O RENASCIMENTO DA ASTRONOMIA
OCIDENTAL:
Com a expansão das cidades, o poder e a afluência da
aristocracia aumentam. Pintores, escultores, músicos e astrólogos são
convidados a integrar várias cortes, dividindo com seus patronos suas criações
artísticas e especulações filosóficas. Os livros, antes copiados manualmente,
passam a ser impressos por máquinas, o que acelera sua produção e diminui seu
preço. No século XV, começam as explorações marítimas em busca de novas rotas
de acesso à Ásia, o “caminho das Índias”. O mundo cresce, os europeus são
expostos a “novas” (na verdade muito mais antigas) culturas, algumas julgadas
primitivas, como a costa leste das Américas, e outras sofisticadas, como a
China e a Índia. É também no século XV que a Igreja começa a perder sua
hegemonia. Na Alemanha, Martinho Lutero (1483-1546) propõe uma fé alternativa,
protestando contra a concentração de poder e a comercialização do cristianismo
pregado pelo Vaticano. É nesse clima de questionamento religioso, de
renascimento das artes e do espírito de exploração que cresce Nicolau
Copérnico, o polonês que irá pôr o Sol no centro do cosmo.
Nicolau Copérnico (um padre e
astrônomo polonês) propôs no séc.XVI um modelo mais simples em que o Sol fosse
o centro estático, em torno do qual a Terra e outros planetas se deslocavam em
órbitas circulares. Copérnico reviveu a teoria heliocêntrica proposta pelo
filósofo grego Aristarco de Samos (310-230 a. C.). Lutero zombou das
idéias de Copérnico, afirmando que um certo astrônomo queria virar a astronomia
do avesso, fazendo a Terra girar em torno do Sol como se fosse um carrossel.
Copérnico divulgou anonimamente por medo de ser considerado herege.
Copérnico também temia a critica de outros astrônomos, embora seu livro Sobre
as revoluções das esferas celestes (venderam-se tão poucos exemplares
que a obra foi apelidada de "o livro que ninguém leu") tenha sido
publicado em 1543, suas idéias já estavam formadas 1510. A história de
Copérnico termina de forma trágica. Adoentado, entrega o manuscrito de sua
grande obra a Rethicus, seu único discípulo. O jovem é incumbido de levar o
manuscrito a Nuremberg. Dedido a problemas pessoais (alguns historiadores
afirmam que Rethicus era homossexual e teve que fugir às pressas), a obra acaba
nas mãos de Andreas Osiander, um teólogo luterano contra as idéias de
Copérnico. Osiander adiciona ao livro um prefácio no qual afirma que as idéias
ali encontradas são mera ficção, apenas um modelo matemático, útil para
calcular a posição dos planetas, embora não correspondesse à realidade. O
detalhe perverso é que Osiander assina o prefácio em nome de Copérnico, como se
o próprio astrônomo considerasse o cosmo heliocêntrico uma abstração. Quase um
século se passou para a hipótese ser considerada com seriedade.
Curiosidade: Muito antes de Copérnico, outros
pensadores já haviam proposto modelos heliocêntricos do cosmo. Os primeiros
registros constam de manuscritos religiosos da antiga Índia, no século VII a.C.
Mas foi Ariabata, astrônomo e matemático hindu que viveu entre os anos 476 e
550 d.C, quem apresentou o modelo mais elaborado: além de propor que a Terra
girava em torno do Sol, disse ainda que a Terra girava em torno do próprio eixo
e que a luz da Lua era, na verdade, a luz do Sol refletida.
Johanner Kepler foi o primeiro a desmascarar
abertamente a trapaça literária de Osiander. Sabia que o astrônomo polonês
jamais teria escrito aquilo. Afinal, Copérnico havia dedicado seu livro ao papa
Paulo III, enfatizando sua opinião de que a bíblia não deveria ser usada para
descrever fenômenos celestes. Em 1593, teve aulas com o professor de astronomia
Michael Maestlin, um copernicano às escondidas que ensinava a alguns alunos as
idéias heliocêntricas do mestre polonês, enquanto publicamente passava por
aristotélico. Kepler foi profundamente influenciado pelas idéias copernicianas
de seu mestre. Para ele o Sol, e apenas
ele, poderia ser o centro do cosmo por motivos essencialmente religiosos. Do
Sol vem a luz que ilumina o cosmo, que dissipa as trevas da noite; do Sol vem o
calor que torna a vida possível. Kepler propõe uma analogia entre a Santíssima
Trindade e o cosmo: o pai é o Sol, no centro; o filho, a esfera das estrelas
fixas, nos confins do universo; e o espírito santo é a luz, a energia que flui
do pai ao filho. Em 1596 com 25 anos, publicou seu primeiro livro O mistério cosmográfico, onde defende
que o Sol não só era o centro do cosmo como também causava o movimento dos
planetas à sua volta. Kepler propôs uma interação entre o Sol e os planetas,
uma espécie de ressonância entre suas “almas”. No livro Kepler vai além. Não se
contentando em investigar a causa dos movimento planetários, propõe também uma
explicação para a distância entre cada uma dele e o Sol. Vê-se no título do
livro, uma preocupação com a “cosmografia”, uma preocupação com o arranjo
espacial do universo. Influenciado pelos pitagóricos, ele acreditava que a
geometria, e só ela, era capaz de explicar o arranjo do cosmos. Deus era a
inteligência suprema, e a geometria, a língua a língua com que Ele se
comunicava com a mente humana. Portanto cabia aos homens desvendar os mistérios
da natureza usando a geometria. A
ciência para Kepler, era um veículo de idolatria. Para explicar as distâncias,
usou os cinco sólidos platônicos, as cinco figuras mais regulares da geometria
tridimensional, e criou um arranjo em que cada planeta girava em uma esfera.
Kepler veio de uma família humilde e profundamente
problemática. A mãe, acusada de bruxaria, quase acabou seus dias queimada na
fogueira. O pai, um mercenário de reputação duvidosa acabou abandonando a
família após anos de abusos. Na vida adulta as coisas não melhoraram. No início
do século XVII, e Europa estava dividida pelas disputas religiosas entre católicos e protestantes. Kepler foi
vítima desses conflitos: era um luterano que servia as cortes católicas, vivia
sob constante perseguição. Kepler que na época trabalhava em Graz, na
Austrália, foi exilado pelos líderes católicos, que decretaram a conversão ou
expulsão de todos os líderes da cidade. Sem ter para onde ir, em 1600 foi
convidado ao castelo do nobre dinamarquês Tycho Brahe (o maior astrônomo da
época, matemático imperial da corte de Rodolfo II), nos arredores de Praga.
Tycho era o oposto de Kepler, cresceu como um
príncipe e viveu como tal. Contrariou a família, recusando-se a seguir a
carreira diplomática, encantado desde cedo com a astronomia. Com muito dinheiro
e muita paixão, construiu os maiores e maios precisos instrumentos astronômicos
que o mundo jamais vira, sextantes e quadrantes, pesando toneladas. Logo obteve
resultados que lhe conquistaram fama por toda a Europa. Em 1572, mostrou que
uma “nova estrela”, que surgiu na constelação de Cassiopéia e brilhou nos céus
durante meses, estava bem mais longe que a Lua. Em 1577, seguiu o movimento de
um cometa concluindo que se encontrava muito distante. O rei da Dinamarca ficou
tão impressionado com as descobertas de Tycho que lhe deu uma ilha inteira para
transformá-la num observatório astronômico. A personalidade tirânica de Tycho,
porém, causou-lhe problemas. Cristiano IV, o sucessor do reino da Dinamarca,
cortou-lhe o salário e tirou-lhe os direitos sobre a ilha. Tycho viu-se forçado
a procurar outro patrono. Foi então que se uniu a Rodolfo II em Praga. Em 1600,
mudou-se para o Castelo de Benatky onde Kepler foi ao seu encontro.
A relação entre Kepler e Tycho não poderia ter sido
mais tempestuosa. Kepler precisava dos dados de Tycho, estava convencido de que
com eles, demonstraria de uma vez por todas que seu arranjo cósmico estava
correto. Tycho por sua vez contava com o talento matemático de Kepler para
comprovar seu modelo cósmico. Por motivos religiosos, Tycho não gostava da
idéia de ter o Sol como centro. Conservador na leitura da Bíblia, não encontrou
menção que a Terra se movia. Propôs um modelo segundo o qual a Terra
permaneceria no centro, o Sol girava à sua volta, e todos os planetas giravam
em torno do Sol.
Kepler não escondeu suas intenções e seu entusiasmo
pelas idéias de Copérnico, e Tycho furioso , recusou-se a fornecer-lhe dados,
resultado de décadas de estudo. Como concessão, cedeu-lhe apenas observações
relativas ao planeta Marte. Depois de nove anos Kepler publicou um livro sobre
sua órbita criando uma nova astronomia. No livro Astronomia nova Kepler chega a duas conclusões revolucionárias:
primeiro que as órbitas planetárias não eram círculos, mas elipses (o círculo
deixava de ser a figura geométrica mais importante da astronomia); em segundo
lugar demonstrou que sua conjectura sobre a interação entre o Sol e os planetas
estava correta. Em vez de “alma”, sugeriu que forças magnéticas causavam as
órbitas planetárias. Influenciado pelas idéias do inglês William Gilbert, que
havia demonstrado que a Terra era um gigantesco imã. Kepler abriu as portas
para um novo cosmo, onde os movimentos celestes obedecem a leis matemáticas
precisas e nada ocorre sem uma causa física.
Curiosidade: No dia 17 de outubro de 1604, Kepler
observou que uma estrela extremamente
brilhante havia aparecido na constelação de Ofiúco, na Via Láctea. Kepler
descreveu a observação em detalhes na obra De
Stella Nova in Pede Serpentarii. Ele não sabia, mas era uma supernova,
explosão resultante do colapso de uma estrela maciça. Mais tarde, em sua
homenagem, a estrela recebeu o nome de “supernova de Kepler”. Essa foi a última
explosão de supernova observada até hoje na Via Láctea.
GALILEU
GALILEI (1564-1642):
Ao mesmo tempo em que era criada uma
nova astronomia na Europa Central, na Itália, outro revolucionário contestava o
saber aristotélico, proclamando que não só no céu, mas também na Terra, uma
nova física era necessária. Na mesma época em que Kepler fugia de perseguições
religiosas de uma cidade a outra, a Igreja Católica enfrentava agressivamente o
desafio crescente dos protestantes com a Contra-Reforma, que visava fortalecer
novamente as bases. A ordem dos Jesuítas foi criada em 1540, com o intuito de
espalhar os ensinamentos da fé católica, mesmo que a custa de conversões
forçadas de judeus, muçulmanos e das populações nativas das colônias. A Sagrada
Inquisição zelava pelos interesses da Igreja. Exceções eram inaceitáveis:
aqueles que se opunham à Igreja sofriam conseqüências terríveis. Em 1600, o
monge beneditino e filósofo Giordano Bruno foi queimado em praça pública no
coração de Roma. Seu crime foi ter propagado os ensinamentos de Copérnico,
proclamando não só que o Sol ser o centro do cosmo, como também que existiam
infinitos outros sóis e planetas espalhados pelo espaço. Bruno recusou-se a
abjurar suas idéias e pagou com a vida.
Os
experimentos do jovem de vinte poucos anos, Galileu Galilei, na década de 80 do século XVI realizados na
Itália, ajudaram a fundar a física moderna. Ele deixou cair objetos de
diferentes pesos de uma torre alta e descobriu que todos chegavam no solo ao
mesmo tempo contrariando cientistas aristotélicos. Descobriu ainda que a
velocidade de um objeto em queda dobrava a cada 9,8m que caia - número
constante mais tarde conhecido como aceleração pela gravidade.
O
famoso conflito com a Igreja Católica se demonstrou fundamental para sua
filosofia; é dele a argumentação pioneira de que o homem pode ter expectativas
de compreensão do funcionamento do universo e que pode atingi-la através da
observação do mundo real.
Galileu
foi o grande pioneiro do que chamamos de “método científico”: hipóteses e
teorias sobre fenômenos naturais tem que ser comprovadas através de
experimentos ou, quando isso é impossível – como, por exemplo, da astronomia ou
da paleontologia -, através de observações e materiais analisados
cuidadosamente.
Acreditou
na teoria de Copérnico (de que os planetas giram em torno do Sol) desde o
começo, mas foi apenas quando encontrou a evidência necessária à sustentação da
hipótese que ele passou a defendê-la publicamente. A teoria Aristotélico-Ptolomaica foi destruída em
1609, no ano em que Galileu começou a observar o céu à noite, através de um
telescópio que acabara de ser inventado. Galileu recebeu um telescópio de
presente de um diplomata recém-chegado da Holanda, inventado um ano antes por um
especialista em ótica e lentes. Galileu construiu um telescópio mais potente,
usando lentes de qualidade superior que ele mesmo fez. Em Veneza, mostrou-o
para o Senado, tentando vendê-lo como instrumento militar. A invenção
rendeu-lhe uma cátedra permanente na Universidade de Pádua e salário dobrado. O
telescópio revelou-lhe coisas que nenhum homem jamais havia visto. Ao focalizar
o planeta Júpiter, Galileu descobriu que ele era acompanhado de vários pequenos
satélites, ou luas que giravam à sua volta. Isto implicava que nada precisava
necessariamente girar em torno da Terra. Observou que a superfície da Lua era
marcada por crateras e montanhas, vislumbrou os anéis de Saturno, embora não
tenha reconhecido o que era.
Em
1610, Galileu reuniu suas observações num livro, cujo título pode ser traduzido
do latim tanto como Mensagem das estrelas
quanto como Mensageiro das estrelas. Religioso,
queria também reeducar a Igreja, ajudá-la a reavaliar sua concepção do universo
ainda aristotélica e geocêntrica. Em 1613, publicou um livro sobre outra
descoberta que abalava a concepção aristotélica: as manchas solares. O Sol é
ocasionalmente coberto por algumas manchas negras, que se movem sobre sua
superfície e desaparecem após algum tempo.
Escreveu
os dois livros em italiano (não o Latim acadêmico costumeiro), e em pouco tempo
suas opiniões se tornaram amplamente difundidas além das universidades. O fato
contrariou os professores aristotélicos, que se uniram contra ele, tentando
persuadir a Igreja Católica a banir o copernicismo. Preocupado com isto, viajou
para Roma em dezembro de 1615, tentar convencer as autoridades eclesiásticas de
suas idéias. Argumentava que a Bíblia não pretendia se manifestar quanto a
teorias científicas. Mas a igreja, temendo um escândalo que pudesse minar sua
luta contra o protestantismo, tomou medidas repressoras. Em 1616 o cardeal
Bellarmino, mestre de questões controversas do Vaticano e o teólogo mais
influente da época, declarou "falsa e errônea" a doutrina de
Copérnico, proibindo Galileu de "defendê-la ou sustentá-la". Galileu
se sujeitou à decisão. Ironicamente foi a insistência de Galileu que forçou a
Igreja a adotar uma posição oficial contra Copérnico: seus livros foram
censurados pela inquisição. A partir de então, qualquer menção ao Sol como
centro do cosmo era vista como heregia.
Em
1623 um velho amigo, o cardeal Mafeo Barberini, tornara-se papa Urbano VIII.
Imediatamente Galileu tenta revogar o decreto de 1616. Após uma série de
audiências, falha, mas consegue autorização para escrever um livro discutindo
tanto a teoria de Aristóteles quanto a de Copérnico, embora com duas condições:
não tomar partido e chegar a conclusão de que o homem não pode, em caso algum
determinar como funciona o mundo, porque Deus poderia ter realizado os mesmo efeitos
de maneiras inimagináveis pelos homens, que não podem fazer restrições à
onipotência divina. O livro Diálogo sobre os dois sistemas
principais do universo foi concluído e publicado em 1632, e
imediatamente acolhido em toda a Europa como uma obra-prima de literatura e
filosofia. A palavra “diálogo” no título reflete a estrutura do livro. Escrito
como uma discussão filosófica entre três pessoas cada uma com um papel
específico. O primeiro Salviati, defende as idéias de Galilei. O segundo,
Sagredo é um interlocutor inteligente e leigo (ou seja, o público), que em gera
concorda com Salviati. O terceiro Simplício, representa os aristotélicos e é
constantemente humilhado pelos argumentos de Salviati. O Dialogo é mais uma
obra de popularização do que um tratado científico. Galileu não oferece nele
nenhuma prova conclusiva a favor de Copérnico. E, para atingir o público leigo,
apresenta uma versão extremamente simplificada da teoria copernicana,
desconsiderando a reforma do sistema heliocêntrico realizada por Kepler. Ao
final do debate, Galileu introduziu, numa fala de Simplício, uma frase do
próprio Urbano VIII. Quando encorajou o cientista a apresentar o sistema
copernicano, o papa afirmou que o fato de uma hipótese explicar bem certos
fenômenos não significava que ela fosse necessariamente verdadeira, porque Deus
podia muito bem ter produzido os mesmos fenômenos por meios totalmente
diferentes e incompreensíveis para a mente humana. Sem citar nominalmente o
papa, Simplício afirma que esse argumento provinha "da mais eminente e
douta pessoa, diante da qual era preciso cair em silêncio".
A ironia passou
despercebida pelos olhos do censor eclesiástico. Mas Urbano VIII ficou uma fera
ao tomar nas mãos o livro impresso e reconhecer suas palavras na boca do tolo Simplício.
Em breve o papa, , arrependeu-se de ter permitido a publicação. Argumentava
ele, que embora do livro tivesse as bençãos oficiais dos censores, o autor
desacatara, ainda assim, o decreto de 1616. O livro foi proibido alguns meses
após ter sido impresso, e as cópias já vendidas foram confiscadas pela
Inquisição. Felizmente algumas já haviam escapado da Itália. Em 1633, Galileu
com 69 anos foi condenado pelo Sagrado Tribunal da Inquisição e forçado a
renunciar publicamente, sob pena de tortura, ao copernicismo. Sua pena incluía
prisão domiciliar perpétua e ler salmos diariamente durante três anos. Como a
visão enfraquecida não lhe permitia a leitura sua filha freira foi incumbida de
ler os salmos em sua presença. Numa insuportável manifestação de arrogância, a
Igreja humilhava o homem e se atribuía o direito de decidir o que a ciência
podia ou não dizer.
Durante
os nove anos seguintes, Galileu permaneceu ativo, pesquisando e realizando
experimentos. Galileu permaneceu um piedoso católico, mas sua crença na
independência do saber criativo não foi abalada. Quatro anos antes de sua morte, ainda detido
em sua casa, o manuscrito de seu segundo livro de fôlego foi mandado
clandestinamente a um editor na Holanda. Este trabalho, intitulado Duas
novas ciências, mais do que seu apoio às teorias de Copérnico, foi a gênese
da física moderna. Nele descreve o resultado de suas várias pesquisas sobre o
movimento dos corpos e sobre as propriedades mecânicas dos corpos sólidos,
enfatizando a importância da matemática e da experimentação nas ciências
naturais.
Quando
Galileu morreu, em 1642, sua obra estava sendo lida avidamente em toda a
Europa, fomentando a grande revolução científica que ocorreria no final do
século XVII. Dentre os leitores, encontrava-se o inglês Isaac Newton.
Roma, 22 de junho de 1633:
"Eu, Galileu,
filho do falecido Vincenzo Galilei, florentino, de setenta anos de idade,
intimado pessoalmente à presença deste tribunal e ajoelhado diante de vós,
Eminentíssimos e Reverendíssimos Senhores Cardeais Inquisidores -Gerais contra
a gravidade herética em toda a comunidade cristã, tendo diante dos olhos e
tocando com as mãos os Santos Evangelhos, juro que sempre acreditei, que
acredito, e, mercê de Deus, acreditarei no futuro, em tudo quanto é defendido,
pregado e ensinado pela Santa Igreja Católica e
Apostólica. Mas, considerando que (...) escrevi e imprimi um livro no qual
discuto a nova doutrina (o heliocentrismo) já condenada e aduzo argumentos de
grande força em seu favor, sem apresentar nenhuma solução para eles, fui, pelo
Santo Ofício, acusado veementemente de suspeito de heresia, isto é, de haver
sustentado e acreditado que o Sol está no centro do mundo e imóvel, e que a
Terra não está no centro, mas se move; desejando eliminar do espírito de Vossas
Eminências e de todos os cristãos fiéis essa veemente suspeita concebida mui
justamente contra mim, com sinceridade e fé verdadeira, abjuro, amaldiçôo e
detesto os citados erros e heresias, e em geral qualquer outro erro, heresia e
seita contrários à Santa Igreja, e juro que no futuro nunca mais direi nem
afirmarei, verbalmente nem por escrito, nada que proporcione motivo para tal
suspeita a meu respeito".
Em 1638 a cegueira total atingiu
Galileu. Escreve em carta para um amigo:
"
Ai de mim! O vosso amigo e servo Galileu tem estado no último mês
desesperadamente cego, de modo que este céu, por maravilhosos descobrimentos e
claras demonstrações, alarguei cem mil vezes além da crença dos sábios da
antiguidade, se reduzem, daqui por diante, para mim, a um diminuto espaço
preenchido pelas minhas próprias sensações corpóreas"