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sábado, 4 de outubro de 2014
Cair em si.
Vai cair. Tudo e sempre. Existir é necessariamente estar em constante movimento de queda. Qualquer ascenção é ilusória. Somos dilúvio desde o princípio. Chovemos até hoje nadando em mentiras positivistas. Deus, a bola de cristal, o infinito, o equilíbrio, a inércia, a crença, a posse, a eternidade anestésica e todas as demais fugas com o fim de amortecer o esborrachamento mundial. Expandir nada mais é do que cair pra todos os lados. Há cada centésimo de segundo luz cai uma estrela, um homem ao mar, os peitos de mais uma senhora, o filhote que aprende a andar ou o velho que desaprende, lágrimas de crocodilos e mães, meteoros em apartamentos, lixo espacial, hospitalar e residencial pelas lixeiras dos prédios ou vielas dos morros, a bolsa de valores e de madames do jardim Pernambuco, Dentes de crianças entre 5 e 7 anos de idade, de leite, de marfim, de alho, de ouro, obturados ou não. Caí em mim disso tudo e senti vontade de pular pra agilizar o processo. Acendi um cigarro pra pensar mas a mulher do meteoro foi mais clara e ganhou o posto do vício. Restou-me a porta a balançar barulhenta quando tocada pelos meus pés. Imagina o barulho se toda essa engenhoca caísse agora. Sabe qual seria a vantagem? Nada. Ou a inauguração dele. A reinauguração talvez. Quer ver?... Um, dois, três. BUUUUM!
segunda-feira, 16 de junho de 2014
quinta-feira, 5 de junho de 2014
de Carol
Não é impunemente que se nasce mulher.
E mulher artista.
Fico admirada
Boquiaberta
Estarrecia
De cara
Sem entender
Aonde estaria Florbela se não escrevesse?
E Virginia?
E Clarice? Por onde esteve?
Yaioi afirma que se não fosse a sua arte ela já teria se matado ha muito tempo.
Florbela o fez, Virginia o fez.
A Clarice morrer com um câncer no ovário se fosse ficção seria uma forçação de barra.
A Louise sobreviveu.
A Louise sobreviveu.
A Louise sobreviveu.
A Marina sobreviveu.
A Marina sobreviveu.
A Marina sobreviveu.
A Marina fala que o suicídio é um crime contra a vida
o artista não deve cometer suicídio
o artista não deve cometer suicídio
o artista não deve cometer suicídio
O meu tio cometeu suicídio
O meu tio não era artista.
Ou era, não sei.
Ele tocava piano.
Não sei.
Ele tinha 19 anos
Ele poderia vir a ser um artista.
Se ele viesse a ser um artista será que ele não teria cometido suicídio?
Se ele viesse a ser um artista será que ele teria cometido suicídio?
Suicídio
Suicídio
Suicídio
É pra dentro.
É bem pra dentro.
Ferida da alma.
Profunda
O corpo não tem mais razão de estar.
Aqui.
Agora.
Mas é agora.
E depois?
No momento da queda, ou um segundo depois de tomar o remédio
Esse segundo já não é agora
É depois.
Será que nesse segundo a camisa dele não podia agarrar num galho de árvore
Ele ficar preso de cabeça pra baixo no chão
Começar a chorar e agradecer
Agradecer muito por ter ficado vivo
Naquele segundo
ele se sentir profundamente agradecido por estar vivo
e depois ter um ataque de riso
olhar pro irmão que estava olhando para ele da janela do apartamento
e pedir: por favor me tira daqui
ME TIRA DAQUI!
O irmão sem saber como agir, chorando, pega uma escada gigantesca e tira o irmão dele de lá.
Eles se abraçam
E a vida continua vida.
Sem o suicídio carimbar essa família.
O suicídio carimba.
Flor bela de alma da conceição espanca
De alma.
Alma.
Aonde a alma dói.
Ai!
Ai!
é um lugar...
Infinito (para dentro)
Uma tortura
E como ser depois de vir do coração?
De tirar de dentro do peito a lúcida verdade
O sentimento.
No seu ponto de partida
O homem só tem instintos
Mais avançado e corrompido
Só tem sensações
Mais instruído e purificado
Tem sentimentos
O sentimento então é uma evolução da sensação.
Quirom é um planeta?
A sentimentação
O ser neutro virou um ser sentimentado
Enfim…
Quirom é um satellite
Assim como a Lilith
É mutável
Quirom mostra a ferida da alma.
Filho de cronos com uma ninfa
Era metade homem metade cavalo
Tinha o poder de curar as pessoas
Mas tinha uma grande ferida na alma
ter sido abandonado por sua mãe por ela ter vergonha de sua condição.
Um dia sem querer, leva uma flechada na pata traseira
E fica para sempre a mostra uma ferida com um cheiro terrível
Justamente no lugar em que ele mais ressentia
Sua parte cavalo.
Eu não sei onde está o meu quirom
Preciso saber
Urgente
Mas a Lilith o astrólogo me disse
A progesterona
Uma progesterona que estava concorrendo comigo- ele disse
Agiu como um louco- ele disse- andou para um lado e olhou para outro.
Ai! Ai!
Ferida na alma!
Quiron!
Quando tem Lilith é para se ficar atento
Progesterona pede atenção.
A Progesterona que é produzida no ovário.
Ferida na alma.
Quantas feridas na alma vai se acumulando no caminho
Desse grande movimento
dentro desse planeta
que órbita
nessa galaxia.
Galaxia
Via Láctea
Outras vias
Muitas outras vias…
Ser supremamente pessoal para ser coletivo.
Ser supremamente pessoal para ser coletivo
Ser supremamente pessoal para ser coletivo.
Não é impunemente que se nasce mulher.
E mulher artista.
O artista é um traumatófilo
Elementar lhe dar com a falta
Elemento se dá com falta.
Nós existimos principalmente pela nossa ausência
Isso é da Louise
Bourgeois.
O trauma
Experiência psicológica muito agressiva
Os soldados quando voltavam da primeira Guerra
Não conseguiam…
Não conseguiam…
E como ser depois de vir do coração?
O pó, o nada…
Não conseguiam falar o que viveram
Falar
Acessar
A ferida da alma
Eu não lembro
Como foi quando meu pai saiu de casa
Elementar lhe dar com a falta
Ser supremamente pessoal para ser coletivo
Ser supremamente pessoal para ser coletivo
Não é essa a magia da grande arte?
Os artistas devem procurar a inspiração no seu âmago
Quanto mais se aprofundarem em seu âmago, mais universais serão
O artista é um universo
O artista é um universo
O artista é um universo
O artista deve ser ouvido
E libertado
sempre
Isso é da Nirley
Será que ele queria voar?
Não é isso que todos queremos afinal?
Sair voando pela janela
Sair voando
Como ícaro
Que não se conteve em ter asas
Quis voar alto
Bem alto
Perto do sol
E o sol derreteu suas asas
E ele caiu
Morreu
Porque ícaro, querido ícaro
o homem não pode voar
Ele não se conforma
Com essa tristíssima contingência
Eu o entendo.
Voar alto
Bem alto
Sair da terra voando
E olhar todo o universo
No silêncio que deve ser lá em cima
E depois voar mais alto e ver a nossa galáxia
Bem pequenininha brilhando perto das outras
Que também o são.
E voltar
Depois de ser do coração.
E como voltar a ser depois de vir do coração?
Medo de morrer
Ela me respondeu
Quando eu disse que tinha medo na hora dormir.
Medo de morrer
Mas se a alma é separada do corpo
Morrer desse corpo
Pra perambular com alma pelo espaço pode ser bom.
Eu não quero morrer
Eu quero ficar viva
Mas e o desejo incontrolável de voar?
Da descoberta que a Terra gira em torno do Sol até o convívio com OVINIs
O teatro é uma arte que se utiliza da homem para falar dele mesmo. Uma metáfora do ser humano. De todas as artes talvez a mais humanista. A perspectiva sensível do homem sobre o mundo é a matéria-prima que imprime uma simplicidade essencial: a figura do ator (há quem discorde). É um pouco contraditório partir do universo como tema central da construção de uma peça, tema tão factual e amplo (o maior de todos), acreditando estar no homem a essência do teatro. É da curiosidade pela descoberta, ou da capacidade de inventar que este projeto surge. Existe um começo do universo? O que aconteceu antes dele? De onde ele surge e para onde ele vai? Qual é a natureza do tempo? Chegará ele a um fim? Desde o princípio o homem busca estas e outras respostas percorrendo um longo caminho de certezas provisórias, mentiras prazerosas, políticas de poder, fé, desenvolvimento científico e técnico... Enfim, toda teoria é crível até que se descubra o contrário. O que importa não é a verdade universal mas todas as mentiras sinceras que explicam nossa necessidade de compreender o universo. Quando Galileu prova que a Terra gira em torno do Sol e colabora com a criação da Física Moderna, ele quebra com a crença no Modelo Ptolomaico que persistia desde a Grécia Antiga. Acima de tudo, quando Galileu consegue comprovar através da observação, o modelo de Copérnico, e se livrar das esferas celestes e religiosas de Ptolomeu considerando o infinito, ele oferece ao homem a autonomia da descoberta, dando credibilidade ao seu modo de "olhar" o universo. No Renascimento surgem a figura do artista e as academias que diluem as fronteiras entre ciência e arte. A criação da perspectiva linear possibilita a reprodução da ideia de imitação da natureza, presente na Cultura Clássica. O espaço é uma experiência. A perspectiva é um pensamento sobre o espaço, e surge a partir da matemática: Uma forma de representação da realidade exterior; A representação do visível a partir de um ponto de vista individual e fixo; A produção de uma ilusão de profundidade. No momento que o homem se percebe perdido no espaço muito maior que o esperado, ele investe na sua própria inteligência, complexidade e solidão. No espaço infinito qualquer ponto pode ser considerado o centro. Leonardo da Vinci busca no "Homem Vitruviano" a relação de perfeição do corpo do ser humano com a grandiosidade do universo. O que vamos buscar? A relação desse tema com nosso dia-a-dia, dos pequenos acontecimentos às grandes coincidências. Vamos investigar, criar, inventar... As grandes teorias de conspirações envolvendo OVINIs; a aleatoriedade do horóscopo; a lua como assunto para se aproximar de alguém; ônibus espaciais; novas experiências com tempo/espaço; o nascimento de uma estrela; viagem no tempo; universos paralelos; realidade virtual; nebulosas... As associações mais humanas e sensíveis que pudermos fazer com o tema.
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quarta-feira, 4 de junho de 2014
Homem Vitruviano
O pintor italiano Leonardo da Vinci (1452 – 1519) é tido como uma das mais importantes figuras do Alto Renascimento. Embora tenha sido conhecido principalmente como pintor, era também cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Dentre os desenhos deixados por Leonardo, o Homem Vitruviano (ou o Homem de Vitrúvio)tornou-se um ícone cultural. Trata-se de um desenho encontrado em seus diários, feito por volta de 1490, que mostra o traçado e as proporções entre as diversas partes do corpo humano. Durante o Renascimento, muitos artistas, arquitetos e tratadistas puseram-se a interpretar os textos vitruvianos, para fazer novas representações gráficas, mas nenhum deles conseguiu combinar de forma harmoniosa e matemática as proporcionalidades do corpo humano e a solução da quadratura do círculo, conforme propunha Vitruvius. Dentre os desenhos que foram feitos, o de Leonardo da Vinci tornou-se o mais famoso e o mais difundido.
Duas diferentes posturas, formadas pela combinação das posições dos braços e das pernas. A figura humana com braços e pernas em cruz está contida dentro do quadrado. Enquanto aquela com braços e pernas abertos está contida no círculo. A postura em cruz delimita os lados do quadrado, enquanto que a postura com pernas e braços abertos delimita o círculo. A área das duas figuras geométricas é igual. O umbigo da figura humana é o seu real centro de gravidade que continua imóvel, embora pareça se mover. Examinando o desenho como um todo, pode-se notar que a combinação das posições dos braços e das pernas forma quatro posturas diferentes: braços e pernas em cruz, braços e pernas abertos, braços em cruz e pernas abertas, braços abertos (para o alto) e pernas unidas.
A razão de tê-lo chamado de Homem Vitruviano baseia-se no fato de que o arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio (I a. C.) apresenta no seu tratado sobre arquitetura, composto por uma série de dez livros, uma descrição sobre as proporções do corpo humano, usando como unidade de medida o dedo, o palmo e o antebraço, o que o levou a acreditar que um homem com as pernas e os braços abertos encaixaria perfeitamente dentro de um quadrado e de um círculo – figuras geométricas perfeitas. E, se o corpo humano fosse representado ao mesmo tempo, dentro das duas figuras, o umbigo, centro gravitacional da figura humana, coincidiria com o centro das duas figuras geométricas.
Vitrúvio tanto fez a sua apresentação em forma textual, como através de desenhos. Mas, com o passar dos anos, a descrição gráfica se perdeu, enquanto a obra passou a ser copiada. O homem descrito por Vitrúvio apresenta-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas, segundo o ideal clássico de beleza. Ele já havia tentado encaixar as proporções do corpo humano dentro da figura de um quadrado e um círculo, mas suas tentativas foram falhas.
O desenho do Homem Vitruviano reafirma o grande interesse de Leonardo da Vinci pela arte e ciência. No conceito da Divina Proporção, tão procuradas nas obras do Renascimento, dá-se a busca e definição das partes corporais do ser humano.
Para a filosofia a figura mostra mais que as proporções perfeitas, pois está repleta de símbolos, a figura presente na obra está dentro de um círculo e de um quadrado que tem relação com a numerologia sagrada, o círculo como símbolo da divindade e o quadrado símbolo da manifestação na matéria a partir da divindade.
A figura humana está totalmente integrada à estas figuras geométricas, demonstrando a relação do homem com o universo, o macrocosmo aqui como o universo e o microcosmo como o homem totalmente integrados.
A figura na posição de braços abertos longitudinais ao corpo formam uma cruz latina, símbolo da verticalização do homem em busca do sagrado com um trabalho na matéria (horizontal).
Desta maneira o Homem Vitruviano é um pentagrama, que é um símbolo estelar de cinco pontas representando o homem e sua relação também com os quatro elementos (terra, água, ar e fogo) que por sua vez tem relação com os quatro corpos da Personalidade e a cabeça como o elemento racional da Tríade que traz o poder de discernimento adquirido pela obtenção de conhecimento.
Marcus Vitruvius Pollio descreve no terceiro livro de sua série de dez livros intitulados De Architectura as proporções do corpo humano masculino. Eis algumas:
- O comprimento dos braços abertos de um homem (envergadura dos braços) é igual à sua altura.
- A distância entre a linha de cabelo na testa e o fundo do queixo é um décimo da altura de um homem.
- A distância entre o topo da cabeça e o fundo do queixo é um oitavo da altura de um homem.
- A distância entre o fundo do pescoço e a linha de cabelo na testa é um sexto da altura de um homem.
- O comprimento máximo nos ombros é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre a o meio do peito e o topo da cabeça é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre o cotovelo e a ponta da mão é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre o cotovelo e a axila é um oitavo da altura de um homem.
- O comprimento da mão é um décimo da altura de um homem.
- A distância entre o fundo do queixo e o nariz é um terço do comprimento do rosto.
- A distância entre a linha de cabelo na testa e as sobrancelhas é um terço do comprimento do rosto.
- O comprimento da orelha é um terço do da face.
- O comprimento do pé é um sexto da altura.
- Face -> do queixo ao topo da testa = 1/10 da altura do corpo.
- Palma da mão -> do pulso ao topo do dedo médio = 1/10 da altura do corpo.
- Cabeça -> do queixo ao topo = 1/8 da altura do corpo.
- Base do pescoço às raízes do cabelo = 1/6 da altura do corpo.
- Meio do peito ao topo da cabeça = 1/4 da altura do corpo.
- Pé = 1/6 da altura do corpo.
- Largura do peito = 1/4 da altura do corpo.
- Largura da palma da mão = quatro dedos.
- Largura dos braços abertos = altura do corpo.
- Umbigo = centro exato do corpo.
- Base do queixo à base das narinas = 1/3 da face.
- Nariz -> da base às sobrancelhas = 1/3 da face.
- Orelha = 1/3 da face.
- Testa = 1/3 da face.
sexta-feira, 30 de maio de 2014
Tão obvio quanto a Terra girar em torno do Sol, ou tão ridículo quanto uma torre de tartarugas
Um famoso cientista - alguns dizem que foi Bertrand Russell - , fazendo uma conferência sobre astronomia, descreveu como a Terra gira em torno do Sol, por sua vez, gira em torno do centro de uma vasta coleção de estrelas chamada galáxia. No final da conferência, uma senhora baixinha e idosa levantou-se ao fundo da sala e falou:
- O que o senhor acaba de nos dizer é tolice. O mundo, na verdade, é um objeto achatado, apoiado nas costas de uma tartaruga gigante.
- O que o senhor acaba de nos dizer é tolice. O mundo, na verdade, é um objeto achatado, apoiado nas costas de uma tartaruga gigante.
O cientista sorriu com superioridade antes de replicar:
- E sobre o que se apoia a tartaruga?
- Você é muito esperto rapaz, muito esperto - disse a velhinha - mas existem tartarugas marinhas por toda extensão embaixo dela.
- E sobre o que se apoia a tartaruga?
- Você é muito esperto rapaz, muito esperto - disse a velhinha - mas existem tartarugas marinhas por toda extensão embaixo dela.
Muitas pessoas podem julgar esta imagem de nosso universo como uma torre infinita de tartarugas absolutamente ridículas, mas por que pensar que sabemos mais? O que sabemos sobre o universo e como sabemos? De onde surge e para onde ele vai? Existe um começo do universo e, se existe, o que aconteceria antes dele? Qual é a natureza do tempo? Recentes avanços da física, possíveis em parte pela fantástica tecnologia moderna, apontam caminhos para algumas dessas velhas questões. Algum dia, talvez, essas respostas possam ser tão obvias para nós quanto o fato de a Terra girar em torno do Sol; ou, tão ridículas quanto a imagem da torre de tartarugas.
(Retirado do livro "Uma Breve História do Tempo, do Bing Bang aos Buracos Negros" de Stephen W. Hawking)
quinta-feira, 29 de maio de 2014
Via Láctea
Vivemos numa galáxia que tem aproximadamente 100 mil anos-luz de diâmetro e rotação lenta: as estrelas em seus braços espirais giram em torno de seu centro, uma vez a cada muitas centenas de milhões de anos. Nosso sol é apenas uma estrela comum, de porte médio e amarela, perto do limite mais interno de um dos braços espirais. Percorremos certamente um longo caminho desde Aristóteles e Ptolomeu, quando se pensava que a Terra era o centro do universo.
Albert Einstein (1879-1955)
A ligação de Einstein com a política da bomba nuclear é bastante conhecida: ele assinou a famosa carta ao presidente Franklin Roosevelt persuadindo os Estados Unidos a assumir com seriedade a ideia, e se engajou, no pós-guerra, em esforços para a prevenção da guerra nuclear. Mas estas não eram apenas as ações isoladas de um cisentista mergulhado no universo da política. A vida de Einstein foi de fato, para usar suas próprias palavras, "dividida entre ações políticas e as equações".
Os primórdios das atividades políticas de Einstein acontecera durante a Primeira Guerra Mundial, quando ele era professor em Berlim. Angustiado pelo que percebia como desperdício de vidas humanas, envolveu-se em demonstrações antibélicas.
Sua defesa da desobediência civil e o estímulo púbico para que as pessoas recusassem o recrutamento pouco fez para que ele se tornasse benquisto entre seus pares. Depois, em seguida à guerra, ele dirigiu seus esforços para a reconciliação e o desenvolvimento das relações internacionais. Isto também não o tornou popular e em breve suas atividades políticas dificultavam suas viagens aos Estado Unidos, mesmo para fazer conferências.
A segunda grande causa de Einstein era o sionismo. Embora de descendência judaica, ele rejeitava o conceito bíblico de Deus. Entretanto, uma consciência crescente do anti-semitismo, tanto antes como durante a Primeira Guerra Mundial, levou-o gradualmente a se identificar com a comunidade judaica e, mais tarde, a se tornar defensor sincero do sionismo. Mais uma vez, a falta de popularidade não o impediu de dizer o que pensava. Suas teorias começaram a ser atacadas; uma organização anti-Einstein chegou a ser fundada. Um homem foi condenado por incitar outros a assassinarem Einstein (e pagou a ninharia de 6 dólares). Mas o cientista não se abalava: quando um livro intitulado Cem autores contra Einstein foi publicado, ele revidou: "Se estivéssemos errados, um autor apenas seria o suficiente.".
Em 1933, Hitler subiu ao poder. Einstein estava na América e declarou que não voltaria à Alemanha. Então, quando a polícia nazista invadiu sua casa e confiscou sua conta bancária, um jornal de Berlim publicou escandalosamente a seguinte manchete: "Boas notícias de Einstein: ele não vai voltar." Face à ameaça nazista, Einstein renunciou ao pacifismo e temendo que eventualmente os cientistas alemães viessem a construir a bomba nuclear, propôs que os Estado Unidos desenvolvessem a sua. Mas mesmo antes que a primeira bomba atômica fosse detonada, ele advertia publicamente sobre os perigos da guerra nuclear e propunha o controle internacional do armamento nuclear.
Durante toda sua vida, os esforços de Einstein em favor da paz provavelmente atingiram um mínimo esperado e certamente garantíram-lhe poucos amigos. Seu apoio verbal à causa sionista, entretanto, foi devidamente reconhecido em 1952, quando lhe foi oferecida a presidência de Israel. Ele recusou, alegando ser muito ingênuo politicamente. Mas talvez seu verdadeiro motivo fosse outro, citando-o mais uma vez: "As equações são mais importantes para mim porque a política é feita para o presente, ao passo que uma equação é algo para toda a eternidade."
(Retirado do livro "Uma Breve História do Tempo, do Bing Bang aos Buracos Negros" de Stephen W. Hawking)
Os primórdios das atividades políticas de Einstein acontecera durante a Primeira Guerra Mundial, quando ele era professor em Berlim. Angustiado pelo que percebia como desperdício de vidas humanas, envolveu-se em demonstrações antibélicas.
Sua defesa da desobediência civil e o estímulo púbico para que as pessoas recusassem o recrutamento pouco fez para que ele se tornasse benquisto entre seus pares. Depois, em seguida à guerra, ele dirigiu seus esforços para a reconciliação e o desenvolvimento das relações internacionais. Isto também não o tornou popular e em breve suas atividades políticas dificultavam suas viagens aos Estado Unidos, mesmo para fazer conferências.
A segunda grande causa de Einstein era o sionismo. Embora de descendência judaica, ele rejeitava o conceito bíblico de Deus. Entretanto, uma consciência crescente do anti-semitismo, tanto antes como durante a Primeira Guerra Mundial, levou-o gradualmente a se identificar com a comunidade judaica e, mais tarde, a se tornar defensor sincero do sionismo. Mais uma vez, a falta de popularidade não o impediu de dizer o que pensava. Suas teorias começaram a ser atacadas; uma organização anti-Einstein chegou a ser fundada. Um homem foi condenado por incitar outros a assassinarem Einstein (e pagou a ninharia de 6 dólares). Mas o cientista não se abalava: quando um livro intitulado Cem autores contra Einstein foi publicado, ele revidou: "Se estivéssemos errados, um autor apenas seria o suficiente.".
Em 1933, Hitler subiu ao poder. Einstein estava na América e declarou que não voltaria à Alemanha. Então, quando a polícia nazista invadiu sua casa e confiscou sua conta bancária, um jornal de Berlim publicou escandalosamente a seguinte manchete: "Boas notícias de Einstein: ele não vai voltar." Face à ameaça nazista, Einstein renunciou ao pacifismo e temendo que eventualmente os cientistas alemães viessem a construir a bomba nuclear, propôs que os Estado Unidos desenvolvessem a sua. Mas mesmo antes que a primeira bomba atômica fosse detonada, ele advertia publicamente sobre os perigos da guerra nuclear e propunha o controle internacional do armamento nuclear.
Durante toda sua vida, os esforços de Einstein em favor da paz provavelmente atingiram um mínimo esperado e certamente garantíram-lhe poucos amigos. Seu apoio verbal à causa sionista, entretanto, foi devidamente reconhecido em 1952, quando lhe foi oferecida a presidência de Israel. Ele recusou, alegando ser muito ingênuo politicamente. Mas talvez seu verdadeiro motivo fosse outro, citando-o mais uma vez: "As equações são mais importantes para mim porque a política é feita para o presente, ao passo que uma equação é algo para toda a eternidade."
(Retirado do livro "Uma Breve História do Tempo, do Bing Bang aos Buracos Negros" de Stephen W. Hawking)
![]() |
Albert Einstein |
História da Astronomia 1
(Síntese feita a partir dos
livros "Uma Breve História
do Tempo, do Bing Bang aos Buracos Negros", "O Universo numa Casca de
Noz" de Stephen W. Hawking, "Astronomia" de Jan
Ridpath e “Poeira das Estrelas” de Marcelo Gleiser)
A astronomia é chamada a mais
antiga das ciências. Desde a aurora da civilização o homem luta para entender os
complexos movimentos dos corpos celestes, e incontáveis monumentos e artifícios
refletem essa fascinação.
A gruta de Lascaux, na região dos
Pirineus, França, guarda em suas paredes desenhos feitos há 17 mil anos, de
animais que, segundo interpretações recentes, representam as constelações
visíveis no céu naquele momento. A gruta só é iluminada num único dia do ano, o
solstício de inverno, e foi descoberta por acaso em setembro de 1940, por
quatro adolescentes que exploravam a região.
Stonehenge, sítio arqueológico
localizado em Amesbury, interior da Inglaterra, é um dos primeiros instrumentos
astronômicos que se tem notícia, servindo para marcar o movimento do Sol ao
longo do ano. Os celtas que viviam na região há cerca de 3.500 anos,
construíram o monumento usando pedras de até 40 toneladas cada uma, trazidas de
uma pedreira situada a 30 quilômetros de distância. Como conseguiram até hoje
não se sabe exatamente.
Os egípcios adoravam o Sol como a
um deus. As pirâmides do Egito, erguidas por volta de 2.500 a.C, corporificam
alinhamentos astronomicamente significativos baseados no conhecimento do céu
(como é o caso de Quéops alinhada com a estrela polar).
TRADIÇÃO BABILÔNIA:
O verdadeiro berço da astronomia
foi o Oriente Médio. Várias civilizações antigas estudaram o céu e seus ciclos,
mas os babilônios alcançaram sofisticação (ajudados pelos sumérios que os
precederam na Mesopostâmia). Duas
pequenas tábuas de argila cozida produzidas por volta de 1.500 a.C pelos
habitantes do Iraque atual resumem informações sobre os movimentos das estrelas
e dos planetas. A tábua de Amizaduga detalha o movimento do planeta Vênus
durante 21 anos, prognosticando sucesso e desastre em guerras, variações
climáticas, períodos de fome assim como nascimento de reis, príncipes e nações.
A lista de estrelas e constelações que conheciam atesta uma antiga tradição de
observação celeste. Algumas constelações como Leão e Escorpião chegaram até nós
quase inalteradas. Os babilônios deram outra grande contribuição à astronomia:
mediram a duração do ano em 360 dias, dividiram o círculo do céu em 360 graus,
subdividiram cada grau em 60 partes e introduziram o dia de 24 horas, cada hora
dividida em 60 partes.
Para os babilônios os céus eram
divinos. Conhecer seus movimentos significava conhecer as intenções dos deuses.
Assim originou-se a astrologia babilônica, que tentava relacionar o movimento e
as posições dos objetos celestes com premonições e agouros.
(Na metade do século 19 foi descoberta no palácio de Ninawa, no Iraque, uma pequena tábua de pedra cuneiforme, que após uma análise mais detalhada na época foi concluído que tratava-se de um planisfério, ou seja, um objeto com anotações feitas a milhares de anos por um astrônomo sobre o posicionamento de alguns corpos celestes.)
A VISÃO GREGA:
O conhecimento da astronomia
babilônia chegou à Grécia cerca de 600 a.C. Os babilônios interessavam-se
sobretudo por adivinhar augúrios celestes - o que chamaríamos de astrologia -,
mas o gregos procuravam compreender os princípios físicos segundo os quais o
universo funcionava, começando a separar a ciência da superstição.
Influenciados pelo conhecimento matemático e astronômico dos babilônios e dos
egípcios, os gregos começaram a refletir sobre a natureza, a origem do mundo e
os fenômenos naturais usando a razão, e não a religião, como ferramenta de
descoberta. Nasceu assim a filosofia natural, o método que utiliza argumentos
racionais para descrever fenômenos da natureza.
Tudo indica que o primeiro
filósofo foi Tales, que viveu por volta de 600 a.C, na cidade de Mileto, hoje
parte da costa oeste da Turquia. Figura lendária, pouco sabemos dele.
Infelizmente, como ocorreu com a maioria dos chamados filósofos pré-socráticos,
nada restou dos seus escritos. Tales teria previsto um eclipse solar que interrompeu
uma guerra: verdade ou não, a história mostra que ele tinha fama de conhecer
bem astronomia. A importância filosófica de Tales é atribuída ao fato de ter
sido ele o primeiro a se questionar sobre a natureza material das coisas. Mais
precisamente, foi o primeiro a perguntar do que tudo é feito, qual a composição
da matéria. Essa é uma pergunta essencialmente científica, já que procura
encontrar uma explicação material para o mundo.
Por volta de 570 a.C nasceu outro
grande pioneiro da filosofia, Pitágoras. Para Pitágoras a matemática
representava a linguagem da natureza, a ponte entre a razão humana e os
segredos do mundo natural. A função do filósofo era estudar as relações entre
os números e as formas, desvendando a estrutura racional do cosmo.
Demócrito (400 a.C) juntamente
com Leucipo, é considerado o criador da doutrina atomista. Segundo os
atomistas, tudo no cosmo é feito de pequenas partículas indivisíveis chamadas
átomos – o que não pode ser cortado. Esses átomos, infinitos em número, podiam
combinar-se para dar origem às várias formas e aos vários fenômenos que
observamos no mundo natural. Mesmo que os átomos da ciência moderna sejam bem
diferentes daqueles dos atomistas (podem ser divididos e não são infinitos em
número), a idéia de que a matéria é composta de pequenos tijolos fundamentais
permanece viva até hoje.
Sócrates, por sua vez, rebelou-se
contra o pensamento materialista de alguns de seus antecessores, preocupando-se
mais com questões morais e legais, a filosofia dos homens e sua organização
social. Porém um de seus discípulos, Platão, voltou a refletir sobre questões
metafísicas, incluindo a natureza da realidade. Segundo ele, a realidade podia
ser dividida em duas partes: a das idéias, a realidade mental e a dos sentidos,
a realidade sensorial. Platão era um grande admirador da razão humana e da
nossa capacidade de descrever a realidade em termos matemáticos. Acreditava que
o cosmo era produto de uma divindade inteligente que chamou de Demiurgo, um
profundo conhecedor da geometria. Já a realidade sensorial era suspeita,
traiçoeira. Platão postulou que o cosmo, sendo produto de uma mente superior,
devia refletir em sua estrutura as proporções ideais da geometria. Portanto,
como já haviam postulado os pitagóricos, a Terra, a Lua, e Sol eram esféricos,
dado que a esfera é a forma mais perfeita. Pela mesma razão, as órbitas
celestes só podiam ser circulares.
Eudóxio, um astrônomo grego do século IV a.C,
desenvolveu um sistema de 27 esferas cristalinas, aninhadas umas dentro das
outras girando em torno de diferentes eixos e velocidades, que deslocavam os
corpos celestes ao redor de uma Terra esférica.
As idéias de Platão sobre a forma
dos astros e suas órbitas foram herdadas por seu discípulo Aristóteles.
Aristóteles acreditava que a Terra era estática e que o Sol, a Lua, os planetas
e as estrelas giravam em órbitas circulares à sua volta. Acreditava nisso por
razões místicas que a Terra fosse o centro do universo e a órbita circulara
mais perfeita. Como a maioria dos filósofos gregos, Aristóteles não concordava
com a idéia de criação porque ela contém muitos indícios da intervenção divina.
Acreditava que o mundo e a raça humana sempre tenham existido. Afirmava que os
dilúvios periódicos, e outros desastres devolviam os humanos aos princípios da
civilização. Em seu livro "Sobre o Firmamento" (340 a.C) evidenciou
três bons argumentos para sustentar a crença de que a Terra era uma esfera e
não um corpo achatado:
- Os eclipses da lua (Causados pelo posicionamento
da Terra ao se colocar entre o Sol e a Lua) - A sombra projetada na Lua era
sempre redonda. Se a Terra fosse um disco sua sombra seria alongada e elíptica,
a menos que o eclipse sempre ocorresse quando o sol estivesse diretamente sobre
o centro do disco.
- A estrela polar - Os gregos sabiam por suas
experiências em viagens, que a estrela polar parecia mais baixa no céu quando
vista do sul do que se observada de regiões mais ao norte. Uma vez que a
estrela fica sobre o pólo norte, um observador que aí se encontre, perceberá a
estrela sobre si, mas alguém no equador a observa exatamente na linha do
equador. Da diferença na posição aparente da estrela polar no Egito e na
Grecia, Aristóteles fez uma estimativa que a distancia em volta da Terra era de
400mil estádias (Não se conhece a medida exata de uma estádia, mas deve ser
próxima de 180m, o que tornaria a estimativa duas vezes maior que a atual
aceita).
- As velas dos navios - Observou que primeiro as
velas de um navio aparece no horizonte e só depois o casco.
Hiparco compilou o primeiro
catálogo preciso das estrelas visíveis a olho nu, no século II a.C. Além de medir
suas posições ele classificou a estrelas em seis categorias de brilho, criando
a escala de magnitude usada hoje.
No século II d.C, Ptolomeu
sintetizou o conhecimento astronômico grego na obra Almagesto (que
significa: o maior), contendo uma versão atualizada do catálogo de estrelas de
Hiparco usado até hoje, e formulou um modelo cosmológico completo adotado
pela religião e pela filosofia que dominou durante toda a Idade Média. A
Terra ficaria no centro, circundada por oito esferas: a Lua, o Sol, as estrelas,
Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. A esfera mais afastada seria das
estrelas, que manteriam sempre a mesma posição relativa entre si, girando
juntas através do céu. O que havia além da última esfera jamais ficou
esclarecido.
O modelo de Ptolomeu estabelecia
um sistema razoavelmente preciso, porém teve que pressupor que a Lua seguia uma
trajetória tal que em algumas épocas a levava duas vezes mais próxima da Terra
que em outras. Ptolomeu reconheceu essa falha. Apesar da falha o sistema foi
aceito no geral, adotado pela Igreja Católica como a imagem do universo
que correspondia às escrituras, porque garantia espaço fora da esfera das
estrelas, para o céu e o inferno.
(Figura: Andreas Cellarius, Harmonia Macrocosmica, Amsterdam, 1660. O modelo geocêntrico de Ptolomeu.)

ASTRONOMIA NO EXTREMO
ORIENTE:
Os chineses reconheciam 283
constelações, muitas pequenas e sem brilho. Os gregos viam no céu animais e
heróis mitológicos, e as constelações chinesas representavam cenas da corte e
da vida social. Os astrônomos do Extremo Oriente valorizavam fenômenos
inesperados chamados "estrelas visitantes", que hoje conhecemos como
cometas, novas e supernovas. Entre os eventos descritos estava a explosão de
uma supernova que deu origem à nebulosa de Caranguejo em 1054 d.C.
CONSTELAÇÕES ÁRABES:
Com o declínio da civilização
greco-romana, e a ascensão da Igreja Católica a partir do século III, o foco
intelectual havia mudado. Santo Agostinho, o grande teólogo cristão que viveu
por volta de 400 d.C, proclamou profano qualquer interesse nos afazeres da
natureza “Acima da tentação carnal (...) existe também a tentação da mente
(...) em busca de conhecimento e sabedoria”. A salvação eterna só seria
alcançada através da completa devoção a Deus e à religião. A curiosidade sobre
o mundo foi reprimida e, na Europa Medieval, praticamente esquecida. Quando os
árabes invadiram a Europa, levaram com eles os textos dos grandes filósofos
gregos. O centro da investigação astronômica transferiu-se para Bagdá, onde
foram traduzidos para o árabe escritos de Ptolomeu, Platão, Arquimedes,
Pitagorás.... Entre os séculos X e XIII
os obras gregas antigas foram reintroduzidas na Europa.
Pouco antes de 1000 d.C, o
astrônomo árabe Al-Sufi produziu uma versão revista do catálogo de estrelas de
Ptolomeu com o desenho de todas as constelações: O livro das estrelas
fixas.
O RENASCIMENTO DA ASTRONOMIA
OCIDENTAL:
Com a expansão das cidades, o poder e a afluência da
aristocracia aumentam. Pintores, escultores, músicos e astrólogos são
convidados a integrar várias cortes, dividindo com seus patronos suas criações
artísticas e especulações filosóficas. Os livros, antes copiados manualmente,
passam a ser impressos por máquinas, o que acelera sua produção e diminui seu
preço. No século XV, começam as explorações marítimas em busca de novas rotas
de acesso à Ásia, o “caminho das Índias”. O mundo cresce, os europeus são
expostos a “novas” (na verdade muito mais antigas) culturas, algumas julgadas
primitivas, como a costa leste das Américas, e outras sofisticadas, como a
China e a Índia. É também no século XV que a Igreja começa a perder sua
hegemonia. Na Alemanha, Martinho Lutero (1483-1546) propõe uma fé alternativa,
protestando contra a concentração de poder e a comercialização do cristianismo
pregado pelo Vaticano. É nesse clima de questionamento religioso, de
renascimento das artes e do espírito de exploração que cresce Nicolau
Copérnico, o polonês que irá pôr o Sol no centro do cosmo.
Nicolau Copérnico (um padre e
astrônomo polonês) propôs no séc.XVI um modelo mais simples em que o Sol fosse
o centro estático, em torno do qual a Terra e outros planetas se deslocavam em
órbitas circulares. Copérnico reviveu a teoria heliocêntrica proposta pelo
filósofo grego Aristarco de Samos (310-230 a. C.). Lutero zombou das
idéias de Copérnico, afirmando que um certo astrônomo queria virar a astronomia
do avesso, fazendo a Terra girar em torno do Sol como se fosse um carrossel.
Copérnico divulgou anonimamente por medo de ser considerado herege.
Copérnico também temia a critica de outros astrônomos, embora seu livro Sobre
as revoluções das esferas celestes (venderam-se tão poucos exemplares
que a obra foi apelidada de "o livro que ninguém leu") tenha sido
publicado em 1543, suas idéias já estavam formadas 1510. A história de
Copérnico termina de forma trágica. Adoentado, entrega o manuscrito de sua
grande obra a Rethicus, seu único discípulo. O jovem é incumbido de levar o
manuscrito a Nuremberg. Dedido a problemas pessoais (alguns historiadores
afirmam que Rethicus era homossexual e teve que fugir às pressas), a obra acaba
nas mãos de Andreas Osiander, um teólogo luterano contra as idéias de
Copérnico. Osiander adiciona ao livro um prefácio no qual afirma que as idéias
ali encontradas são mera ficção, apenas um modelo matemático, útil para
calcular a posição dos planetas, embora não correspondesse à realidade. O
detalhe perverso é que Osiander assina o prefácio em nome de Copérnico, como se
o próprio astrônomo considerasse o cosmo heliocêntrico uma abstração. Quase um
século se passou para a hipótese ser considerada com seriedade.
Curiosidade: Muito antes de Copérnico, outros
pensadores já haviam proposto modelos heliocêntricos do cosmo. Os primeiros
registros constam de manuscritos religiosos da antiga Índia, no século VII a.C.
Mas foi Ariabata, astrônomo e matemático hindu que viveu entre os anos 476 e
550 d.C, quem apresentou o modelo mais elaborado: além de propor que a Terra
girava em torno do Sol, disse ainda que a Terra girava em torno do próprio eixo
e que a luz da Lua era, na verdade, a luz do Sol refletida.
Johanner Kepler foi o primeiro a desmascarar
abertamente a trapaça literária de Osiander. Sabia que o astrônomo polonês
jamais teria escrito aquilo. Afinal, Copérnico havia dedicado seu livro ao papa
Paulo III, enfatizando sua opinião de que a bíblia não deveria ser usada para
descrever fenômenos celestes. Em 1593, teve aulas com o professor de astronomia
Michael Maestlin, um copernicano às escondidas que ensinava a alguns alunos as
idéias heliocêntricas do mestre polonês, enquanto publicamente passava por
aristotélico. Kepler foi profundamente influenciado pelas idéias copernicianas
de seu mestre. Para ele o Sol, e apenas
ele, poderia ser o centro do cosmo por motivos essencialmente religiosos. Do
Sol vem a luz que ilumina o cosmo, que dissipa as trevas da noite; do Sol vem o
calor que torna a vida possível. Kepler propõe uma analogia entre a Santíssima
Trindade e o cosmo: o pai é o Sol, no centro; o filho, a esfera das estrelas
fixas, nos confins do universo; e o espírito santo é a luz, a energia que flui
do pai ao filho. Em 1596 com 25 anos, publicou seu primeiro livro O mistério cosmográfico, onde defende
que o Sol não só era o centro do cosmo como também causava o movimento dos
planetas à sua volta. Kepler propôs uma interação entre o Sol e os planetas,
uma espécie de ressonância entre suas “almas”. No livro Kepler vai além. Não se
contentando em investigar a causa dos movimento planetários, propõe também uma
explicação para a distância entre cada uma dele e o Sol. Vê-se no título do
livro, uma preocupação com a “cosmografia”, uma preocupação com o arranjo
espacial do universo. Influenciado pelos pitagóricos, ele acreditava que a
geometria, e só ela, era capaz de explicar o arranjo do cosmos. Deus era a
inteligência suprema, e a geometria, a língua a língua com que Ele se
comunicava com a mente humana. Portanto cabia aos homens desvendar os mistérios
da natureza usando a geometria. A
ciência para Kepler, era um veículo de idolatria. Para explicar as distâncias,
usou os cinco sólidos platônicos, as cinco figuras mais regulares da geometria
tridimensional, e criou um arranjo em que cada planeta girava em uma esfera.
Kepler veio de uma família humilde e profundamente
problemática. A mãe, acusada de bruxaria, quase acabou seus dias queimada na
fogueira. O pai, um mercenário de reputação duvidosa acabou abandonando a
família após anos de abusos. Na vida adulta as coisas não melhoraram. No início
do século XVII, e Europa estava dividida pelas disputas religiosas entre católicos e protestantes. Kepler foi
vítima desses conflitos: era um luterano que servia as cortes católicas, vivia
sob constante perseguição. Kepler que na época trabalhava em Graz, na
Austrália, foi exilado pelos líderes católicos, que decretaram a conversão ou
expulsão de todos os líderes da cidade. Sem ter para onde ir, em 1600 foi
convidado ao castelo do nobre dinamarquês Tycho Brahe (o maior astrônomo da
época, matemático imperial da corte de Rodolfo II), nos arredores de Praga.
Tycho era o oposto de Kepler, cresceu como um
príncipe e viveu como tal. Contrariou a família, recusando-se a seguir a
carreira diplomática, encantado desde cedo com a astronomia. Com muito dinheiro
e muita paixão, construiu os maiores e maios precisos instrumentos astronômicos
que o mundo jamais vira, sextantes e quadrantes, pesando toneladas. Logo obteve
resultados que lhe conquistaram fama por toda a Europa. Em 1572, mostrou que
uma “nova estrela”, que surgiu na constelação de Cassiopéia e brilhou nos céus
durante meses, estava bem mais longe que a Lua. Em 1577, seguiu o movimento de
um cometa concluindo que se encontrava muito distante. O rei da Dinamarca ficou
tão impressionado com as descobertas de Tycho que lhe deu uma ilha inteira para
transformá-la num observatório astronômico. A personalidade tirânica de Tycho,
porém, causou-lhe problemas. Cristiano IV, o sucessor do reino da Dinamarca,
cortou-lhe o salário e tirou-lhe os direitos sobre a ilha. Tycho viu-se forçado
a procurar outro patrono. Foi então que se uniu a Rodolfo II em Praga. Em 1600,
mudou-se para o Castelo de Benatky onde Kepler foi ao seu encontro.
A relação entre Kepler e Tycho não poderia ter sido
mais tempestuosa. Kepler precisava dos dados de Tycho, estava convencido de que
com eles, demonstraria de uma vez por todas que seu arranjo cósmico estava
correto. Tycho por sua vez contava com o talento matemático de Kepler para
comprovar seu modelo cósmico. Por motivos religiosos, Tycho não gostava da
idéia de ter o Sol como centro. Conservador na leitura da Bíblia, não encontrou
menção que a Terra se movia. Propôs um modelo segundo o qual a Terra
permaneceria no centro, o Sol girava à sua volta, e todos os planetas giravam
em torno do Sol.
Kepler não escondeu suas intenções e seu entusiasmo
pelas idéias de Copérnico, e Tycho furioso , recusou-se a fornecer-lhe dados,
resultado de décadas de estudo. Como concessão, cedeu-lhe apenas observações
relativas ao planeta Marte. Depois de nove anos Kepler publicou um livro sobre
sua órbita criando uma nova astronomia. No livro Astronomia nova Kepler chega a duas conclusões revolucionárias:
primeiro que as órbitas planetárias não eram círculos, mas elipses (o círculo
deixava de ser a figura geométrica mais importante da astronomia); em segundo
lugar demonstrou que sua conjectura sobre a interação entre o Sol e os planetas
estava correta. Em vez de “alma”, sugeriu que forças magnéticas causavam as
órbitas planetárias. Influenciado pelas idéias do inglês William Gilbert, que
havia demonstrado que a Terra era um gigantesco imã. Kepler abriu as portas
para um novo cosmo, onde os movimentos celestes obedecem a leis matemáticas
precisas e nada ocorre sem uma causa física.
Curiosidade: No dia 17 de outubro de 1604, Kepler
observou que uma estrela extremamente
brilhante havia aparecido na constelação de Ofiúco, na Via Láctea. Kepler
descreveu a observação em detalhes na obra De
Stella Nova in Pede Serpentarii. Ele não sabia, mas era uma supernova,
explosão resultante do colapso de uma estrela maciça. Mais tarde, em sua
homenagem, a estrela recebeu o nome de “supernova de Kepler”. Essa foi a última
explosão de supernova observada até hoje na Via Láctea.
GALILEU
GALILEI (1564-1642):
Ao mesmo tempo em que era criada uma
nova astronomia na Europa Central, na Itália, outro revolucionário contestava o
saber aristotélico, proclamando que não só no céu, mas também na Terra, uma
nova física era necessária. Na mesma época em que Kepler fugia de perseguições
religiosas de uma cidade a outra, a Igreja Católica enfrentava agressivamente o
desafio crescente dos protestantes com a Contra-Reforma, que visava fortalecer
novamente as bases. A ordem dos Jesuítas foi criada em 1540, com o intuito de
espalhar os ensinamentos da fé católica, mesmo que a custa de conversões
forçadas de judeus, muçulmanos e das populações nativas das colônias. A Sagrada
Inquisição zelava pelos interesses da Igreja. Exceções eram inaceitáveis:
aqueles que se opunham à Igreja sofriam conseqüências terríveis. Em 1600, o
monge beneditino e filósofo Giordano Bruno foi queimado em praça pública no
coração de Roma. Seu crime foi ter propagado os ensinamentos de Copérnico,
proclamando não só que o Sol ser o centro do cosmo, como também que existiam
infinitos outros sóis e planetas espalhados pelo espaço. Bruno recusou-se a
abjurar suas idéias e pagou com a vida.
Os
experimentos do jovem de vinte poucos anos, Galileu Galilei, na década de 80 do século XVI realizados na
Itália, ajudaram a fundar a física moderna. Ele deixou cair objetos de
diferentes pesos de uma torre alta e descobriu que todos chegavam no solo ao
mesmo tempo contrariando cientistas aristotélicos. Descobriu ainda que a
velocidade de um objeto em queda dobrava a cada 9,8m que caia - número
constante mais tarde conhecido como aceleração pela gravidade.
O
famoso conflito com a Igreja Católica se demonstrou fundamental para sua
filosofia; é dele a argumentação pioneira de que o homem pode ter expectativas
de compreensão do funcionamento do universo e que pode atingi-la através da
observação do mundo real.
Galileu
foi o grande pioneiro do que chamamos de “método científico”: hipóteses e
teorias sobre fenômenos naturais tem que ser comprovadas através de
experimentos ou, quando isso é impossível – como, por exemplo, da astronomia ou
da paleontologia -, através de observações e materiais analisados
cuidadosamente.
Acreditou
na teoria de Copérnico (de que os planetas giram em torno do Sol) desde o
começo, mas foi apenas quando encontrou a evidência necessária à sustentação da
hipótese que ele passou a defendê-la publicamente. A teoria Aristotélico-Ptolomaica foi destruída em
1609, no ano em que Galileu começou a observar o céu à noite, através de um
telescópio que acabara de ser inventado. Galileu recebeu um telescópio de
presente de um diplomata recém-chegado da Holanda, inventado um ano antes por um
especialista em ótica e lentes. Galileu construiu um telescópio mais potente,
usando lentes de qualidade superior que ele mesmo fez. Em Veneza, mostrou-o
para o Senado, tentando vendê-lo como instrumento militar. A invenção
rendeu-lhe uma cátedra permanente na Universidade de Pádua e salário dobrado. O
telescópio revelou-lhe coisas que nenhum homem jamais havia visto. Ao focalizar
o planeta Júpiter, Galileu descobriu que ele era acompanhado de vários pequenos
satélites, ou luas que giravam à sua volta. Isto implicava que nada precisava
necessariamente girar em torno da Terra. Observou que a superfície da Lua era
marcada por crateras e montanhas, vislumbrou os anéis de Saturno, embora não
tenha reconhecido o que era.
Em
1610, Galileu reuniu suas observações num livro, cujo título pode ser traduzido
do latim tanto como Mensagem das estrelas
quanto como Mensageiro das estrelas. Religioso,
queria também reeducar a Igreja, ajudá-la a reavaliar sua concepção do universo
ainda aristotélica e geocêntrica. Em 1613, publicou um livro sobre outra
descoberta que abalava a concepção aristotélica: as manchas solares. O Sol é
ocasionalmente coberto por algumas manchas negras, que se movem sobre sua
superfície e desaparecem após algum tempo.
Escreveu
os dois livros em italiano (não o Latim acadêmico costumeiro), e em pouco tempo
suas opiniões se tornaram amplamente difundidas além das universidades. O fato
contrariou os professores aristotélicos, que se uniram contra ele, tentando
persuadir a Igreja Católica a banir o copernicismo. Preocupado com isto, viajou
para Roma em dezembro de 1615, tentar convencer as autoridades eclesiásticas de
suas idéias. Argumentava que a Bíblia não pretendia se manifestar quanto a
teorias científicas. Mas a igreja, temendo um escândalo que pudesse minar sua
luta contra o protestantismo, tomou medidas repressoras. Em 1616 o cardeal
Bellarmino, mestre de questões controversas do Vaticano e o teólogo mais
influente da época, declarou "falsa e errônea" a doutrina de
Copérnico, proibindo Galileu de "defendê-la ou sustentá-la". Galileu
se sujeitou à decisão. Ironicamente foi a insistência de Galileu que forçou a
Igreja a adotar uma posição oficial contra Copérnico: seus livros foram
censurados pela inquisição. A partir de então, qualquer menção ao Sol como
centro do cosmo era vista como heregia.
Em
1623 um velho amigo, o cardeal Mafeo Barberini, tornara-se papa Urbano VIII.
Imediatamente Galileu tenta revogar o decreto de 1616. Após uma série de
audiências, falha, mas consegue autorização para escrever um livro discutindo
tanto a teoria de Aristóteles quanto a de Copérnico, embora com duas condições:
não tomar partido e chegar a conclusão de que o homem não pode, em caso algum
determinar como funciona o mundo, porque Deus poderia ter realizado os mesmo efeitos
de maneiras inimagináveis pelos homens, que não podem fazer restrições à
onipotência divina. O livro Diálogo sobre os dois sistemas
principais do universo foi concluído e publicado em 1632, e
imediatamente acolhido em toda a Europa como uma obra-prima de literatura e
filosofia. A palavra “diálogo” no título reflete a estrutura do livro. Escrito
como uma discussão filosófica entre três pessoas cada uma com um papel
específico. O primeiro Salviati, defende as idéias de Galilei. O segundo,
Sagredo é um interlocutor inteligente e leigo (ou seja, o público), que em gera
concorda com Salviati. O terceiro Simplício, representa os aristotélicos e é
constantemente humilhado pelos argumentos de Salviati. O Dialogo é mais uma
obra de popularização do que um tratado científico. Galileu não oferece nele
nenhuma prova conclusiva a favor de Copérnico. E, para atingir o público leigo,
apresenta uma versão extremamente simplificada da teoria copernicana,
desconsiderando a reforma do sistema heliocêntrico realizada por Kepler. Ao
final do debate, Galileu introduziu, numa fala de Simplício, uma frase do
próprio Urbano VIII. Quando encorajou o cientista a apresentar o sistema
copernicano, o papa afirmou que o fato de uma hipótese explicar bem certos
fenômenos não significava que ela fosse necessariamente verdadeira, porque Deus
podia muito bem ter produzido os mesmos fenômenos por meios totalmente
diferentes e incompreensíveis para a mente humana. Sem citar nominalmente o
papa, Simplício afirma que esse argumento provinha "da mais eminente e
douta pessoa, diante da qual era preciso cair em silêncio".
A ironia passou despercebida pelos olhos do censor eclesiástico. Mas Urbano VIII ficou uma fera ao tomar nas mãos o livro impresso e reconhecer suas palavras na boca do tolo Simplício. Em breve o papa, , arrependeu-se de ter permitido a publicação. Argumentava ele, que embora do livro tivesse as bençãos oficiais dos censores, o autor desacatara, ainda assim, o decreto de 1616. O livro foi proibido alguns meses após ter sido impresso, e as cópias já vendidas foram confiscadas pela Inquisição. Felizmente algumas já haviam escapado da Itália. Em 1633, Galileu com 69 anos foi condenado pelo Sagrado Tribunal da Inquisição e forçado a renunciar publicamente, sob pena de tortura, ao copernicismo. Sua pena incluía prisão domiciliar perpétua e ler salmos diariamente durante três anos. Como a visão enfraquecida não lhe permitia a leitura sua filha freira foi incumbida de ler os salmos em sua presença. Numa insuportável manifestação de arrogância, a Igreja humilhava o homem e se atribuía o direito de decidir o que a ciência podia ou não dizer.
A ironia passou despercebida pelos olhos do censor eclesiástico. Mas Urbano VIII ficou uma fera ao tomar nas mãos o livro impresso e reconhecer suas palavras na boca do tolo Simplício. Em breve o papa, , arrependeu-se de ter permitido a publicação. Argumentava ele, que embora do livro tivesse as bençãos oficiais dos censores, o autor desacatara, ainda assim, o decreto de 1616. O livro foi proibido alguns meses após ter sido impresso, e as cópias já vendidas foram confiscadas pela Inquisição. Felizmente algumas já haviam escapado da Itália. Em 1633, Galileu com 69 anos foi condenado pelo Sagrado Tribunal da Inquisição e forçado a renunciar publicamente, sob pena de tortura, ao copernicismo. Sua pena incluía prisão domiciliar perpétua e ler salmos diariamente durante três anos. Como a visão enfraquecida não lhe permitia a leitura sua filha freira foi incumbida de ler os salmos em sua presença. Numa insuportável manifestação de arrogância, a Igreja humilhava o homem e se atribuía o direito de decidir o que a ciência podia ou não dizer.
Durante
os nove anos seguintes, Galileu permaneceu ativo, pesquisando e realizando
experimentos. Galileu permaneceu um piedoso católico, mas sua crença na
independência do saber criativo não foi abalada. Quatro anos antes de sua morte, ainda detido
em sua casa, o manuscrito de seu segundo livro de fôlego foi mandado
clandestinamente a um editor na Holanda. Este trabalho, intitulado Duas
novas ciências, mais do que seu apoio às teorias de Copérnico, foi a gênese
da física moderna. Nele descreve o resultado de suas várias pesquisas sobre o
movimento dos corpos e sobre as propriedades mecânicas dos corpos sólidos,
enfatizando a importância da matemática e da experimentação nas ciências
naturais.
Quando
Galileu morreu, em 1642, sua obra estava sendo lida avidamente em toda a
Europa, fomentando a grande revolução científica que ocorreria no final do
século XVII. Dentre os leitores, encontrava-se o inglês Isaac Newton.
Roma, 22 de junho de 1633:
"Eu, Galileu,
filho do falecido Vincenzo Galilei, florentino, de setenta anos de idade,
intimado pessoalmente à presença deste tribunal e ajoelhado diante de vós,
Eminentíssimos e Reverendíssimos Senhores Cardeais Inquisidores -Gerais contra
a gravidade herética em toda a comunidade cristã, tendo diante dos olhos e
tocando com as mãos os Santos Evangelhos, juro que sempre acreditei, que
acredito, e, mercê de Deus, acreditarei no futuro, em tudo quanto é defendido,
pregado e ensinado pela Santa Igreja Católica e
Apostólica. Mas, considerando que (...) escrevi e imprimi um livro no qual
discuto a nova doutrina (o heliocentrismo) já condenada e aduzo argumentos de
grande força em seu favor, sem apresentar nenhuma solução para eles, fui, pelo
Santo Ofício, acusado veementemente de suspeito de heresia, isto é, de haver
sustentado e acreditado que o Sol está no centro do mundo e imóvel, e que a
Terra não está no centro, mas se move; desejando eliminar do espírito de Vossas
Eminências e de todos os cristãos fiéis essa veemente suspeita concebida mui
justamente contra mim, com sinceridade e fé verdadeira, abjuro, amaldiçôo e
detesto os citados erros e heresias, e em geral qualquer outro erro, heresia e
seita contrários à Santa Igreja, e juro que no futuro nunca mais direi nem
afirmarei, verbalmente nem por escrito, nada que proporcione motivo para tal
suspeita a meu respeito".
Em 1638 a cegueira total atingiu
Galileu. Escreve em carta para um amigo:
"
Ai de mim! O vosso amigo e servo Galileu tem estado no último mês
desesperadamente cego, de modo que este céu, por maravilhosos descobrimentos e
claras demonstrações, alarguei cem mil vezes além da crença dos sábios da
antiguidade, se reduzem, daqui por diante, para mim, a um diminuto espaço
preenchido pelas minhas próprias sensações corpóreas"
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