Muito além, nos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há um pequeno sol amarelo e esquecido.
Girando em torno deste sol, a uma distância de cerca de 148 milhões de quilômetros, há um planetinha verde-azulado absolutamente insignificante, cujas formas de vida, descendentes de primatas, são tão extraordinariamente primitiva que ainda acham que relógios digitais são uma grande ideia.
Este planeta tem - ou melhor, tinha - o seguinte problema: a maioria de seus habitantes estava quase sempre infeliz. Foram sugeridas muitas soluções para esse problema, mas a maior parte delas dizia respeito basicamente à movimentação de pequenos pedaços de papel colorido com números impressos.
E assim o problema continuava sem solução. Muitas pessoas eram más, e a maioria delas era muito infeliz, mesmo as que tinham relógios digitais.
E então, uma quinta-feira, quase dois mil anos depois que um homem foi pregado num pedaço de madeira por ter dito que seria ótimo se as pessoas fossem legais umas com as outras para variar, uma garota, sozinha numa pequena lanchonete em Rickmansworth, de repente compreendeu o que tinha dado errado todo esse tempo e finalmente descobriu como o mundo poderia se tornar um lugar bom e feliz. Desta vez estava tudo certo, ia funcionar, e ninguém teria que ser pregado em coisa nenhuma.
Infelizmente, porém, antes que ela pudesse telefonar para alguém e contar sua descoberta, aconteceu uma catástrofe terrível e idiota, e a ideia perdeu-se para todo o sempre.
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Por uma curiosa coincidência, "absolutamente zero" era o quanto o descendente dos primatas Arthur Dent suspeitava que um dos seus amigos mais íntimos não descendia dos primatas, sendo, na verdade, de um pequeno planeta perto de Betelgeuse, e não de Guildford, como costumava dizer. Tal suspeita jamais passara pela cabela de Arthur Dent.
Esse seu amigo havia chegado ao planeta Terra há uns 15 anos terráqueos e se esforçara ao máximo no sentido de se integrar na sociedade terráquea - com certo sucesso, deve-se reconhecer. Assim, por exemplo, ele passara esses 15 anos fingindo ser um ator desempregado, o que era perfeitamente plausível. Porém cometera um erro gritante, por ter sido um pouco displicente em suas pesquisas preparatórias. As informações de que ele dispunha o levaram a escolher o nome "Ford Prefect", achando que era um nome bem comum, que passaria desapercebido.
Não era alto a ponto de chamar atenção, e suas feições eram atraentes, mas não a ponto de chamar atenção. Seus cabelos eram avermelhados e crespos e ele os penteava para trás. Sua pele parecia ter sido puxada a partir do nariz. Havia algo de ligeiramente estranho nele mas era algo muito sutil, difícil de identificar. Talvez os olhos dele piscassem menos que o normal, de modo que quem ficasse conversando com ele algum tempo acabava com os olhos cheios d´água de aflição. Talvez o sorriso dele fosse um pouco largo demais e desse a sensação desagradável de que estava prestes a morder o pescoço de seu interlocutor.
Para a maioria dos amigos que fizera na Terra era um sujeito excêntrico, porém inofensivo: um beberrão com alguns hábitos maio estranhos. Por exemplo, ele costumava entrar de penetra em festas na universidade, tomar um porre colossal e depois começava a gozar qualquer astrofísico que encontrasse, até que o expulsem da festa.
As vezes ele ficava desligado, olhando distraído para o céu, como se estivesse hipnotizado, até que alguém lhe perguntava o que ele estava fazendo. Então, por um instante, Ford ficava assustado, com um ar de culpado, mas logo relaxava e sorria.
- Ah estou só procurando discos voadores - brincava, e todo mundo ria e lhe perguntava que tipo de discos voadores ele estava procurando - Dos verdes! - ele respondia com um sorriso irônico, depois ria às gargalhadas por alguns instantes e daí corria até o bar mais próximo e pagava uma enorme rodada de bebidas.
Essas noites normalmente terminavam mal. Ford tomava uísque até ficar totalmente bêbado, se encolhia num canto com uma garota qualquer e dizia a ela, que na verdade a cor dos discos voadores não tinha muita importância.
Depois cambaleando maio tonto pelas ruas, de madrugada, com frequência perguntava aos policiais que passavam como se ia para Betelgeuse. Os policiais normalmente diziam algo assim:
- O senhor não acha que é hora de ir para casa?
- É o que estou tentando fazer, meu chapa, estou tentando - era o que Ford semprerespondia nessas ocasiões.
- O senhor não acha que é hora de ir para casa?
- É o que estou tentando fazer, meu chapa, estou tentando - era o que Ford semprerespondia nessas ocasiões.
Na verdade, o que ele realmente procurava quando ficava olhando para o céu era qualquer tipo de disco voador. Ele falava em discos voadores verdes porque o verde era a cor tradicional do uniforme dos astronautas marcantes de Betelgeuse.
Ford Prefect já havia perdido as esperanças de que aparecesse um disco voador porque 15 anos é muito tempo para ficar preso em qualquer lugar, principalmente num lugar tão absurdamente chato como a Terra.
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Escuridão total.
- Tome, coma um pouco de amendoim. Se você nunca passou antes por um raio de transferência de matéria, deve ter perdido sal e proteína. A cerveja que você tomou deve ter protegido seu organismo. Estamos a salvo
- Ah, bom
- Estamos dentro de uma pequena cabine de uma das espaçonaves da Frota de Construção Vogon.
- Ah, pelo visto você esta empregando a expressão "a salvo" num sentido estranho que eu não conheço. Como é que viemos parar aqui?
- Pegamos uma carona
- Espera ai! Você está me dizendo que a gente levantou o polegar e algum monstrinho verde de olhos esbugalhados pôs a cabeça para fora e disse "Oi gente, entrem ai que eu deixo vocês na saída do viaduto"
- Bem , o polegar na verdade é um sinalizador eletrônico subeta, e na saída do viaduto, no caso, é a estrela de Barnard, a seis anos-luz da Terra; ms no geral é mais ou menos isso
- E o monstrinho de olhos esbugalhados?
- É verde, sim
- Tudo bem. Mas quando eu vou voltar pra casa?
- Não vai - encontra o interruptor e acende a luz
- Minha nossa! Estamos mesmo dentro de um disco voador?
Olham ao redor
- Bem, o que você acha?
- Meio bagunçado, né?
(Fragmentos retirados do livro "O guia do mochileiro das galáxias" de Douglas Adams)
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