galáxia. No final da conferência, uma senhora baixinha e idosa levantou-se ao fundo da sala e falou:
- O que o senhor acaba de nos dizer é tolice. O mundo, na verdade, é um objeto achatado, apoiado nas costas de uma tartaruga gigante.
- O que o senhor acaba de nos dizer é tolice. O mundo, na verdade, é um objeto achatado, apoiado nas costas de uma tartaruga gigante.
O cientista sorriu com superioridade antes de replicar:
- E sobre o que se apoia a tartaruga?
- Você é muito esperto rapaz, muito esperto - disse a velhinha - mas existem tartarugas marinhas por toda extensão embaixo dela.
- E sobre o que se apoia a tartaruga?
- Você é muito esperto rapaz, muito esperto - disse a velhinha - mas existem tartarugas marinhas por toda extensão embaixo dela.
Muitas pessoas podem julgar esta imagem de nosso universo como uma torre infinita de tartarugas absolutamente ridículas, mas por que pensar que sabemos mais? O que sabemos sobre o universo e como sabemos? De onde surge e para onde ele vai? Existe um começo do universo e, se existe, o que aconteceria antes dele? Qual é a natureza do tempo? Recentes avanços da física, possíveis em parte pela fantástica tecnologia moderna, apontam caminhos para algumas dessas velhas questões. Algum dia, talvez, essas respostas possam ser tão obvias para nós quanto o fato de a Terra girar em torno do Sol; ou, tão ridículas quanto a imagem da torre de tartarugas.
(Retirado do livro "Uma Breve História do Tempo, do Bing Bang aos Buracos Negros" de Stephen W. Hawking)
quinta-feira, 29 de maio de 2014
História da Astronomia 1
(Síntese feita a partir dos
livros "Uma Breve História
do Tempo, do Bing Bang aos Buracos Negros", "O Universo numa Casca de
Noz" de Stephen W. Hawking, "Astronomia" de Jan
Ridpath e “Poeira das Estrelas” de Marcelo Gleiser)
A astronomia é chamada a mais
antiga das ciências. Desde a aurora da civilização o homem luta para entender os
complexos movimentos dos corpos celestes, e incontáveis monumentos e artifícios
refletem essa fascinação.
A gruta de Lascaux, na região dos
Pirineus, França, guarda em suas paredes desenhos feitos há 17 mil anos, de
animais que, segundo interpretações recentes, representam as constelações
visíveis no céu naquele momento. A gruta só é iluminada num único dia do ano, o
solstício de inverno, e foi descoberta por acaso em setembro de 1940, por
quatro adolescentes que exploravam a região.
Stonehenge, sítio arqueológico
localizado em Amesbury, interior da Inglaterra, é um dos primeiros instrumentos
astronômicos que se tem notícia, servindo para marcar o movimento do Sol ao
longo do ano. Os celtas que viviam na região há cerca de 3.500 anos,
construíram o monumento usando pedras de até 40 toneladas cada uma, trazidas de
uma pedreira situada a 30 quilômetros de distância. Como conseguiram até hoje
não se sabe exatamente.
Os egípcios adoravam o Sol como a
um deus. As pirâmides do Egito, erguidas por volta de 2.500 a.C, corporificam
alinhamentos astronomicamente significativos baseados no conhecimento do céu
(como é o caso de Quéops alinhada com a estrela polar).
TRADIÇÃO BABILÔNIA:
O verdadeiro berço da astronomia
foi o Oriente Médio. Várias civilizações antigas estudaram o céu e seus ciclos,
mas os babilônios alcançaram sofisticação (ajudados pelos sumérios que os
precederam na Mesopostâmia). Duas
pequenas tábuas de argila cozida produzidas por volta de 1.500 a.C pelos
habitantes do Iraque atual resumem informações sobre os movimentos das estrelas
e dos planetas. A tábua de Amizaduga detalha o movimento do planeta Vênus
durante 21 anos, prognosticando sucesso e desastre em guerras, variações
climáticas, períodos de fome assim como nascimento de reis, príncipes e nações.
A lista de estrelas e constelações que conheciam atesta uma antiga tradição de
observação celeste. Algumas constelações como Leão e Escorpião chegaram até nós
quase inalteradas. Os babilônios deram outra grande contribuição à astronomia:
mediram a duração do ano em 360 dias, dividiram o círculo do céu em 360 graus,
subdividiram cada grau em 60 partes e introduziram o dia de 24 horas, cada hora
dividida em 60 partes.
Para os babilônios os céus eram
divinos. Conhecer seus movimentos significava conhecer as intenções dos deuses.
Assim originou-se a astrologia babilônica, que tentava relacionar o movimento e
as posições dos objetos celestes com premonições e agouros.
(Na metade do século 19 foi descoberta no palácio de Ninawa, no Iraque, uma pequena tábua de pedra cuneiforme, que após uma análise mais detalhada na época foi concluído que tratava-se de um planisfério, ou seja, um objeto com anotações feitas a milhares de anos por um astrônomo sobre o posicionamento de alguns corpos celestes.)
A VISÃO GREGA:
O conhecimento da astronomia
babilônia chegou à Grécia cerca de 600 a.C. Os babilônios interessavam-se
sobretudo por adivinhar augúrios celestes - o que chamaríamos de astrologia -,
mas o gregos procuravam compreender os princípios físicos segundo os quais o
universo funcionava, começando a separar a ciência da superstição.
Influenciados pelo conhecimento matemático e astronômico dos babilônios e dos
egípcios, os gregos começaram a refletir sobre a natureza, a origem do mundo e
os fenômenos naturais usando a razão, e não a religião, como ferramenta de
descoberta. Nasceu assim a filosofia natural, o método que utiliza argumentos
racionais para descrever fenômenos da natureza.
Tudo indica que o primeiro
filósofo foi Tales, que viveu por volta de 600 a.C, na cidade de Mileto, hoje
parte da costa oeste da Turquia. Figura lendária, pouco sabemos dele.
Infelizmente, como ocorreu com a maioria dos chamados filósofos pré-socráticos,
nada restou dos seus escritos. Tales teria previsto um eclipse solar que interrompeu
uma guerra: verdade ou não, a história mostra que ele tinha fama de conhecer
bem astronomia. A importância filosófica de Tales é atribuída ao fato de ter
sido ele o primeiro a se questionar sobre a natureza material das coisas. Mais
precisamente, foi o primeiro a perguntar do que tudo é feito, qual a composição
da matéria. Essa é uma pergunta essencialmente científica, já que procura
encontrar uma explicação material para o mundo.
Por volta de 570 a.C nasceu outro
grande pioneiro da filosofia, Pitágoras. Para Pitágoras a matemática
representava a linguagem da natureza, a ponte entre a razão humana e os
segredos do mundo natural. A função do filósofo era estudar as relações entre
os números e as formas, desvendando a estrutura racional do cosmo.
Demócrito (400 a.C) juntamente
com Leucipo, é considerado o criador da doutrina atomista. Segundo os
atomistas, tudo no cosmo é feito de pequenas partículas indivisíveis chamadas
átomos – o que não pode ser cortado. Esses átomos, infinitos em número, podiam
combinar-se para dar origem às várias formas e aos vários fenômenos que
observamos no mundo natural. Mesmo que os átomos da ciência moderna sejam bem
diferentes daqueles dos atomistas (podem ser divididos e não são infinitos em
número), a idéia de que a matéria é composta de pequenos tijolos fundamentais
permanece viva até hoje.
Sócrates, por sua vez, rebelou-se
contra o pensamento materialista de alguns de seus antecessores, preocupando-se
mais com questões morais e legais, a filosofia dos homens e sua organização
social. Porém um de seus discípulos, Platão, voltou a refletir sobre questões
metafísicas, incluindo a natureza da realidade. Segundo ele, a realidade podia
ser dividida em duas partes: a das idéias, a realidade mental e a dos sentidos,
a realidade sensorial. Platão era um grande admirador da razão humana e da
nossa capacidade de descrever a realidade em termos matemáticos. Acreditava que
o cosmo era produto de uma divindade inteligente que chamou de Demiurgo, um
profundo conhecedor da geometria. Já a realidade sensorial era suspeita,
traiçoeira. Platão postulou que o cosmo, sendo produto de uma mente superior,
devia refletir em sua estrutura as proporções ideais da geometria. Portanto,
como já haviam postulado os pitagóricos, a Terra, a Lua, e Sol eram esféricos,
dado que a esfera é a forma mais perfeita. Pela mesma razão, as órbitas
celestes só podiam ser circulares.
Eudóxio, um astrônomo grego do século IV a.C,
desenvolveu um sistema de 27 esferas cristalinas, aninhadas umas dentro das
outras girando em torno de diferentes eixos e velocidades, que deslocavam os
corpos celestes ao redor de uma Terra esférica.
As idéias de Platão sobre a forma
dos astros e suas órbitas foram herdadas por seu discípulo Aristóteles.
Aristóteles acreditava que a Terra era estática e que o Sol, a Lua, os planetas
e as estrelas giravam em órbitas circulares à sua volta. Acreditava nisso por
razões místicas que a Terra fosse o centro do universo e a órbita circulara
mais perfeita. Como a maioria dos filósofos gregos, Aristóteles não concordava
com a idéia de criação porque ela contém muitos indícios da intervenção divina.
Acreditava que o mundo e a raça humana sempre tenham existido. Afirmava que os
dilúvios periódicos, e outros desastres devolviam os humanos aos princípios da
civilização. Em seu livro "Sobre o Firmamento" (340 a.C) evidenciou
três bons argumentos para sustentar a crença de que a Terra era uma esfera e
não um corpo achatado:
- Os eclipses da lua (Causados pelo posicionamento
da Terra ao se colocar entre o Sol e a Lua) - A sombra projetada na Lua era
sempre redonda. Se a Terra fosse um disco sua sombra seria alongada e elíptica,
a menos que o eclipse sempre ocorresse quando o sol estivesse diretamente sobre
o centro do disco.
- A estrela polar - Os gregos sabiam por suas
experiências em viagens, que a estrela polar parecia mais baixa no céu quando
vista do sul do que se observada de regiões mais ao norte. Uma vez que a
estrela fica sobre o pólo norte, um observador que aí se encontre, perceberá a
estrela sobre si, mas alguém no equador a observa exatamente na linha do
equador. Da diferença na posição aparente da estrela polar no Egito e na
Grecia, Aristóteles fez uma estimativa que a distancia em volta da Terra era de
400mil estádias (Não se conhece a medida exata de uma estádia, mas deve ser
próxima de 180m, o que tornaria a estimativa duas vezes maior que a atual
aceita).
- As velas dos navios - Observou que primeiro as
velas de um navio aparece no horizonte e só depois o casco.
Hiparco compilou o primeiro
catálogo preciso das estrelas visíveis a olho nu, no século II a.C. Além de medir
suas posições ele classificou a estrelas em seis categorias de brilho, criando
a escala de magnitude usada hoje.
No século II d.C, Ptolomeu
sintetizou o conhecimento astronômico grego na obra Almagesto (que
significa: o maior), contendo uma versão atualizada do catálogo de estrelas de
Hiparco usado até hoje, e formulou um modelo cosmológico completo adotado
pela religião e pela filosofia que dominou durante toda a Idade Média. A
Terra ficaria no centro, circundada por oito esferas: a Lua, o Sol, as estrelas,
Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. A esfera mais afastada seria das
estrelas, que manteriam sempre a mesma posição relativa entre si, girando
juntas através do céu. O que havia além da última esfera jamais ficou
esclarecido.
O modelo de Ptolomeu estabelecia
um sistema razoavelmente preciso, porém teve que pressupor que a Lua seguia uma
trajetória tal que em algumas épocas a levava duas vezes mais próxima da Terra
que em outras. Ptolomeu reconheceu essa falha. Apesar da falha o sistema foi
aceito no geral, adotado pela Igreja Católica como a imagem do universo
que correspondia às escrituras, porque garantia espaço fora da esfera das
estrelas, para o céu e o inferno.
(Figura: Andreas Cellarius, Harmonia Macrocosmica, Amsterdam, 1660. O modelo geocêntrico de Ptolomeu.)

ASTRONOMIA NO EXTREMO
ORIENTE:
Os chineses reconheciam 283
constelações, muitas pequenas e sem brilho. Os gregos viam no céu animais e
heróis mitológicos, e as constelações chinesas representavam cenas da corte e
da vida social. Os astrônomos do Extremo Oriente valorizavam fenômenos
inesperados chamados "estrelas visitantes", que hoje conhecemos como
cometas, novas e supernovas. Entre os eventos descritos estava a explosão de
uma supernova que deu origem à nebulosa de Caranguejo em 1054 d.C.
CONSTELAÇÕES ÁRABES:
Com o declínio da civilização
greco-romana, e a ascensão da Igreja Católica a partir do século III, o foco
intelectual havia mudado. Santo Agostinho, o grande teólogo cristão que viveu
por volta de 400 d.C, proclamou profano qualquer interesse nos afazeres da
natureza “Acima da tentação carnal (...) existe também a tentação da mente
(...) em busca de conhecimento e sabedoria”. A salvação eterna só seria
alcançada através da completa devoção a Deus e à religião. A curiosidade sobre
o mundo foi reprimida e, na Europa Medieval, praticamente esquecida. Quando os
árabes invadiram a Europa, levaram com eles os textos dos grandes filósofos
gregos. O centro da investigação astronômica transferiu-se para Bagdá, onde
foram traduzidos para o árabe escritos de Ptolomeu, Platão, Arquimedes,
Pitagorás.... Entre os séculos X e XIII
os obras gregas antigas foram reintroduzidas na Europa.
Pouco antes de 1000 d.C, o
astrônomo árabe Al-Sufi produziu uma versão revista do catálogo de estrelas de
Ptolomeu com o desenho de todas as constelações: O livro das estrelas
fixas.
O RENASCIMENTO DA ASTRONOMIA
OCIDENTAL:
Com a expansão das cidades, o poder e a afluência da
aristocracia aumentam. Pintores, escultores, músicos e astrólogos são
convidados a integrar várias cortes, dividindo com seus patronos suas criações
artísticas e especulações filosóficas. Os livros, antes copiados manualmente,
passam a ser impressos por máquinas, o que acelera sua produção e diminui seu
preço. No século XV, começam as explorações marítimas em busca de novas rotas
de acesso à Ásia, o “caminho das Índias”. O mundo cresce, os europeus são
expostos a “novas” (na verdade muito mais antigas) culturas, algumas julgadas
primitivas, como a costa leste das Américas, e outras sofisticadas, como a
China e a Índia. É também no século XV que a Igreja começa a perder sua
hegemonia. Na Alemanha, Martinho Lutero (1483-1546) propõe uma fé alternativa,
protestando contra a concentração de poder e a comercialização do cristianismo
pregado pelo Vaticano. É nesse clima de questionamento religioso, de
renascimento das artes e do espírito de exploração que cresce Nicolau
Copérnico, o polonês que irá pôr o Sol no centro do cosmo.
Nicolau Copérnico (um padre e
astrônomo polonês) propôs no séc.XVI um modelo mais simples em que o Sol fosse
o centro estático, em torno do qual a Terra e outros planetas se deslocavam em
órbitas circulares. Copérnico reviveu a teoria heliocêntrica proposta pelo
filósofo grego Aristarco de Samos (310-230 a. C.). Lutero zombou das
idéias de Copérnico, afirmando que um certo astrônomo queria virar a astronomia
do avesso, fazendo a Terra girar em torno do Sol como se fosse um carrossel.
Copérnico divulgou anonimamente por medo de ser considerado herege.
Copérnico também temia a critica de outros astrônomos, embora seu livro Sobre
as revoluções das esferas celestes (venderam-se tão poucos exemplares
que a obra foi apelidada de "o livro que ninguém leu") tenha sido
publicado em 1543, suas idéias já estavam formadas 1510. A história de
Copérnico termina de forma trágica. Adoentado, entrega o manuscrito de sua
grande obra a Rethicus, seu único discípulo. O jovem é incumbido de levar o
manuscrito a Nuremberg. Dedido a problemas pessoais (alguns historiadores
afirmam que Rethicus era homossexual e teve que fugir às pressas), a obra acaba
nas mãos de Andreas Osiander, um teólogo luterano contra as idéias de
Copérnico. Osiander adiciona ao livro um prefácio no qual afirma que as idéias
ali encontradas são mera ficção, apenas um modelo matemático, útil para
calcular a posição dos planetas, embora não correspondesse à realidade. O
detalhe perverso é que Osiander assina o prefácio em nome de Copérnico, como se
o próprio astrônomo considerasse o cosmo heliocêntrico uma abstração. Quase um
século se passou para a hipótese ser considerada com seriedade.
Curiosidade: Muito antes de Copérnico, outros
pensadores já haviam proposto modelos heliocêntricos do cosmo. Os primeiros
registros constam de manuscritos religiosos da antiga Índia, no século VII a.C.
Mas foi Ariabata, astrônomo e matemático hindu que viveu entre os anos 476 e
550 d.C, quem apresentou o modelo mais elaborado: além de propor que a Terra
girava em torno do Sol, disse ainda que a Terra girava em torno do próprio eixo
e que a luz da Lua era, na verdade, a luz do Sol refletida.
Johanner Kepler foi o primeiro a desmascarar
abertamente a trapaça literária de Osiander. Sabia que o astrônomo polonês
jamais teria escrito aquilo. Afinal, Copérnico havia dedicado seu livro ao papa
Paulo III, enfatizando sua opinião de que a bíblia não deveria ser usada para
descrever fenômenos celestes. Em 1593, teve aulas com o professor de astronomia
Michael Maestlin, um copernicano às escondidas que ensinava a alguns alunos as
idéias heliocêntricas do mestre polonês, enquanto publicamente passava por
aristotélico. Kepler foi profundamente influenciado pelas idéias copernicianas
de seu mestre. Para ele o Sol, e apenas
ele, poderia ser o centro do cosmo por motivos essencialmente religiosos. Do
Sol vem a luz que ilumina o cosmo, que dissipa as trevas da noite; do Sol vem o
calor que torna a vida possível. Kepler propõe uma analogia entre a Santíssima
Trindade e o cosmo: o pai é o Sol, no centro; o filho, a esfera das estrelas
fixas, nos confins do universo; e o espírito santo é a luz, a energia que flui
do pai ao filho. Em 1596 com 25 anos, publicou seu primeiro livro O mistério cosmográfico, onde defende
que o Sol não só era o centro do cosmo como também causava o movimento dos
planetas à sua volta. Kepler propôs uma interação entre o Sol e os planetas,
uma espécie de ressonância entre suas “almas”. No livro Kepler vai além. Não se
contentando em investigar a causa dos movimento planetários, propõe também uma
explicação para a distância entre cada uma dele e o Sol. Vê-se no título do
livro, uma preocupação com a “cosmografia”, uma preocupação com o arranjo
espacial do universo. Influenciado pelos pitagóricos, ele acreditava que a
geometria, e só ela, era capaz de explicar o arranjo do cosmos. Deus era a
inteligência suprema, e a geometria, a língua a língua com que Ele se
comunicava com a mente humana. Portanto cabia aos homens desvendar os mistérios
da natureza usando a geometria. A
ciência para Kepler, era um veículo de idolatria. Para explicar as distâncias,
usou os cinco sólidos platônicos, as cinco figuras mais regulares da geometria
tridimensional, e criou um arranjo em que cada planeta girava em uma esfera.
Kepler veio de uma família humilde e profundamente
problemática. A mãe, acusada de bruxaria, quase acabou seus dias queimada na
fogueira. O pai, um mercenário de reputação duvidosa acabou abandonando a
família após anos de abusos. Na vida adulta as coisas não melhoraram. No início
do século XVII, e Europa estava dividida pelas disputas religiosas entre católicos e protestantes. Kepler foi
vítima desses conflitos: era um luterano que servia as cortes católicas, vivia
sob constante perseguição. Kepler que na época trabalhava em Graz, na
Austrália, foi exilado pelos líderes católicos, que decretaram a conversão ou
expulsão de todos os líderes da cidade. Sem ter para onde ir, em 1600 foi
convidado ao castelo do nobre dinamarquês Tycho Brahe (o maior astrônomo da
época, matemático imperial da corte de Rodolfo II), nos arredores de Praga.
Tycho era o oposto de Kepler, cresceu como um
príncipe e viveu como tal. Contrariou a família, recusando-se a seguir a
carreira diplomática, encantado desde cedo com a astronomia. Com muito dinheiro
e muita paixão, construiu os maiores e maios precisos instrumentos astronômicos
que o mundo jamais vira, sextantes e quadrantes, pesando toneladas. Logo obteve
resultados que lhe conquistaram fama por toda a Europa. Em 1572, mostrou que
uma “nova estrela”, que surgiu na constelação de Cassiopéia e brilhou nos céus
durante meses, estava bem mais longe que a Lua. Em 1577, seguiu o movimento de
um cometa concluindo que se encontrava muito distante. O rei da Dinamarca ficou
tão impressionado com as descobertas de Tycho que lhe deu uma ilha inteira para
transformá-la num observatório astronômico. A personalidade tirânica de Tycho,
porém, causou-lhe problemas. Cristiano IV, o sucessor do reino da Dinamarca,
cortou-lhe o salário e tirou-lhe os direitos sobre a ilha. Tycho viu-se forçado
a procurar outro patrono. Foi então que se uniu a Rodolfo II em Praga. Em 1600,
mudou-se para o Castelo de Benatky onde Kepler foi ao seu encontro.
A relação entre Kepler e Tycho não poderia ter sido
mais tempestuosa. Kepler precisava dos dados de Tycho, estava convencido de que
com eles, demonstraria de uma vez por todas que seu arranjo cósmico estava
correto. Tycho por sua vez contava com o talento matemático de Kepler para
comprovar seu modelo cósmico. Por motivos religiosos, Tycho não gostava da
idéia de ter o Sol como centro. Conservador na leitura da Bíblia, não encontrou
menção que a Terra se movia. Propôs um modelo segundo o qual a Terra
permaneceria no centro, o Sol girava à sua volta, e todos os planetas giravam
em torno do Sol.
Kepler não escondeu suas intenções e seu entusiasmo
pelas idéias de Copérnico, e Tycho furioso , recusou-se a fornecer-lhe dados,
resultado de décadas de estudo. Como concessão, cedeu-lhe apenas observações
relativas ao planeta Marte. Depois de nove anos Kepler publicou um livro sobre
sua órbita criando uma nova astronomia. No livro Astronomia nova Kepler chega a duas conclusões revolucionárias:
primeiro que as órbitas planetárias não eram círculos, mas elipses (o círculo
deixava de ser a figura geométrica mais importante da astronomia); em segundo
lugar demonstrou que sua conjectura sobre a interação entre o Sol e os planetas
estava correta. Em vez de “alma”, sugeriu que forças magnéticas causavam as
órbitas planetárias. Influenciado pelas idéias do inglês William Gilbert, que
havia demonstrado que a Terra era um gigantesco imã. Kepler abriu as portas
para um novo cosmo, onde os movimentos celestes obedecem a leis matemáticas
precisas e nada ocorre sem uma causa física.
Curiosidade: No dia 17 de outubro de 1604, Kepler
observou que uma estrela extremamente
brilhante havia aparecido na constelação de Ofiúco, na Via Láctea. Kepler
descreveu a observação em detalhes na obra De
Stella Nova in Pede Serpentarii. Ele não sabia, mas era uma supernova,
explosão resultante do colapso de uma estrela maciça. Mais tarde, em sua
homenagem, a estrela recebeu o nome de “supernova de Kepler”. Essa foi a última
explosão de supernova observada até hoje na Via Láctea.
GALILEU
GALILEI (1564-1642):
Ao mesmo tempo em que era criada uma
nova astronomia na Europa Central, na Itália, outro revolucionário contestava o
saber aristotélico, proclamando que não só no céu, mas também na Terra, uma
nova física era necessária. Na mesma época em que Kepler fugia de perseguições
religiosas de uma cidade a outra, a Igreja Católica enfrentava agressivamente o
desafio crescente dos protestantes com a Contra-Reforma, que visava fortalecer
novamente as bases. A ordem dos Jesuítas foi criada em 1540, com o intuito de
espalhar os ensinamentos da fé católica, mesmo que a custa de conversões
forçadas de judeus, muçulmanos e das populações nativas das colônias. A Sagrada
Inquisição zelava pelos interesses da Igreja. Exceções eram inaceitáveis:
aqueles que se opunham à Igreja sofriam conseqüências terríveis. Em 1600, o
monge beneditino e filósofo Giordano Bruno foi queimado em praça pública no
coração de Roma. Seu crime foi ter propagado os ensinamentos de Copérnico,
proclamando não só que o Sol ser o centro do cosmo, como também que existiam
infinitos outros sóis e planetas espalhados pelo espaço. Bruno recusou-se a
abjurar suas idéias e pagou com a vida.
Os
experimentos do jovem de vinte poucos anos, Galileu Galilei, na década de 80 do século XVI realizados na
Itália, ajudaram a fundar a física moderna. Ele deixou cair objetos de
diferentes pesos de uma torre alta e descobriu que todos chegavam no solo ao
mesmo tempo contrariando cientistas aristotélicos. Descobriu ainda que a
velocidade de um objeto em queda dobrava a cada 9,8m que caia - número
constante mais tarde conhecido como aceleração pela gravidade.
O
famoso conflito com a Igreja Católica se demonstrou fundamental para sua
filosofia; é dele a argumentação pioneira de que o homem pode ter expectativas
de compreensão do funcionamento do universo e que pode atingi-la através da
observação do mundo real.
Galileu
foi o grande pioneiro do que chamamos de “método científico”: hipóteses e
teorias sobre fenômenos naturais tem que ser comprovadas através de
experimentos ou, quando isso é impossível – como, por exemplo, da astronomia ou
da paleontologia -, através de observações e materiais analisados
cuidadosamente.
Acreditou
na teoria de Copérnico (de que os planetas giram em torno do Sol) desde o
começo, mas foi apenas quando encontrou a evidência necessária à sustentação da
hipótese que ele passou a defendê-la publicamente. A teoria Aristotélico-Ptolomaica foi destruída em
1609, no ano em que Galileu começou a observar o céu à noite, através de um
telescópio que acabara de ser inventado. Galileu recebeu um telescópio de
presente de um diplomata recém-chegado da Holanda, inventado um ano antes por um
especialista em ótica e lentes. Galileu construiu um telescópio mais potente,
usando lentes de qualidade superior que ele mesmo fez. Em Veneza, mostrou-o
para o Senado, tentando vendê-lo como instrumento militar. A invenção
rendeu-lhe uma cátedra permanente na Universidade de Pádua e salário dobrado. O
telescópio revelou-lhe coisas que nenhum homem jamais havia visto. Ao focalizar
o planeta Júpiter, Galileu descobriu que ele era acompanhado de vários pequenos
satélites, ou luas que giravam à sua volta. Isto implicava que nada precisava
necessariamente girar em torno da Terra. Observou que a superfície da Lua era
marcada por crateras e montanhas, vislumbrou os anéis de Saturno, embora não
tenha reconhecido o que era.
Em
1610, Galileu reuniu suas observações num livro, cujo título pode ser traduzido
do latim tanto como Mensagem das estrelas
quanto como Mensageiro das estrelas. Religioso,
queria também reeducar a Igreja, ajudá-la a reavaliar sua concepção do universo
ainda aristotélica e geocêntrica. Em 1613, publicou um livro sobre outra
descoberta que abalava a concepção aristotélica: as manchas solares. O Sol é
ocasionalmente coberto por algumas manchas negras, que se movem sobre sua
superfície e desaparecem após algum tempo.
Escreveu
os dois livros em italiano (não o Latim acadêmico costumeiro), e em pouco tempo
suas opiniões se tornaram amplamente difundidas além das universidades. O fato
contrariou os professores aristotélicos, que se uniram contra ele, tentando
persuadir a Igreja Católica a banir o copernicismo. Preocupado com isto, viajou
para Roma em dezembro de 1615, tentar convencer as autoridades eclesiásticas de
suas idéias. Argumentava que a Bíblia não pretendia se manifestar quanto a
teorias científicas. Mas a igreja, temendo um escândalo que pudesse minar sua
luta contra o protestantismo, tomou medidas repressoras. Em 1616 o cardeal
Bellarmino, mestre de questões controversas do Vaticano e o teólogo mais
influente da época, declarou "falsa e errônea" a doutrina de
Copérnico, proibindo Galileu de "defendê-la ou sustentá-la". Galileu
se sujeitou à decisão. Ironicamente foi a insistência de Galileu que forçou a
Igreja a adotar uma posição oficial contra Copérnico: seus livros foram
censurados pela inquisição. A partir de então, qualquer menção ao Sol como
centro do cosmo era vista como heregia.
Em
1623 um velho amigo, o cardeal Mafeo Barberini, tornara-se papa Urbano VIII.
Imediatamente Galileu tenta revogar o decreto de 1616. Após uma série de
audiências, falha, mas consegue autorização para escrever um livro discutindo
tanto a teoria de Aristóteles quanto a de Copérnico, embora com duas condições:
não tomar partido e chegar a conclusão de que o homem não pode, em caso algum
determinar como funciona o mundo, porque Deus poderia ter realizado os mesmo efeitos
de maneiras inimagináveis pelos homens, que não podem fazer restrições à
onipotência divina. O livro Diálogo sobre os dois sistemas
principais do universo foi concluído e publicado em 1632, e
imediatamente acolhido em toda a Europa como uma obra-prima de literatura e
filosofia. A palavra “diálogo” no título reflete a estrutura do livro. Escrito
como uma discussão filosófica entre três pessoas cada uma com um papel
específico. O primeiro Salviati, defende as idéias de Galilei. O segundo,
Sagredo é um interlocutor inteligente e leigo (ou seja, o público), que em gera
concorda com Salviati. O terceiro Simplício, representa os aristotélicos e é
constantemente humilhado pelos argumentos de Salviati. O Dialogo é mais uma
obra de popularização do que um tratado científico. Galileu não oferece nele
nenhuma prova conclusiva a favor de Copérnico. E, para atingir o público leigo,
apresenta uma versão extremamente simplificada da teoria copernicana,
desconsiderando a reforma do sistema heliocêntrico realizada por Kepler. Ao
final do debate, Galileu introduziu, numa fala de Simplício, uma frase do
próprio Urbano VIII. Quando encorajou o cientista a apresentar o sistema
copernicano, o papa afirmou que o fato de uma hipótese explicar bem certos
fenômenos não significava que ela fosse necessariamente verdadeira, porque Deus
podia muito bem ter produzido os mesmos fenômenos por meios totalmente
diferentes e incompreensíveis para a mente humana. Sem citar nominalmente o
papa, Simplício afirma que esse argumento provinha "da mais eminente e
douta pessoa, diante da qual era preciso cair em silêncio".
A ironia passou despercebida pelos olhos do censor eclesiástico. Mas Urbano VIII ficou uma fera ao tomar nas mãos o livro impresso e reconhecer suas palavras na boca do tolo Simplício. Em breve o papa, , arrependeu-se de ter permitido a publicação. Argumentava ele, que embora do livro tivesse as bençãos oficiais dos censores, o autor desacatara, ainda assim, o decreto de 1616. O livro foi proibido alguns meses após ter sido impresso, e as cópias já vendidas foram confiscadas pela Inquisição. Felizmente algumas já haviam escapado da Itália. Em 1633, Galileu com 69 anos foi condenado pelo Sagrado Tribunal da Inquisição e forçado a renunciar publicamente, sob pena de tortura, ao copernicismo. Sua pena incluía prisão domiciliar perpétua e ler salmos diariamente durante três anos. Como a visão enfraquecida não lhe permitia a leitura sua filha freira foi incumbida de ler os salmos em sua presença. Numa insuportável manifestação de arrogância, a Igreja humilhava o homem e se atribuía o direito de decidir o que a ciência podia ou não dizer.
A ironia passou despercebida pelos olhos do censor eclesiástico. Mas Urbano VIII ficou uma fera ao tomar nas mãos o livro impresso e reconhecer suas palavras na boca do tolo Simplício. Em breve o papa, , arrependeu-se de ter permitido a publicação. Argumentava ele, que embora do livro tivesse as bençãos oficiais dos censores, o autor desacatara, ainda assim, o decreto de 1616. O livro foi proibido alguns meses após ter sido impresso, e as cópias já vendidas foram confiscadas pela Inquisição. Felizmente algumas já haviam escapado da Itália. Em 1633, Galileu com 69 anos foi condenado pelo Sagrado Tribunal da Inquisição e forçado a renunciar publicamente, sob pena de tortura, ao copernicismo. Sua pena incluía prisão domiciliar perpétua e ler salmos diariamente durante três anos. Como a visão enfraquecida não lhe permitia a leitura sua filha freira foi incumbida de ler os salmos em sua presença. Numa insuportável manifestação de arrogância, a Igreja humilhava o homem e se atribuía o direito de decidir o que a ciência podia ou não dizer.
Durante
os nove anos seguintes, Galileu permaneceu ativo, pesquisando e realizando
experimentos. Galileu permaneceu um piedoso católico, mas sua crença na
independência do saber criativo não foi abalada. Quatro anos antes de sua morte, ainda detido
em sua casa, o manuscrito de seu segundo livro de fôlego foi mandado
clandestinamente a um editor na Holanda. Este trabalho, intitulado Duas
novas ciências, mais do que seu apoio às teorias de Copérnico, foi a gênese
da física moderna. Nele descreve o resultado de suas várias pesquisas sobre o
movimento dos corpos e sobre as propriedades mecânicas dos corpos sólidos,
enfatizando a importância da matemática e da experimentação nas ciências
naturais.
Quando
Galileu morreu, em 1642, sua obra estava sendo lida avidamente em toda a
Europa, fomentando a grande revolução científica que ocorreria no final do
século XVII. Dentre os leitores, encontrava-se o inglês Isaac Newton.
Roma, 22 de junho de 1633:
"Eu, Galileu,
filho do falecido Vincenzo Galilei, florentino, de setenta anos de idade,
intimado pessoalmente à presença deste tribunal e ajoelhado diante de vós,
Eminentíssimos e Reverendíssimos Senhores Cardeais Inquisidores -Gerais contra
a gravidade herética em toda a comunidade cristã, tendo diante dos olhos e
tocando com as mãos os Santos Evangelhos, juro que sempre acreditei, que
acredito, e, mercê de Deus, acreditarei no futuro, em tudo quanto é defendido,
pregado e ensinado pela Santa Igreja Católica e
Apostólica. Mas, considerando que (...) escrevi e imprimi um livro no qual
discuto a nova doutrina (o heliocentrismo) já condenada e aduzo argumentos de
grande força em seu favor, sem apresentar nenhuma solução para eles, fui, pelo
Santo Ofício, acusado veementemente de suspeito de heresia, isto é, de haver
sustentado e acreditado que o Sol está no centro do mundo e imóvel, e que a
Terra não está no centro, mas se move; desejando eliminar do espírito de Vossas
Eminências e de todos os cristãos fiéis essa veemente suspeita concebida mui
justamente contra mim, com sinceridade e fé verdadeira, abjuro, amaldiçôo e
detesto os citados erros e heresias, e em geral qualquer outro erro, heresia e
seita contrários à Santa Igreja, e juro que no futuro nunca mais direi nem
afirmarei, verbalmente nem por escrito, nada que proporcione motivo para tal
suspeita a meu respeito".
Em 1638 a cegueira total atingiu
Galileu. Escreve em carta para um amigo:
"
Ai de mim! O vosso amigo e servo Galileu tem estado no último mês
desesperadamente cego, de modo que este céu, por maravilhosos descobrimentos e
claras demonstrações, alarguei cem mil vezes além da crença dos sábios da
antiguidade, se reduzem, daqui por diante, para mim, a um diminuto espaço
preenchido pelas minhas próprias sensações corpóreas"
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quarta-feira, 28 de maio de 2014
A Vida de Galileu
Personagens:
Galileu Galilei
Andrea
D.Sarti
Ludovico Marsili
Procurador
1. Galileu Galileu, professor de
matemática em Pádua, quer demonstrar o novo sistema Coppernicano do Universo.
O fogo no rabo da idéia pegou
No ano de mil seiscentos e nove,
O cientista Galileu por a+b
calculou
Que o sol não se mexe. Que a
terra se move.
(Quarto de estudo de Galileu, em
Pádua; o aspecto é pobre. É de manhã, o menino Andrea, filho da governanta,
traz um copo de leite e um pão)
Galileu – (Lavando
o tórax, fungando e alegre) Põe o leite na mesa, mas não fecha os livros.
Andrea - Seu Galileu, minha mãe disse que, se nós
não pagarmos o leiteiro, ele vai dar um círculo em volta de nossa casa e não
vai mais deixar o leite.
Galileu - Está errado, Andrea; ele "descreve um
círculo".
Andrea -Como o senhor quiser, seu Galileu. Se nós
não pagarmos, ele descreve um círculo.
Galileu - Já o oficial de justiça, o seu Cambione,
vem reto para cima de nós, escolhendo qual percurso entre dois pontos?
Andrea (rindo) - O mais curto.
Galileu - Bom. Eu tenho uma coisa para você. Veja
atrás dos mapas astronômicos.
(Andrea pesca atrás dos mapas, de
onde tira um grande modelo do sistema ptolomaico, feito de madeira)
Andrea -O que é isso?
Galileu - É um astrolábio; é feito para mostrar como
as estrelas se movem à volta da Terra, segundo a opinião dos antigos.
Andrea -Como?
Galileu - Vamos investigar, e começar pelo começo: a
descrição.
Andrea - No meio tem uma pedra pequena.
Galileu - É a Terra.
Andrea - Por fora tem cascas, uma por cima da outra.
Galileu - Quantas?
Andrea - Oito.
Galileu - São as esfera de cristal.
Andrea - Tem bolinhas , pregadas nas cascas.
Galileu - As estrelas.
Andrea - Tem bandeirinhas, com palavras pintadas.
Galileu - Que palavras?
Andrea - Nomes de estrelas.
Galileu - Quais?
Andrea - A bola embaixo é a Lua, é o que está
escrito. Mais em cima é o Sol.
Galileu - E agora faça mover o Sol.
Andrea (Move as esferas) - É bonito. Mas
nós estamos fechados lá no meio.
Galileu - É, foi o que eu também senti, quando vi
esta coisa pela primeira vez. Há mais gente que sentem assim também. (Joga a toalha Andrea para que ele lhe
esfregue as costas) Muros e cascas, tudo parado! Durante dois mil anos a
humanidade acreditou que o Sol e as estrelas do céu giram em torno dela. O
papa, os cardeais, os príncipes, os sábios, capitães, comerciantes, peixeiras e
crianças da escola, todos achando que estão imóveis nessa bola de cristal. Mas
agora nós vamos sair para fora dela, Andrea, para uma grande viagem. Porque o tempo
antigo acabou, e agora é um tempo novo. Já faz cem anos que a humanidade está
esperando alguma coisa.
As cidades são estreitas, e as cabeças também. Superstição e peste. Mas agora, veja o que se diz:
se as coisas são assim, assim não vão ficar. Tudo se move, meu amigo.
Gosto de
pensar que tudo tenha começado com os navios. Desde que há memória, eles vinham
se arrastando ao longo da costa, mas de repente, deixaram a costa e exploraram
os mares todos.
Em nosso
velho continente nascia um boato: existem continentes novos. E agora que os
nossos barcos navegam até lá, a risada é geral nos continentes. O que se diz é
que o grande mar temido é uma lagoa pequena. E surgiu um grande gosto pela
pesquisa da causa de todas as coisas: saber por que cai a pedra se a soltamos,
e como sobe a pedra que arremessamos. Não há dias em que não se descubra alguma
coisa. Até os velhos e os surdos puxam conversa para saber as últimas
novidades.
Já se
descobriu muita coisa, mas há mais coisas ainda que poderão ser descobertas. De
modo que as novas gerações têm o que fazer.
Em Siena,
quando moço, vi uma discussão de cinco minutos sobre a melhor maneira de mover
blocos de granito; em seguida, os pedreiros abandonaram uma técnica milenar e
adotaram uma disposição nova e mais inteligente das cordas. Naquele lugar e
naquele minuto fiquei sabendo: o tempo antigo passou, e agora é um tempo novo.
Logo a humanidade terá uma idéia clara de sua casa, do corpo celeste que ela
habita. O que está nos livros antigos não lhe basta mais.
Pois onde
a fé teve mil anos de assento, sentou-se agora a dúvida. Todo mundo diz: é,
está nos livros -, mas agora nós queremos ver com nossos olhos.
As
verdades mais consagradas são tratadas sem cerimônia; o que era indubitável,
agora é posto em dúvida. Em conseqüência, formou-se um vento que levanta as
batinas brocadas dos príncipes e prelados, e põe a mostra pernas gordas e
pernas de palito, pernas como as nossas pernas. Mostrou-se que os céus estavam
vazios, o que causou uma alegre gargalhada.
Mas as
águas da terra fazem girar as novas rocas, e nos estaleiros, nas casas de
cordame e de velame, quinhentas mãos se movem em conjunto, organizadas de
maneira nova.
Predigo
que a astronomia será comentada nos mercados, ainda em tempos de nossa vida.
Mesmo os filhos das peixeiras quererão ir às escolas. Pois os habitantes de
nossas cidades, sequiosos de tudo o que é novo, gostarão de uma astronomia
nova, em que também a Terra se mova. O que contava é que as estrelas estão
presas a uma esfera de cristal para que não caiam.
Agora
juntamos coragem, e deixamos que flutuem livremente, desancoradas e elas estão
em grande viagem, como as nossas caravelas, desancoradas e em grande viagem.
E a Terra
rola alegremente e volta do Sol, e as mercadoras de peixe, os comerciantes, os
príncipes e os cardeais, e mesmo o papa, rolam com ela. Uma noite bastou para
que o universo perdesse seu ponto central; na manhã seguinte, tinha uma
infinidade deles. De modo que agora qualquer um pode ser visto como centro, ou
nenhum. Subitamente há muito lugar. Nossos navios viajam longe. As nossas
estrelas giram no espaço longínquo, e mesmo no jogo de xadrez, agora a torre
atravessa o tabuleiro de lado a lado. Como diz o poeta: "Ó manha dos
princípios!..."
Andrea - "Ó manhã dos inícios!...
Ó sopro do vento
Que vem de terras novas!"
O senhor devia beber o seu leite,
porque daqui a pouco chega gente.
Galileu - Você acabou entendendo o que eu te
expliquei ontem?
Andrea - O quê? Aquela história de Quipérnico e da
rotação?
Galileu - É.
Andrea - Não. Porque o senhor quer que eu entenda? É
muito difícil, e eu ainda não fiz onze anos, vou fazer em outubro.
Galileu - Mas eu quero que também você entenda. É
para que se entendam essas coisas que eu trabalho e compro livros caros, em
lugar de pagar o leiteiro.
Andrea - Mas eu vejo que o Sol de noite não está
onde estava de manhã. Quer dizer que ele não pode estar parado! Nunca e jamais.
Galileu - Você vê! O que é que você vê? Você não vê
nada! Você arregala o olho, e arregalar o olho não é ver. (Galileu põe
a bacia de ferro no centro do quarto) Bom, isto é o Sol. Sente-se
aí. (Andrea se senta na única cadeira; Galileu está de pé, atrás dele) Onde
está o Sol, à direita ou à esquerda?
Andrea - À esquerda.
Galileu - Como fazer para ele passar para a direita?
Andrea - O senhor carrega a bacia para a direita,
claro.
Galileu - E não tem outro jeito? (Levanta
Andrea e a cadeira do chão. Faz meia-volta com ele) Agora, onde é que
o Sol está?
Andrea - À direita.
Galileu - E ele se moveu?
Andrea - Ele, não.
Galileu - O que é que se moveu?
Andrea - Eu.
Galileu (berrando) - Errado! Seu burro! A
cadeira!
Andrea - Mas eu com ela!
Galileu - Claro. A cadeira é a Terra. Você está em
cima dela.
D.Sarti (que entrou para fazer a cama e assistiu a
cena) - Seu Galileu, o que o senhor está fazendo com o meu menino?
Galileu - Eu o estou ensinando a ver.
D.Sarti - Arrastando o menino pelo quarto?
Andrea - Deixa, mamãe. Você não entende disso.
D. Sarti - Ah, é? Mas você entende, é isso? Está um
moço aí fora, ele quer aulas particulares. Muito bem vestido, e trouxe uma
carta de recomendação. (entrega a carta)
Com você o meu Andrea ainda acaba dizendo que dois mais dois são cinco. Ele
confunde tudo o que o senhor diz. Ontem à noite ele me provou que a Terra dá
volta no Sol. Está convencido de que isso foi calculado por um tal Quipérnico.
Andrea - Senhor Galileu, o Quipérnico não calculou?
Diga a ela o senhor mesmo!
D. Sarti - Mas é verdade mesmo que o senhor ensina
essas bobagens? Depois ele vai e fala essas coisas na escola, e os padres vêm
me procurar, porque ele fica dizendo coisas que são contra a religião. O senhor
devia ter vergonha, Senhor Galileu!
Galileu (tomando café) - Dona Sarti, com base em nossas pesquisas e
depois de violenta disputa, Andrea e eu fizemos descobertas que não podemos
mais ocultar do mundo. Começou um tempo novo, uma grande era, em que viver será
um prazer.
D. Sarti - Sei. Eu espero que nesse tempo novo, Senhor
Galileu, a gente possa pagar o leiteiro. (Apontando
a carta de recomendação) O senhor me faça um favor, e não mande embora esse
também. Eu estou pensando na conta do leiteiro. (sai)
Galileu (rindo) - Vai, vai, me deixe ao
menos acabar o meu leite! (voltando-se para Andrea) Alguma coisa
ontem nós sempre compreendemos, hein?
Andrea - Eu só falei para ela se espantar. Mas não
está certo. A cadeira onde eu estava, o senhor a virou só de lado, e não
assim (faz um movimento com o braço de cima para baixo)Senão eu
tinha caído, e isso é um fato. Por que o senhor não virou a cadeira para
frente? Porque daí ficava provado que eu cairia da Terra, se ela virasse assim.
Isso é que é.
Galileu - Mas se eu lhe demonstrei...
Andrea - Mas essa noite eu descobri que toda noite
eu ficaria pendurado de cabeça para baixo, se a Terra virasse como o senhor
diz. E isso é um fato.
Galileu (pegando uma maça na mesa) - Bom.
Isto é a Terra.
Andrea - Ah, não, seu Galileu, não pegue esses
exemplos. Assim o senhor sempre se sai bem.
Galileu (pondo a maça no lugar outra vez) -
Você é quem sabe.
Andrea - Com exemplos a gente sempre se sai bem,
sendo esperto. Mas eu não posso carregar a minha mãe na cadeira como o senhor
me carrega. O senhor está vendo que o exemplo é ruim. E se a maça for a Terra,
o que acontece?
Galileu (ri) - Você não quer saber.
Andrea - Pegue a maça de novo. Como é que à noite eu
não fico pendurado de cabeça para baixo?
Galileu - Bom, isso é a Terra, e você está
aqui. (tira uma lasca de um toro de lenha e finca na maça) E
agora a Terra gira.
Andrea - E agora eu estou de cabeça para baixo.
Galileu - Porquê? Olhe com atenção. A cabeça, onde
está?
Andrea (mostrando) - Aqui, embaixo.
Galileu - O quê? (gira em sentido contrário, até a
primeira posição) A cabeça não está no mesmo lugar? Os pés não estão
mais embaixo? Quando eu viro, você acaso fica assim?(tira e vira a lasca)
Andrea - Não. E porque é que eu não percebo que
virou?
Galileu - Porque você vai junto. Você e o ar que está
em cima de você e tudo o que está sobre a esfera.
Andrea - E porque parece que é o Sol que sai do
lugar?
Galileu (gira novamente a maça com o graveto) -
Debaixo de você, você vê a Terra, sempre igual, que fica embaixo e para você
não se move. Mas agora, olhe para cima. Agora é a lâmpada que está em cima da
sua cabeça. Mas agora, se eu giro, agora o que é que está sobre a sua cabeça e
portanto no alto?
Andrea (acompanhando o giro) - A
lareira.
Galileu - E a lâmpada onde está?
Andrea - Embaixo.
Galileu - Taí.
Andrea - Essa é boa. Ela vai ficar de boca
aberta.
(Entra
Ludovico Marsili, moço rico)
Galileu – Isto aqui parece a casa da sogra
Ludovico – Bom dia, meu senhor. O meu nome é Ludovico
Marsili.
Galileu - (Examinando a sua carta de recomendação) O
senhor esteve na Holanda?
Ludovico – Onde ouvi falar muito no senhor.
Galileu – A sua família tem propriedade na Campanha?
Ludovico – Minha mãe queria que eu me arejasse um pouco,
visse o que se passa pelo mundo, etc.
Galileu – E na Holanda o senhor ouviu dizer que na Itália,
por exemplo, me passo eu?
Ludovico – E como minha mãe deseja que eu me oriente um
pouco nas ciências...
Galileu – Aulas particulares: dez escudos por mês.
Ludovico – Muito bem, senhor.
Galileu – Quais são seus interesses?
Ludovico – Cavalos.
Galileu – Hum...
Ludovico – Eu não tenho cabeça para as ciências, Senhor
Galileu.
Galileu – Hum. Nesse caso, são quinze escudos por mês.
Ludovico – Muito bem, Senhor Galileu.
Galileu – As aulas serão de manhã cedo. Vai ser às suas
custas, Andrea, não vai sobrar tempo. Você entende, você não paga.
Andrea – Já estou saindo. Posso levar a maça?
Galileu – Leve.
(Andrea sai)
Ludovico – O senhor vai precisar de paciência comigo.
Principalmente porque nas ciências tudo é diferente no que manda o bom senso. O
senhor veja, por exemplo, aquele tudo estranho que estão vendendo em Amsterdam.
Eu examinei com cuidado. Um canudo de couro verde e duas lentes – uma assim (Representa uma lente côncava) e uma
assim (Representa uma lente convexa). Ou
vi dizer que uma aumenta e a outra diminui. Qualquer pessoa razoável pensaria
que se compensam. Errado. O tubo aumenta as coisas cinco vezes. Isso é que é a
ciência.
Galileu – O que é que o tubo aumenta cinco vezes?
Ludovico – Torres de igrejas, pombas; tudo o que está
longe.
Galileu – O senhor mesmo viu essas coisas aumentadas?
Ludovico – Sim, senhor.
Galileu – E o tubo tinha duas lentes? (Galileu faz um esboço no papel) Era assim? (Ludovico faz um gesto que sim) De quando é essa invenção?
Ludovico – Quando viajei na Holanda acho que não tinha mais
que uns dias ao menos de venda.
Galileu (Quase
amável) – E por que é que precisa ser a física e não a criação de cavalos?
(Entra
D.Sarti, sem que Galileu perceba)
Ludovico – Minha mãe acha que um pouco de ciência é
necessário. Hoje todo mundo toma o seu vinho com ciência, o senhor sabe.
Galileu – O senhor podia escolher uma língua morta ou
teologia. É mais fácil. (Vê D.Sarti)
Bom, nos veremos terça-feira de manhã.
(Ludovico
sai)
Galileu – Não precisa me olhar desse jeito. Eu vou dar
aulas.
D. Sarti – Só porque você me viu a tempo. O procurador da
universidade está aí fora.
Galileu – Faça-o entrar, que este é importante. Podem ser
quinhentos escudos. Daí eu não preciso de alunos.
(D. Sarti
faz entrar o procurador, Galileu aproveita para acabar de se vestir e rabiscar
números num papel)
Galileu – Bom dia, me empreste meio escudo. (Entrega a D.Sarti a moeda que o procurador
havia pescado em sua bolsa) Dona Sarti, mande Andrea ao oculista para
comprar duas lentes; as medidas estão aqui.
(D. Sarti
sai com o papel)
Procurador – Eu vim tratar do seu pedido de aumento; o senhor
quer ganhar mil escudos. Infelizmente, o meu parecer não será favorável. O
senhor sabe que os cursos de matemática não garantem freqüência à universidade.
A matemática, por assim dizer, não é uma arte nutritiva. Não que a República
não a tenha na mais alta conta. Embora ela não seja tão necessária como a
filosofia, nem tão útil quanto a teologia, aos conhecedores ela proporciona
infinito prazer!
Galileu – (Mexendo
em seus papeis) Meu caro amigo, com quinhentos escudos eu não vivo.
Procurador – Mas, Senhor Galileu, o senhor tem duas horas de
aula, duas vezes por semana. O seu extraordinário prestígio lhe traz quantos
alunos quiser, gente que pode pagar aulas particulares. O senhor não tem alunos
particulares?
Galileu – Senhor eu tenho demais! Eu ensino e ensino, e
quando é que eu estudo? Homem de Deus, eu não sei tudo, com os moradores da
Faculdade de Filosofia. Eu sou estúpido. Eu não entendo nada de nada. De modo
que eu sou forçado a preencher os buracos do meu saber. E quando é que eu tenho
tempo? Quando é que eu faço pesquisa? Meu senhor, a minha ciência ainda tem
fome de saber! Sobre os maiores problemas nós ainda não temos nada que seja
mais do que hipótese. Mas nós exigimos provas. E como eu vou fazer progresso,
se para sustentar a minha casa sou forçado a me dedicar a qualquer imbecil,
desde que tenha dinheiro, enfiar na cabeça dele que as paralelas se encontram
no infinito?
Procurador – Em todo caso, o senhor não esqueça que a
República talvez não pague tanto enquanto certos príncipes, mas garante a
liberdade de pesquisa. Nós em Pádua admitimos até mesmo alunos protestantes. E
lhes damos o diploma de doutor. Quando provaram – provaram, Senhor Galileu –
que Cremonini dizia coisas contra a religião, nós não só não o entregamos à
Inquisição, como aumentamos o salário dele. Até na Holanda se sabe que Veneza é
a República onde a Inquisição não manda. E isso tem um certo valor para o
senhor, que é astrônomo, que trabalha numa disciplina em que há muito tempo a
doutrina da Igreja não encontra mais o devido respeito!
Galileu – Mas Giordano Bruno os senhores entregaram a
Roma. Porque defendia a doutrina de Copérnico.
Procurador
– Não porque ele difundisse a
doutrina do Senhor Copérnico, que aliás está errada, mas porque ele não era
veneziano, nem tinha emprego aqui. De modo que o senhor deixe o queimado-vivo
fora do jogo. E, entre parênteses, por maior que seja a liberdade, é prudente
não falar tanto nem tão alto nesse nome, que é anátema oficial para a Igreja;
nem mesmo aqui, sim, senhor, nem mesmo aqui.
Galileu – Essa vossa proteção à liberdade do pensamento
não é mau negócio, hein? Vocês sugerem que noutra parte a Inquisição reina e
queima, e vocês arranjam, assim, professores bons e mal pagos. A garantia
contra a Inquisição, vocês se pagam dela, pagando os piores salários.
Procurador – É injusto! Injusto! De que lhe serve o tempo
livre, o seu tempo de pesquisa, se um monte ignorante da Inquisição for livre
também de proibir as suas idéias? Não há rosas sem espinhos, Senhor Galileu,
não há príncipes sem monges!
Galileu – E de que serve a pesquisa livre sem o tempo para
pesquisar? E com os resultados, o que acontece? Quem sabe um belo dia o senhor
mostra aos cavalheiros do Conselho esta pesquisa sobre a lei da queda dos corpos
(mostra um maço de papeis), e
pergunta se isto não vale uns escudos a mais.
Procurador – Vale infinitamente mais, Senhor Galileu.
Galileu – Infinitamente não, senhor, quinhentos escudos.
Procurador – Vale escudos somente
o que rende escudos. Se o senhor quer dinheiro, precisa produzir outras coisas.
O senhor não pode cobrar mais pelo saber que vende, do que ele rendea que o
cobra. Por exemplo, a filosofia que o Senhor Colombo vende em Florença rende
pelo menos dez mil escudos anuais ao príncipe. A sua lei da queda dos corpos
levantou poeira, é verdade. O senhor é aplaudido em Paris e em Praga. Mas as
pessoas que o aplaudem não pagam o que o senhor custa à Universidade de Pádua.
A sua desgraça, prezado Galileu, está na sua especialidade.
Galileu – Eu entendo: liberdade de comércio, liberdade de
pesquisa. Liberdade de comerciar com a pesquisa, é isso?
Procurador
– Mas, meu caro Galileu, que
maneira de ver as coisas! O senhor me permita dizer que não entendo bem as suas
ironias. Eu não vejo por que desprezar a prosperidade comercial da nossa
República. E como procurador da universidade que sou, há muitos anos, não
acompanho também essa maneira, digamos frívola, de falar da pesquisa (Galileu lança olhares nostálgicos à sua
mesa de trabalho) O senhor considere a situação lá fora! Pense no chicote
que escraviza a ciência em certas cidades! Nessas cidades, rasgaram o couro de
velhos livros para isso, para fazer chicotes. Não querem saber como a pedra
cai, mas o que Aristóteles escreveu a respeito. Os olhos a gente os têm só para
ler. Para que estudar a queda dos corpos, se conta só o jeito de cair de
joelhos? No outro prato da balança, o senhor ponha a alegria infinita com que a
nossa República acolhe as suas idéias, por mais ousadas que sejam! Aqui o
senhor pode pesquisar! O senhor pode trabalhar! Ninguém vigia os seus passos,
ninguém o oprime! Os nossos comerciantes, que lutam contra a concorrência
florentina, sabem quanto vale um pano de melhor qualidade, e, em conseqüência,
ouvem-no com simpatia quando o senhor reclara “uma física melhor”. Aliás, a
própria física deve muito ao clamor por um tear melhorado! Os nossos cidadãos
mais eminentes têm interesse pelas suas pesquisas, vêm visitar o senhor, pedem
que lhes demonstre as suas descobertas, gente cujo tempo é precioso. Meu caro
Galileu, não despreze o comércio. Aqui não se admite interferência alguma em
seu trabalho, nenhum incompetente lhe cria dificuldades. Admita, Galileu, que
aqui o senhor pode trabalhar!
Galileu (desesperado) – Como não?
Procurador – E quanto às condições materiais : o senhor faça
outra coisinha bonita, como aquele seu excelente compasso proporcional, que
mesmo ao leigo em matemática permite (conta
os dedos)tirar linhas, determinar o juro do juro de um capital, reproduzir
em escala ampliada ou diminuída a planta de um imóvel, estabelecer o peso das
balas de canhão.
Galileu – É uma besteira.
Procurador – O senhor chama de besteira uma coisa que
encantou os cidadãos mais eminentes e rendeu dinheiro à vista. Eu ouvi dizer
que o próprio marechal Stefano Gritti é capaz de tirar uma raiz quadrada com o
seu instrumento!
Galileu – De fato, é milagroso! Em todo caso, o senhor me
fez pensar. Talvez eu tenha alguma coisa do gênero que lhe interessa.
Procurador – É? Seria a solução. (Levanta-se) Galileu, nós sabemos que o senhor é um grande homem,
grande, mas insatisfeito, se me permite dizer.
Galileu – Sou, sou insatisfeito, uma razão para vocês me
pagarem mais, se fossem mais inteligentes! Pois eu estou insatisfeito comigo
mesmo. Mas, em vez disso, vocês fazem tudo para que eu fique insatisfeito com
vocês. É verdade, meus senhores de Veneza, que eu gosto de usar o meu engenho
no vosso famoso arsenal,nos estaleiros e na fundição de canhões. O arsenal põe
questões à minha ciência, que a levariam mais adiante, mas vocês não me dão
tempo de especular. Vocês amarram a boca ao boi que está trabalhando. Eu tenho
46 anos e não fiz nada que me satisfizesse.
Procurador – Nesse caso, eu não vou incomodá-lo mais.
Galileu – Obrigado.
(O
Procurador sai. Galileu fica sozinho por alguns instantes e começa a trabalhar.
Andrea entra correndo)
Galileu – (Trabalhando)
Por que você não comeu a maça?
Andrea – É pra ela ver que ela gira.
Galileu – Andrea, ouça aqui, não fale aos outros de nossas
idéias.
Andrea – Por quê?
Galileu – Porque as autoridades proibiram.
Andrea – Mas é verdade.
Galileu – Mas proibiram. E nesse caso tem mais. Nós físicos
ainda não conseguimos provar o que julgamos certo. Mesmo a doutrina do grande
Copérnico ainda não está provada. Ela é apenas uma hipótese. Mas passe as
lentes.
Andrea – O meio escudo não deu. Deixei o meu casaco de
penhor.
(Pausa.
Galileu arruma as lentes sobre a folha em que está o esboço.)
Andrea – O que é uma hipótese?
Galileu – É quando uma coisa nos parece provável, sem que
tenhamos os fatos. Veja a Felicia, lá embaixo, na frente do cesteiro, com a
criança no peito. É uma hipótese que ela dê leite à criança e que não seja o
contrário; é uma hipótese enquanto eu não puder ir lá, ver de perto e
demonstrar. Diante das estrelas, nós somos como vermes de olhos turvos, que
vêem muito pouco. As velhas doutrinas, aceitas durante mil anos, estão
condenadas; há mais madeira na escora do que no prédio enorme que ela sustenta.
Muitas leis que explicam pouco, enquanto que a hipótese nova tem poucas leis
que explicam muito.
Andrea – Mas o senhor provou tudo para mim.
Galileu – Não. Eu só mostrei que seria possível. Você
compreende, a hipótese é muito bonita e não há nada que a desminta.
Andrea – Eu também quero ser físico, Senhor Galileu.
Galileu – Acredito, considerando a infinidade de questões
que resta esclarecer em nosso campo. (Galileu
foi até a janela, e olhou através das lentes. O seu interesse é moderado) Andrea,
dê uma olhada.
Andrea – Virgem Maria, chegou tudo perto. O sino de
campanário, pertinho. Dá pra ler até as letras de cobre: Gratia Dei.
Galileu – Isto vai nos render quinhentos escudos.
(Fragmento "A Vida de Galileu" - Bertold Brecht)
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