.

Mostrando postagens com marcador humanismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador humanismo. Mostrar todas as postagens
sábado, 17 de janeiro de 2015
quarta-feira, 25 de junho de 2014
shhhhh!!!
Planeta terra chamando. Grita o despertador, o sino da igreja, três tons acima o metrô, desafinado e monopolizante o ônibus velho, alguns elevadores, todas as maquinas de lavar, celulares que ainda silenciados vibram estridentes durante peças de teatro e cenas fortes do cinema como se já não bastassem o ranger das pipocas. Ensurdecedor? Antes algo fosse. Qualquer coisa eu comprava, qual fosse o preço da abençoada, quase santa surdez. Se algum planeta tentasse se comunicar conosco, se é que já não tentaram, evidentemente não escutariamos o chamado. A tecnologia corre a passos largos; multiplica pães, transforma água em coca-cola, inventa até gente, mas não se dedica, minimamente, a silenciar. Silêncio é perigoso, faz pensar. Por alguma teoria da conspiração o barulho e os guarda-chuvas permamecem intocáveis. Planeta terra chamando! É essa a mensagem subliminar interplanetária. "Mantenha os pés no chão e nao reflita sobre isso!" grita o progresso.
" meu ouvido é pinico!" respondemos como um coro de criancinhas em uma daquelas brincadeiras infantis que envolviam batatas fritas, galinhas e pintinhos que a essa altura com certeza ja foram transformados em nugget.
Talvez por isso tenha escolhido às bibliotecas. "shhhhhh!" Essa é a regra número 1. Logo o silêncio é preenchido com letras e de repente todas as palavras são possíveis tal como tudo o que puderem formar a reboque. Os pés podem estar nas paredes, nas nuvens, no amarelo, no vácuo, menos em cima da mesa, que consiste na regra numero dois. Qualquer chamado pode ser ouvido. Diálogos com marte ou com o Olímpo são travados pelo mesmo terráqueo em questão de segundos. E o melhor: em silêncio. um mundo sem guarda-chuvas apenas por lá é possível. Acredite!
" meu ouvido é pinico!" respondemos como um coro de criancinhas em uma daquelas brincadeiras infantis que envolviam batatas fritas, galinhas e pintinhos que a essa altura com certeza ja foram transformados em nugget.
Talvez por isso tenha escolhido às bibliotecas. "shhhhhh!" Essa é a regra número 1. Logo o silêncio é preenchido com letras e de repente todas as palavras são possíveis tal como tudo o que puderem formar a reboque. Os pés podem estar nas paredes, nas nuvens, no amarelo, no vácuo, menos em cima da mesa, que consiste na regra numero dois. Qualquer chamado pode ser ouvido. Diálogos com marte ou com o Olímpo são travados pelo mesmo terráqueo em questão de segundos. E o melhor: em silêncio. um mundo sem guarda-chuvas apenas por lá é possível. Acredite!
sexta-feira, 6 de junho de 2014
"Mistérios Insondáveis" de Alcione Araújo
O poder da razão nos enche de genuíno orgulho. É extraordinária a capacidade humana para compreender o mundo em que vivemos - da minúscula intimidade da matéria aos espaços infinitos do cosmo, da inteligência artificial ao uso das células-tronco. É tamanha a empolgação com a capacidade de compreender as miraculosas elaborações da razão que, às vezes, somos instilados a crer que não há limites para o conhecimento - o que, de fato, parece não existir - e nós alçamos a extremos nos quais a soberba ultrapassa a própria razão.
Inflados pela onipotência, passamos a viver como senhores da natureza e deuses da razão. Nesses momentos, humildade deixa de ser apenas uma virtude e passa a ser uma necessidade - até para ajustar pesos e contrapesos e restaurar o equilíbrio.
A despeito das fantásticas conquistas da ciência, a espécia humana convive com mistérios tão insondáveis quanto essenciais à vida. É quase alarmante que a vida siga seu curso sem que possamos balbuciar qualquer verdade sobre questões que nos acompanham do nascimento à morte.
O nascimento, para começar é um mistério. Nada sabemos como e quando a vida se instala. Além do absurdo acaso implícito num determinado espermatozoide, entre milhões, fecundar o ovo e resultar num ser e não noutro, inteiramente distinto - o que nos define como um acaso da natureza, ao qual se junta o aleatório da programação celular detectado pela biologia genética. Somos, enfim, um acaso do acaso. Ademais, quase todo o saber clínico sobre o nascimento apoia-se em estatísticas e estudos de caso - não no conhecimento do momento decisivo onde tudo começa. Vivemos no mistério do nosso surgimento.
Noutro extremo, a morte - sabemos o que leva ao colapso de órgãos e sistemas, mas nada sabemos sobre o que ocorre após o repouso cerebral - instala-se nos inescrutável domínio da fé. No âmbito do conhecimento, é puro mistério. Sabemos que a vida, tudo o que somos e deixamos de ser, se dá entre o nascimento e a morte, nossos limites. E nada sabemos sobre os próprios extremos determinantes da vida entre si.
Mencionei a seara inescrutável da fé - eis outro mistério. Sabemos que muitas pessoas têm fé - vários tipos, em vários revelações -, mas não sabemos dizer o que seria a fé. Santo Agostinho, que a chamava de esperança, considerava-a um privilégio - ou seja, não é para todos! E reiterava essa ideia como quase um paradoxo. Dizia o santo das Confissões que quem entendeu Deus está longe da verdade, porque Deus não é acessível pela razão. Que mistério a fé! Sem ironia, para ter fé é preciso crer, antes, na fé - que não se dispõe ao entendimento.
Mais prosaico e rotineiro, porém não menos misterioso e intrigante, é o sonho. Desde as remotas civilizações nos primórdios da espécie que o homem quer entender os sonhos. O Talmude, o Corão e a Bíblia estão repletos de interpretações dos sonhos. No início do século XX, Freud, com A interpretação dos sonhos, lançou alicerces da teoria da subjetividade. Mas é uma interpretação entre outras. Dormimos todas as noites com o desconhecido sonho.
E o que sabemos do amor? Como surge, de que se constitui? Sabemos que são complexos impulsos subjetivos, vindos de recônditos obscuros, mas não conseguimos defini-lo. Pode-se se escolher, com critérios da razão, um marido, uma esposa, pode-se criar parcerias e conveniência e pode-se acomodar afinidades, mas não pode escolher a quem se ama. O amor brota por si e como um mistério.
Há outros, muitos outros, mistérios que nos cercam. Lembro só mais um, com o qual convivo dia e noite: a arte. Para o que é a arte, de que se constitui e a que serve, não há respostas conclusivas, todas giram em torno de conceitos - talvez pela falta de uma teoria geral da emoção, outro mistério! Por lidar com a criação, a arte propõe paradoxos, que não respondem, mas nos distraem do seu próprio mistério, como o de Jean Cocteau: "A arte é indispensável, se ao menos soubéssemos para quê."
(Crônica escrita por Alcione Araújo para o jornal Estado de Minas, retirada do livro "Cala a boca e me beija")
Inflados pela onipotência, passamos a viver como senhores da natureza e deuses da razão. Nesses momentos, humildade deixa de ser apenas uma virtude e passa a ser uma necessidade - até para ajustar pesos e contrapesos e restaurar o equilíbrio.
A despeito das fantásticas conquistas da ciência, a espécia humana convive com mistérios tão insondáveis quanto essenciais à vida. É quase alarmante que a vida siga seu curso sem que possamos balbuciar qualquer verdade sobre questões que nos acompanham do nascimento à morte.
O nascimento, para começar é um mistério. Nada sabemos como e quando a vida se instala. Além do absurdo acaso implícito num determinado espermatozoide, entre milhões, fecundar o ovo e resultar num ser e não noutro, inteiramente distinto - o que nos define como um acaso da natureza, ao qual se junta o aleatório da programação celular detectado pela biologia genética. Somos, enfim, um acaso do acaso. Ademais, quase todo o saber clínico sobre o nascimento apoia-se em estatísticas e estudos de caso - não no conhecimento do momento decisivo onde tudo começa. Vivemos no mistério do nosso surgimento.
Noutro extremo, a morte - sabemos o que leva ao colapso de órgãos e sistemas, mas nada sabemos sobre o que ocorre após o repouso cerebral - instala-se nos inescrutável domínio da fé. No âmbito do conhecimento, é puro mistério. Sabemos que a vida, tudo o que somos e deixamos de ser, se dá entre o nascimento e a morte, nossos limites. E nada sabemos sobre os próprios extremos determinantes da vida entre si.
Mencionei a seara inescrutável da fé - eis outro mistério. Sabemos que muitas pessoas têm fé - vários tipos, em vários revelações -, mas não sabemos dizer o que seria a fé. Santo Agostinho, que a chamava de esperança, considerava-a um privilégio - ou seja, não é para todos! E reiterava essa ideia como quase um paradoxo. Dizia o santo das Confissões que quem entendeu Deus está longe da verdade, porque Deus não é acessível pela razão. Que mistério a fé! Sem ironia, para ter fé é preciso crer, antes, na fé - que não se dispõe ao entendimento.
Mais prosaico e rotineiro, porém não menos misterioso e intrigante, é o sonho. Desde as remotas civilizações nos primórdios da espécie que o homem quer entender os sonhos. O Talmude, o Corão e a Bíblia estão repletos de interpretações dos sonhos. No início do século XX, Freud, com A interpretação dos sonhos, lançou alicerces da teoria da subjetividade. Mas é uma interpretação entre outras. Dormimos todas as noites com o desconhecido sonho.
E o que sabemos do amor? Como surge, de que se constitui? Sabemos que são complexos impulsos subjetivos, vindos de recônditos obscuros, mas não conseguimos defini-lo. Pode-se se escolher, com critérios da razão, um marido, uma esposa, pode-se criar parcerias e conveniência e pode-se acomodar afinidades, mas não pode escolher a quem se ama. O amor brota por si e como um mistério.
Há outros, muitos outros, mistérios que nos cercam. Lembro só mais um, com o qual convivo dia e noite: a arte. Para o que é a arte, de que se constitui e a que serve, não há respostas conclusivas, todas giram em torno de conceitos - talvez pela falta de uma teoria geral da emoção, outro mistério! Por lidar com a criação, a arte propõe paradoxos, que não respondem, mas nos distraem do seu próprio mistério, como o de Jean Cocteau: "A arte é indispensável, se ao menos soubéssemos para quê."
(Crônica escrita por Alcione Araújo para o jornal Estado de Minas, retirada do livro "Cala a boca e me beija")
quinta-feira, 5 de junho de 2014
de Carol
Não é impunemente que se nasce mulher.
E mulher artista.
Fico admirada
Boquiaberta
Estarrecia
De cara
Sem entender
Aonde estaria Florbela se não escrevesse?
E Virginia?
E Clarice? Por onde esteve?
Yaioi afirma que se não fosse a sua arte ela já teria se matado ha muito tempo.
Florbela o fez, Virginia o fez.
A Clarice morrer com um câncer no ovário se fosse ficção seria uma forçação de barra.
A Louise sobreviveu.
A Louise sobreviveu.
A Louise sobreviveu.
A Marina sobreviveu.
A Marina sobreviveu.
A Marina sobreviveu.
A Marina fala que o suicídio é um crime contra a vida
o artista não deve cometer suicídio
o artista não deve cometer suicídio
o artista não deve cometer suicídio
O meu tio cometeu suicídio
O meu tio não era artista.
Ou era, não sei.
Ele tocava piano.
Não sei.
Ele tinha 19 anos
Ele poderia vir a ser um artista.
Se ele viesse a ser um artista será que ele não teria cometido suicídio?
Se ele viesse a ser um artista será que ele teria cometido suicídio?
Suicídio
Suicídio
Suicídio
É pra dentro.
É bem pra dentro.
Ferida da alma.
Profunda
O corpo não tem mais razão de estar.
Aqui.
Agora.
Mas é agora.
E depois?
No momento da queda, ou um segundo depois de tomar o remédio
Esse segundo já não é agora
É depois.
Será que nesse segundo a camisa dele não podia agarrar num galho de árvore
Ele ficar preso de cabeça pra baixo no chão
Começar a chorar e agradecer
Agradecer muito por ter ficado vivo
Naquele segundo
ele se sentir profundamente agradecido por estar vivo
e depois ter um ataque de riso
olhar pro irmão que estava olhando para ele da janela do apartamento
e pedir: por favor me tira daqui
ME TIRA DAQUI!
O irmão sem saber como agir, chorando, pega uma escada gigantesca e tira o irmão dele de lá.
Eles se abraçam
E a vida continua vida.
Sem o suicídio carimbar essa família.
O suicídio carimba.
Flor bela de alma da conceição espanca
De alma.
Alma.
Aonde a alma dói.
Ai!
Ai!
é um lugar...
Infinito (para dentro)
Uma tortura
E como ser depois de vir do coração?
De tirar de dentro do peito a lúcida verdade
O sentimento.
No seu ponto de partida
O homem só tem instintos
Mais avançado e corrompido
Só tem sensações
Mais instruído e purificado
Tem sentimentos
O sentimento então é uma evolução da sensação.
Quirom é um planeta?
A sentimentação
O ser neutro virou um ser sentimentado
Enfim…
Quirom é um satellite
Assim como a Lilith
É mutável
Quirom mostra a ferida da alma.
Filho de cronos com uma ninfa
Era metade homem metade cavalo
Tinha o poder de curar as pessoas
Mas tinha uma grande ferida na alma
ter sido abandonado por sua mãe por ela ter vergonha de sua condição.
Um dia sem querer, leva uma flechada na pata traseira
E fica para sempre a mostra uma ferida com um cheiro terrível
Justamente no lugar em que ele mais ressentia
Sua parte cavalo.
Eu não sei onde está o meu quirom
Preciso saber
Urgente
Mas a Lilith o astrólogo me disse
A progesterona
Uma progesterona que estava concorrendo comigo- ele disse
Agiu como um louco- ele disse- andou para um lado e olhou para outro.
Ai! Ai!
Ferida na alma!
Quiron!
Quando tem Lilith é para se ficar atento
Progesterona pede atenção.
A Progesterona que é produzida no ovário.
Ferida na alma.
Quantas feridas na alma vai se acumulando no caminho
Desse grande movimento
dentro desse planeta
que órbita
nessa galaxia.
Galaxia
Via Láctea
Outras vias
Muitas outras vias…
Ser supremamente pessoal para ser coletivo.
Ser supremamente pessoal para ser coletivo
Ser supremamente pessoal para ser coletivo.
Não é impunemente que se nasce mulher.
E mulher artista.
O artista é um traumatófilo
Elementar lhe dar com a falta
Elemento se dá com falta.
Nós existimos principalmente pela nossa ausência
Isso é da Louise
Bourgeois.
O trauma
Experiência psicológica muito agressiva
Os soldados quando voltavam da primeira Guerra
Não conseguiam…
Não conseguiam…
E como ser depois de vir do coração?
O pó, o nada…
Não conseguiam falar o que viveram
Falar
Acessar
A ferida da alma
Eu não lembro
Como foi quando meu pai saiu de casa
Elementar lhe dar com a falta
Ser supremamente pessoal para ser coletivo
Ser supremamente pessoal para ser coletivo
Não é essa a magia da grande arte?
Os artistas devem procurar a inspiração no seu âmago
Quanto mais se aprofundarem em seu âmago, mais universais serão
O artista é um universo
O artista é um universo
O artista é um universo
O artista deve ser ouvido
E libertado
sempre
Isso é da Nirley
Será que ele queria voar?
Não é isso que todos queremos afinal?
Sair voando pela janela
Sair voando
Como ícaro
Que não se conteve em ter asas
Quis voar alto
Bem alto
Perto do sol
E o sol derreteu suas asas
E ele caiu
Morreu
Porque ícaro, querido ícaro
o homem não pode voar
Ele não se conforma
Com essa tristíssima contingência
Eu o entendo.
Voar alto
Bem alto
Sair da terra voando
E olhar todo o universo
No silêncio que deve ser lá em cima
E depois voar mais alto e ver a nossa galáxia
Bem pequenininha brilhando perto das outras
Que também o são.
E voltar
Depois de ser do coração.
E como voltar a ser depois de vir do coração?
Medo de morrer
Ela me respondeu
Quando eu disse que tinha medo na hora dormir.
Medo de morrer
Mas se a alma é separada do corpo
Morrer desse corpo
Pra perambular com alma pelo espaço pode ser bom.
Eu não quero morrer
Eu quero ficar viva
Mas e o desejo incontrolável de voar?
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Homem Vitruviano
O pintor italiano Leonardo da Vinci (1452 – 1519) é tido como uma das mais importantes figuras do Alto Renascimento. Embora tenha sido conhecido principalmente como pintor, era também cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Dentre os desenhos deixados por Leonardo, o Homem Vitruviano (ou o Homem de Vitrúvio)tornou-se um ícone cultural. Trata-se de um desenho encontrado em seus diários, feito por volta de 1490, que mostra o traçado e as proporções entre as diversas partes do corpo humano. Durante o Renascimento, muitos artistas, arquitetos e tratadistas puseram-se a interpretar os textos vitruvianos, para fazer novas representações gráficas, mas nenhum deles conseguiu combinar de forma harmoniosa e matemática as proporcionalidades do corpo humano e a solução da quadratura do círculo, conforme propunha Vitruvius. Dentre os desenhos que foram feitos, o de Leonardo da Vinci tornou-se o mais famoso e o mais difundido.
Duas diferentes posturas, formadas pela combinação das posições dos braços e das pernas. A figura humana com braços e pernas em cruz está contida dentro do quadrado. Enquanto aquela com braços e pernas abertos está contida no círculo. A postura em cruz delimita os lados do quadrado, enquanto que a postura com pernas e braços abertos delimita o círculo. A área das duas figuras geométricas é igual. O umbigo da figura humana é o seu real centro de gravidade que continua imóvel, embora pareça se mover. Examinando o desenho como um todo, pode-se notar que a combinação das posições dos braços e das pernas forma quatro posturas diferentes: braços e pernas em cruz, braços e pernas abertos, braços em cruz e pernas abertas, braços abertos (para o alto) e pernas unidas.
A razão de tê-lo chamado de Homem Vitruviano baseia-se no fato de que o arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio (I a. C.) apresenta no seu tratado sobre arquitetura, composto por uma série de dez livros, uma descrição sobre as proporções do corpo humano, usando como unidade de medida o dedo, o palmo e o antebraço, o que o levou a acreditar que um homem com as pernas e os braços abertos encaixaria perfeitamente dentro de um quadrado e de um círculo – figuras geométricas perfeitas. E, se o corpo humano fosse representado ao mesmo tempo, dentro das duas figuras, o umbigo, centro gravitacional da figura humana, coincidiria com o centro das duas figuras geométricas.
Vitrúvio tanto fez a sua apresentação em forma textual, como através de desenhos. Mas, com o passar dos anos, a descrição gráfica se perdeu, enquanto a obra passou a ser copiada. O homem descrito por Vitrúvio apresenta-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas, segundo o ideal clássico de beleza. Ele já havia tentado encaixar as proporções do corpo humano dentro da figura de um quadrado e um círculo, mas suas tentativas foram falhas.
O desenho do Homem Vitruviano reafirma o grande interesse de Leonardo da Vinci pela arte e ciência. No conceito da Divina Proporção, tão procuradas nas obras do Renascimento, dá-se a busca e definição das partes corporais do ser humano.
Para a filosofia a figura mostra mais que as proporções perfeitas, pois está repleta de símbolos, a figura presente na obra está dentro de um círculo e de um quadrado que tem relação com a numerologia sagrada, o círculo como símbolo da divindade e o quadrado símbolo da manifestação na matéria a partir da divindade.
A figura humana está totalmente integrada à estas figuras geométricas, demonstrando a relação do homem com o universo, o macrocosmo aqui como o universo e o microcosmo como o homem totalmente integrados.
A figura na posição de braços abertos longitudinais ao corpo formam uma cruz latina, símbolo da verticalização do homem em busca do sagrado com um trabalho na matéria (horizontal).
Desta maneira o Homem Vitruviano é um pentagrama, que é um símbolo estelar de cinco pontas representando o homem e sua relação também com os quatro elementos (terra, água, ar e fogo) que por sua vez tem relação com os quatro corpos da Personalidade e a cabeça como o elemento racional da Tríade que traz o poder de discernimento adquirido pela obtenção de conhecimento.
Marcus Vitruvius Pollio descreve no terceiro livro de sua série de dez livros intitulados De Architectura as proporções do corpo humano masculino. Eis algumas:
- O comprimento dos braços abertos de um homem (envergadura dos braços) é igual à sua altura.
- A distância entre a linha de cabelo na testa e o fundo do queixo é um décimo da altura de um homem.
- A distância entre o topo da cabeça e o fundo do queixo é um oitavo da altura de um homem.
- A distância entre o fundo do pescoço e a linha de cabelo na testa é um sexto da altura de um homem.
- O comprimento máximo nos ombros é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre a o meio do peito e o topo da cabeça é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre o cotovelo e a ponta da mão é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre o cotovelo e a axila é um oitavo da altura de um homem.
- O comprimento da mão é um décimo da altura de um homem.
- A distância entre o fundo do queixo e o nariz é um terço do comprimento do rosto.
- A distância entre a linha de cabelo na testa e as sobrancelhas é um terço do comprimento do rosto.
- O comprimento da orelha é um terço do da face.
- O comprimento do pé é um sexto da altura.
- Face -> do queixo ao topo da testa = 1/10 da altura do corpo.
- Palma da mão -> do pulso ao topo do dedo médio = 1/10 da altura do corpo.
- Cabeça -> do queixo ao topo = 1/8 da altura do corpo.
- Base do pescoço às raízes do cabelo = 1/6 da altura do corpo.
- Meio do peito ao topo da cabeça = 1/4 da altura do corpo.
- Pé = 1/6 da altura do corpo.
- Largura do peito = 1/4 da altura do corpo.
- Largura da palma da mão = quatro dedos.
- Largura dos braços abertos = altura do corpo.
- Umbigo = centro exato do corpo.
- Base do queixo à base das narinas = 1/3 da face.
- Nariz -> da base às sobrancelhas = 1/3 da face.
- Orelha = 1/3 da face.
- Testa = 1/3 da face.
O teatro é humanista
Para entender o contexto em que Galileu vivia, e em que medida sua
descoberta aboliu um modelo de mundo que persistia à séculos, foi preciso
pesquisar a passagem histórica da Idade Média para a Idade Moderna.
Humanistas, foram a vanguarda da grande
transformação cultural chamada Renascimento. Quando nos referimos ao
Renascimento temos em mente, de maneira geral, o período que vai de meados do
século XIV até o final do século XVI. Ou seja, é um movimento histórico
relativamente breve que marca o início da chamada Idade Moderna e é
caracterizado pelo progresso técnico e científico, por maior conhecimento da
filosofia e da literatura antigas e maior amor pela beleza.
O termo Renascimento se refere ao retorno
ideal às formas da Antiguidade Clássica enquanto verdadeira fonte da beleza e
do saber. A idéia de Renascimento pertence à própria época e seus
protagonistas. Apesar do retorno ao passado clássico, o movimento conhecido por
esse nome nada possuía de nostálgico. Era, na verdade, portador de um acentuado
sentimento de superioridade em relação aos séculos precedentes,
acompanhado de atitude de substancial otimismo diante do presente e do futuro.
A idéia vinha acompanhada de “trazer à luz”, subtrair ao esquecimento a
grandiosidade da cultura do passado, sepultada pelas “trevas” da Idade Média. A
visão da Idade Média como um abismo cultural foi instaurada pelo Renascimento.
As pesquisas do último século desmistificaram a idéia de “Idade das Trevas” e
se dedicaram a identificar os inúmeros vínculos entre a Idade Média e o
Renascimento. Os resultados alcançados puderam demonstrar que ao longo dos
séculos, não propriamente de trevas, a tradição clássica não havia desaparecido
completamente. Em ruptura com a tradição medieval, as artes visuais procuraram
reencontrar as mais harmoniosas proporções do corpo humano e redescobrir em
tais medidas humanas a alma da arquitetura antiga, capaz de dar às novas
construções o ritmo musical recomendado por Platão.
O movimento humanista foi fundado na literatura. Francesco
Petrarca (1304-74) havia sido o primeiro a contrapor as imagens de trevas e
luz, ao confrontar o presente medieval cristão com o esplendor cultural do
passado clássico. Não obstante fosse problemática a identificação do passado
pagão com as “luzes” e da era cristã com as “trevas”, a ideia, cultivada por um
grupo de literatos, vingou. Ainda na primeira metade do século XIV, Giovanni
Boccaccio (1313-75), genial discípulo de Petrarca, utilizava o esquema “luz e
trevas” de análise em louvor da arte de Giotto. Para afirmar a evolução da
pintura em relação ao passado, o aspecto mais evidente era observar a
excelência com que esta se tornara capaz de imitar a natureza; no caso, a
natureza humana. O elogio de Boccaccio ao naturalismo de Giotto, além de
sobrepor a luz do presente às trevas do passado medieval, revelava uma
sensibilidade diferente em relação às imagens pictóricas e sua representação do
mundo visível. As palavras do poeta e precursor do Humanismo
indicavam a existência de um público interessado em formas mais complexas de
apreciação das artes a que o novo tipo de artista era chamado a satisfazer.
A imitação é um conceito crucial para todo o Renascimento, o ponto
de interseção por onde passam os diferentes elementos do projeto Renascimento.
O conceito portanto comporta uma vasta gama de significados, que absolutamente
não excluem a ideia de originalidade. Para a cultura do Humanismo, a imitação
era fundamento de um sistema moral e estético que tinha como referência os
valores da Antiguidade, suas virtudes públicas e suas grandes realizações. Em
oposição à imobilidade hierática das figuras da arte bizantina, os humanistas
estavam interessados na representação dos “afetos” – como eram designadas as
atitudes e expressões. Esse novo naturalismo era a essência da inovação
Renascentista e construía o principal desafio para a nova arte. A doutrina
estética do Renascimento se referia, por um lado, à imitação da natureza , à
imitação do real; por outro à imitação do modelo, imitação da Antiguidade
Clássica. Imitar não significava copiar, mas assimilar princípios; indicava
limites e oportunidades para a invenção. As obras produzidas não deviam ser
iguais, mas parecer com os modelos tal como o filho dos pais, segundo exemplo
da época.
Na primeira metade do Quatrocentos, o conceito de imitação
correspondia à reprodução o mais possível perfeita da realidade e estava ligado
a uma prática pictórica determinada a recriar a perfeita ilusão do visível. As
figuras de Masaccio na capela Brancacci, em Florença (1424-1425) são exemplos
da nova orientação. A anatomia e a perspectiva linear eram consideradas
diciplinas essenciais: à primeira era destinada à construção dos corpos
conforme a natureza; a segunda à construção do espaço. As regras da perspectiva
renascentista – inventadas em 1415 por Brunelleshi, possibilitam a criação do
espaço tridimensional sobre a superfície plana, resultando em uma imagem muito
semelhante à percepção que o olho humano possui da realidade espacial e dos
objetos nela colocados.
Depois dos primeiros tempos mais pragmáticos, dedicados às novidades da prática pictórica capaz de desenvolver a ilusão do real, a avaliação totalmente externa da beleza logo dará lugar a justificativas filosóficas. Aristóteles é considerado principal fonte para a interpretação da imitação como mímeses da natureza. Na Poética, a arte é espelho da natureza concebida como comportamento humano. O tratado De pictura (1433), de Alberti, texto fundamental para todas as formulações sobre arte dali em diante, já contemplava a idéia de eleição ao lado da de imitação, isto é, do livre-arbítrio do pintor, que, posto diante da natureza, podia não apenas retratá-la, mas eleger seus aspectos mais belos. A busca dessa "natureza ideal" era identificada pelos humanistas na frase de Aristóteles sobre a imitação: imitar a natureza não como era, mas como deveria ser.
O início do Renascimento havia sido marcado por certa dissolução das divisões rígidas da vida intelectual, fazendo com que a arte e a ciência compartilhassem um mesmo terreno. A geometria e a matemática estavam impregnadas por idéias filosóficas. A mateática possuia lugar de preeminência enquanto ciência singular, capaz de conduzir ao conhecimento abstrato das relações e das medidas, fazendo com que estas assumissem significados além do nível racional. Por meio da matemática, o espaço arquitetônico, por exemplo, prestava-se a analogias universais astrológicas e teológicas a que estavam sujeitos formas e números. Tais analogias punham em comunicação o macrocosmo e o microcosmo. O antigo simbolismo dos números e a harmonia numérica das esferas celestes remetiam aos preceitos pitagóricos retomados por Plotino e os neoplatônicos da Antiguidade. Tais ideias sobre o misticismo dos números - que nunca desapareceram totalmente - são redescobertas e desenvolvidas pelos filósofos do Renascimento com grande influência sobre as artes.
O processo de promoção social das artes se desenvolve em sintonia com a celebrada centralidade que a ideia de individuo teve para o Renascimento. O novo protagonismo adquirido pelo artista acompanha um processo de secularização da cultura no qual as realizações e os feitos terrenos dos homens passavam a ser altamente considerados e louvados. No decorrer do Quatrocentos, surgem diversos livros no gênero "homens ilustres" como o de Vilani, sobre os notáveis de Florença. O elogio do indivíduo e o culto da fama se estendem da literatura para a escultura, a pintura e a arquitetura.
(Fragmentos do texto “o projeto do renascimento” de Elisa Byington)
Assinar:
Postagens (Atom)