A) você é esquisita.
- B) Tenho sido mesmo.
- A) Já ta cansada de ouvir né?!
- B) Falar me cansa mais.
- A) Ta certo.
- A) É...
(Breve silêncio constrangedor)
- A)Na verdade, depende né?!
- B) Verdade?
- A) Que? Tô falando que depende...
- B) que verdade?
- A) Não você não entendeu o que eu queria dizer...
- B) Ah tá.
- A) O que?
- B) Não entendi mesmo. Tem razão.
(Longo silencio)
- A) É serio isso?
- B) O que?
- A) Você não vai me perguntar sobre o que eu pensei?
- B) Imagina... Seria muito invasivo... Direito seu.
- A) Tudo bem.
(Breve silêncio)
-A) As vezes o esforço pra não se comunicar cansa mais.
- B) As vezes sim.
- A) Mas tem gente que sente prazer.
- B) É deve ter. Sempre tem né?!
- A) Cada um com o seu cada qual. Falava uma tia minha.
- B) Alguma minha devia falar também.
- A) Sua o que?
-B) Tia. Frase de tia. Tipo a do macaco e do galho é mais comum as avós e do maluco com as manias se adequa mais a professores... Pode ser coisa minha também. Opinião né?!
- A) É que nem bunda. Cada um...
- B) Ou essa aí! É ótima.
- A) Essa é mais de amigo de ginásio em escola de interior. Que que você acha?
- B) Pode ser. boa. Acho que eu vou.
- A) Pra onde? Quer carona?
- B) Não sei ainda... Senão eu aceitava. Desculpa.
- A) De nada.
.

quarta-feira, 25 de junho de 2014
shhhhh!!!
Planeta terra chamando. Grita o despertador, o sino da igreja, três tons acima o metrô, desafinado e monopolizante o ônibus velho, alguns elevadores, todas as maquinas de lavar, celulares que ainda silenciados vibram estridentes durante peças de teatro e cenas fortes do cinema como se já não bastassem o ranger das pipocas. Ensurdecedor? Antes algo fosse. Qualquer coisa eu comprava, qual fosse o preço da abençoada, quase santa surdez. Se algum planeta tentasse se comunicar conosco, se é que já não tentaram, evidentemente não escutariamos o chamado. A tecnologia corre a passos largos; multiplica pães, transforma água em coca-cola, inventa até gente, mas não se dedica, minimamente, a silenciar. Silêncio é perigoso, faz pensar. Por alguma teoria da conspiração o barulho e os guarda-chuvas permamecem intocáveis. Planeta terra chamando! É essa a mensagem subliminar interplanetária. "Mantenha os pés no chão e nao reflita sobre isso!" grita o progresso.
" meu ouvido é pinico!" respondemos como um coro de criancinhas em uma daquelas brincadeiras infantis que envolviam batatas fritas, galinhas e pintinhos que a essa altura com certeza ja foram transformados em nugget.
Talvez por isso tenha escolhido às bibliotecas. "shhhhhh!" Essa é a regra número 1. Logo o silêncio é preenchido com letras e de repente todas as palavras são possíveis tal como tudo o que puderem formar a reboque. Os pés podem estar nas paredes, nas nuvens, no amarelo, no vácuo, menos em cima da mesa, que consiste na regra numero dois. Qualquer chamado pode ser ouvido. Diálogos com marte ou com o Olímpo são travados pelo mesmo terráqueo em questão de segundos. E o melhor: em silêncio. um mundo sem guarda-chuvas apenas por lá é possível. Acredite!
" meu ouvido é pinico!" respondemos como um coro de criancinhas em uma daquelas brincadeiras infantis que envolviam batatas fritas, galinhas e pintinhos que a essa altura com certeza ja foram transformados em nugget.
Talvez por isso tenha escolhido às bibliotecas. "shhhhhh!" Essa é a regra número 1. Logo o silêncio é preenchido com letras e de repente todas as palavras são possíveis tal como tudo o que puderem formar a reboque. Os pés podem estar nas paredes, nas nuvens, no amarelo, no vácuo, menos em cima da mesa, que consiste na regra numero dois. Qualquer chamado pode ser ouvido. Diálogos com marte ou com o Olímpo são travados pelo mesmo terráqueo em questão de segundos. E o melhor: em silêncio. um mundo sem guarda-chuvas apenas por lá é possível. Acredite!
domingo, 22 de junho de 2014
Pálido ponto azul
Voyager 1 é uma sonda espacial norte-americana lançada ao espaço em 5 de setembro de 1977 para estudar o Sistema Solar exterior. Voyager 1 tinha como objetivo enviar imagens e outras informações de Jupter e Saturno. Sua missão inicial encerrou-se em 20 de novembro de 1980. Após, a Voyager 1 iniciou a fase de exploração das fronteiras do Sistema Solar denominada Voyager Interstellar Mission ou VIM, que propõe o estudo do meio interestelar. Os cientistas esperam que a comunicação com a sonda se perca por volta da década de 2020.
A sonda carrega consigo um disco de cobre revestido a ouro, contendo uma apresentação para outras civilizações, com 115 imagens (onde estão incluídas imagens do Cristo Redentor no Brasil, a Grande Muralha da China, pescadores portugueses, entre outras), 35 sons naturais (vento, pássaros, água, etc.), obras de Beethoven, Mozart, e "Johnny B. Goode" de Chuck Berry.

Uma das imagens que retornou da Voyager era a da Terra, a 6,4 bilhões de quilômetros de distância, mostrando-a como um "pálido ponto azul" na granulada imagem. Sagan disse que a famosa fotografia tirada da missão Apollo 8, mostrando a Terra acima da Lua, forçou os humanos a olharem a Terra como somente uma parte do universo. No espírito desta realização, Sagan disse que pediu para que a Voyager tirasse uma fotografia da Terra do ponto favorável que se encontrava nos confins do Sistema Solar. Essa foto acabou inspirando Carl Sagan a escrever o livro Pálido Ponto Azul em 1994.
A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, pudessem ser senhores momentâneos de uma fração de um ponto. Pense nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores de um canto deste pixel aos praticamente indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes seus desentendimentos, quão ávidos de matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas posturas, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são desafiadas por este pontinho de luz pálida. O nosso planeta é um grão solitário na imensa escuridão cósmica que nos cerca. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos de ficar por enquanto.
Já foi dito que astronomia é uma experiência de submissão e criadora de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Para mim, destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o "pálido ponto azul", o único lar que conhecemos até hoje." (Carl Sagan, Pálido Ponto Azul, 1994)
A natureza acidental da existência
Transcrevendo a existência do universo dentro de um calendário de um ano - do dia primeiro de Janeiro a 31 de Dezembro -, no primeiro segundo: o Big Bang, o tempo mais antigo que podemos ver. O universo surge de um ponto menor de um único átomo que vomita fogo cósmico, jorrando a expansão do universo, dando início a toda a nossa energia e matéria. Ainda nos primeiros segundos conforme se expandia tudo resfriava: 200 milhões de anos na plena escuridão. Com a gravidade juntando e aquecendo gases , dez de janeiro nascem as primeiras estrelas. Dia 13 as primeiras pequenas galáxias. Durante um tempo foram vencendo a timidez e criaram intimidade, limites e distâncias. Em período conturbado decidiram juntar-se formando conchaves maiores como a Via Láctea, nascida dia 15 de março do ano cósmico. Após uma gigantesca arvore genealógica de estrelas no dia 31 de agosto finalmente o grande imperador do nosso sistema surge de um grande impacto: O Sol. A Terra foi formada por um disco de gás e poeira e levou uma surra em seu primeiro bilhão de anos.Fragmentos de detritos colidiram e se aglutinaram até formarem a nossa Lua. A Lua é uma lembrancinha dessa era violenta. Sucedendo a esse caos a Lua orbitava dez vezes mais próxima da terra e mil vezes mais luminosa presa num abraço gravitacional. A Terra foi esfriando e os oceanos se formando, a ficção das marés foi afastando a Lua. Misteriosamente no dia 21 de setembro a vida resolveu habitar a terra, ninguém sabe como , e alguns acham que é extraterrestre. Dia 9 de novembro os micróbios pioneiros respiravam e descobriram o sexo. Florestas, pássaros, dinossauros e insetos evoluíram na última semana de dezembro. Floresceu no dia 28 de dezembro. As 6h24 do dia 30 de dezembro, um asteroide desviou para a esquerda e colidiu com a Terra eliminando os dinossauros. Nós, humanos evoluímos apenas na última hora do último dia. No último minuto começamos a pintar nossos primeiros quadros. Toda história registrada ocupa apenas os últimos 14 segundos, quando inventamos a escrita. Todos os reis, todas as guerras, invenções, histórias de amor , brigas, sacrifícios,gênios e construções, descobertas... Moisés nasceu há sete segundos. Buddha há seis segundos. Jesus há 5 segundos. Maomé há 3 segundos. E eu?
(fonte : Reflexões retiradas da série documentário Cosmos por Bernardo e Elisa)
(fonte : Reflexões retiradas da série documentário Cosmos por Bernardo e Elisa)
segunda-feira, 16 de junho de 2014
domingo, 15 de junho de 2014
Nosso futuro está nas estrelas
A
conquista do espaço faz parte da nossa vida diária. Quando usamos a internet,
telefonamos para o exterior, assistimos a programas de televisão via antena
parabólica, estamos captando mensagens transmitidas por satélites bem longe, no
espaço. A previsão do tempo, que aparece diariamente nos telejornais, também
depende da atividade silenciosa dos satélites que giram ao redor do mundo. O
espaço estrelado cerca nosso planeta e quase não percebemos mais isso. As
estrelas só despertam nossa atenção quando viajamos para o interior e ficamos
longe das luzes e da poluição das grandes cidades.
As
viagens dos astronautas já viraram rotina e só merecem manchete dos jornais
quando acontece algum acidente grave. Elas podem ser vitais para a
sobrevivência da humanidade no terceiro milênio. Como os astronautas vão ao
banheiro?
O avião e
a nave espacial são invenções muito recentes. O primeiro voo de um avião ainda
não completou cem anos. A astronáutica, como é chamada a ciência das viagens
espaciais, é ainda mais jovem. Em 4 de outubro de 1957 o primeiro satélite
entrou em órbita. O primeiro astronauta, o russo Yuri Gagarin, completou sua
missão pioneira em 12 de abril de 1961, e a primeira mulher cosmonauta subiu ao
espaço dois anos depois. Foi a russa Valentina Tereskhova, que deu várias
voltas em torno do mundo dentro de uma cápsula Vostok, em junho de 1963. Em
1969, os astronautas americanos Armstrong e Aldrin desciam na Lua pela primeira
vez. Acidentes como o que destruiu a nave Challenger em 1986, e a Columbia em
1° de fevereiro de 2003 interromperam os vôos por um ou dois anos , até que a
causa do acidente fosse descoberta e contornada. Aviões caem, mas ninguém deixa
de voar por causa disso. Nosso futuro está nas estrelas.
Os primeiros astronautas foram ao espaço em pequenas
cápsulas, lançadas na ponta de foguetes militares. As viagens eram tão curtas
que as naves nem tinham banheiro.
No livro Os
Eleitos, o escritor Tom Wolfe conta que o primeiro astronauta americano,
tenente-comandante Allan Shepard, não agüentou e urinou dentro de sua roupa
pressurizada, enquanto esperava para ser lançado. O vôo de sua cápsula Mercury
devia durar apenas 15 minutos, mas o lançamento atrasou devido a problemas
técnicos. Shepard passou quatro horas fechado dentro de um escafandro prateado,
encolhido no interior da nave Mercury, que media apenas dois metros de
comprimento por 1,80m de largura.
HIGIENE ESPACIAL
Os primeiros dispositivos sanitários espaciais
surgiram com as cápsulas Gemini. Elas levavam dois astronautas para viagens de
duas semanas no espaço, na década de 60. Na Gemini, os astronautas urinavam
dentro de garrafas plásticas e faziam sua higiene com toalhas molhadas. O vaso
sanitário não passava de uma garrafa plástica. O astronauta James Lovell
reclamou do fedor dentro do Gemini 7, depois de um voo de 14 dias.
Uma parte da urina era jogada no espaço e congelava,
formando uma nuvem de cristais brilhantes que os astronautas chamavam de
constelação do Urion.
Durante as viagens do projeto Apollo, em direção à
Lua, a situação não era melhor. Enquanto passeavam pela superfície lunar os
astronautas usavam fraldas plásticas, como bebês, por dentro de sua roupa
espacial.
As primeiras naves com instalações sanitárias decentes foram as Salyuts russas e a Skylab americana. A Skylap era um apartamento espacial de três cômodos, montado dentro de um foguete Saturno 5. Skylap entrou em órbita em 1973, seu banheiro tinha um chuveiro, montado dentro de um cilindro de plástico flexível. Como não havia gravidade, as gotas de água flutuavam, colando-se ao corpo do astronauta. Com uma ducha o astronauta se olhava e depois usava um aspirador especial para sugar a espuma do sabonete e a água suja. Um chuveiro desse tipo é usado atualmente na Estação Espacial Internacional (ISS).
O vaso sanitário era ligado a sacos plásticos contendo germicida. A urina e os dejetos sólidos eram guardados nos plásticos para posterior exame por médicos na Terra.
A situação melhorou um pouco com os ônibus espaciais em 1982. O onibus espacial foi a primeira nave a levar tripulações de homens e mulheres, o que obrigou os engenheiros espaciais a criarem instalações sanitárias unissex e mais confortáveis. O banheiro foi instalado dentro de um cubículo para garantir privacidade. No vaso sanitário do ônibus espacial uma corrente de ar substitui a água. A urina e os dejetos são aspirados para dentro de um compartimento lacrado e exposto ao vácuo do espaço. O vácuo evapora os líquidos e o que resta é trazido para a Terra para não sujar o ambiente espacial (Será mesmo que não largam o coco no espaço?). Infelizmente, o ônibus espacial não tem chuveiros dentro de casulos plásticos, como a Mir e a Skylab. Como na Gemini de trinta anos atrás, os tripulantes continuam a se limpar com tolhas umedecidas. Os astronautas esperam que a nave se acople com a Estação Espacial Internacional (ISS). Nela há chuveiros e banheiros mais sofisticados.
CULINÁRIA ESPACIAL
Nas primeiras missões espaciais, os tripulantes das cápsulas russas Vostok e das Mercury americanas comiam alimentos em forma de pastas, acondicionados em tubos semelhantes aos de creme dental. Essas pastas tinham gosto de frutas e eram espremidas dentro da boca. O objetivo era fornecer um alimento de fácil digestão e que não produzisse muitos resíduos sólidos.
Os astronautas detestavam a comida em pasta e logo se rebelaram contra ela. No voo da Gemini 3, em 23 de março de 1965, o co-piloto John Young escondeu um sanduíche de carne dentro de sua roupa espacial. Assim que a cápsula entrou em órbita, o comandante da missão, o astronauta Virgil Ivan Grisson, apoderou-se do sanduíche e comeu, para desespero dos cientistas, que desejavam que a tripulação fizesse jejum. O voo durou apenas quatro hoas e 53 minutos mas inaugurou uma nova era da culinária espacial.
Nas viagens da Gemini e Apollo os astronautas seguiam uma dieta ditada por três necessidades básicas: A comida precisava ocupar pouco espaço, para não abarrotar as pequenas cápsulas; ser pré-cozida, já que não havia fogões; a acondicionada de modo a não soltar migalhas e glóbulos que ficassem flutuando dentro das cabines. Os alimentos eram submetidos a um processo de desidratação e congelamento. Afinal 9/10 do peso das verduras e 4/5 do peso da carne e do peixe são simplesmente água. O processo reduzia o alimento numa série de tabletes de um pó marrom, como aquelas sopas pré-preparadas dos supermercados. Tudo era acondicionado em sacos plásticos transparentes, os astronautas usavam uma pistola para injetar água morna no saco, transformando o pó numa sopa espessa tomada com canudinho.
A comida em sopa foi o cardápio predominante durante todas as missões à Lua do projeto Apollo. A situação só melhorou na década de 70, com as naves espaciais Salyut e Skylab. Na Skylab, os americanos puderam comer bife, vitela, bacon, ovos, legumes e até lagosta. Tudo acondicionado dentro de latas lacradas. Não tinha forno, por isso os alimentos eram pré-cozidos e congelados na Terra. Antes de comer a lata era colocada numa resistência elétrica que aquecia o alimento para ser consumido. Infelizmente a ausência de de gravidade deixa os astronautas com o nariz congestionado e sem paladar. Eles se queixavam de que a comida não tinha sabor e solocavam muito sal em tudo.
A grande inovação culinária na década de 80, veio com os ônibus espaciais americanos que continham um forno. A dieta das tripulações americanas incluíam salsichas, ovos mexidos, sopas de cogumelo, camarões, brócolis e bifes. Tudo ainda é pré-preparado e desidratado na Terra para ocupar pouco espaço. Acondicionado em latas e recipientes plásticos, os astronautas injetavam água nos recipientes com uma agulha e esquentavam no forno. De sobremesa ele podiam escolher morangos, pudins (que não precisavam ser desidratados para ir ao espaço), ou doces. Para o lanche: sanduíche de queijo com presunto e suco de laranja.
Cada astronauta come o que prefere. George Nelson comia ovos mexidos com um apimentado tempero mexicano. O piloto da Discovery, Richard Covey, preferiu comer camarão à creole bife com molho à campanha, enquanto o comandante da nave, Frederick Hauck, escolhia uma dieta mais leve: geléia e manteiga de amendoim no desjejum e almôndegas no jantar. John Lounge, um dos especialistas encarregados de lançar o satélite TDRS, revelou-se louco por pudins e atacou a dispensa, acabando com o estoque de pudins de chocolate, caramelo e baunilha. Mas ao todo o que os astronautas mais consumiram foi o café preto.
Os franceses levaram a sofisticação de sua culinária para o espaço. Durante a estada do astronauta Jean-Loup Chrétien na Mir, em novembro de 1988, enviaram um cardápio que incluía coelho com passas, pombo com tâmaras, pato com alcachofra e repolho recheado com passas e tâmaras. Tudo preparado pela empresa Comtesse du Barry, confeccionados sob a direção dos chefs Pierre Roudge e Lucien Vanel.
(Fragmentos retirados do livro "Como os astronautas vão ao banheiro? E outras questões perdidas no espaço" de Jorge Luiz Calife, 2003)
Na emancipação do homem
Como deve saber, não foi a teoria heliocêntrica que causou a condenação de Galileu Galilei. Copérnico já havia dito que a terra girava em torno do sol e a igreja não se importou. O que provocou a ira papal foi o humor.
Para defender o heliocentrismo, Galileu criou um diálogo fictício entre um personagem sábio, Salviati, e um personagem imbecil, Simplício. O sábio acreditava que a terra girava em torno do sol e o imbecil achava o contrário. O livro foi um sucesso retumbante. E a Igreja vestiu a carapuça do imbecil. Galileu foi obrigado a negar tudo o que havia dito para escapar da fogueira. Negou e ainda assim foi condenado à prisão perpétua.
Giordano Bruno , contemporâneo de Galileu, acreditava que o universo era infinito. Negou-se a se negar. Foi queimado vivo.
(Carta de Gregório Duvivier em resposta ao bispo que criticou um vídeo do "Porta dos Fundos" - link: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2014/01/1396869-pessimo-mau-gosto.shtml)
Sobre a obra de Galileu "Diálogo sobre os dois maiores sistemas do mundo"
Por várias vezes, colocou a obra de lado, talvez inseguro quanto à solidez do apoio papal. Porém, pressionado por seus numerosos amigos e discípulos, acabou finalizando a obra que o levaria a um novo e dramático confronto com a Inquisição: o Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo (Diálogo sobre os dois maiores sistemas do mundo), no qual compara os modelos de Copérnico e Ptolomeu. A obra foi concluída em 1630, mas só obteve licença para publicação em 1632. Ela se apresenta na forma de um diálogo entre três personagens: Salviati, um cientista brilhante, que encarna o próprio Galileu; Sagredo, um homem prático e inteligente, que desempenha o papel de mediador; e Simplício, um simpático porém ingênuo defensor de Aristóteles e Ptolomeu. As conversações desenvolvem-se em quatro jornadas, realizadas no palácio de Sagredo, em Veneza.
Há nelas momentos brilhantes, como a crítica à idéia da diferente composição material da Terra e do céu. Ou a refutação do argumento de que, caso a Terra se movesse, qualquer coisa que não estivesse firmemente atada a ela seria deixada para trás. Mas, apesar desses pontos altos, o Dialogo é mais uma obra de popularização do que um tratado científico.
Há nelas momentos brilhantes, como a crítica à idéia da diferente composição material da Terra e do céu. Ou a refutação do argumento de que, caso a Terra se movesse, qualquer coisa que não estivesse firmemente atada a ela seria deixada para trás. Mas, apesar desses pontos altos, o Dialogo é mais uma obra de popularização do que um tratado científico.
Galileu não oferece nele nenhuma prova conclusiva a favor de Copérnico. E, para atingir o público leigo, apresenta uma versão extremamente simplificada da teoria copernicana. Desconsiderando a reforma do sistema heliocêntrico realizada por Kepler (leia quadro), ele descreve um modelo no qual a Terra e todos os planetas se movem em redor do Sol, em trajetórias circulares e com velocidades constantes. E omite todos os artifícios matemáticos que Copérnico foi obrigado a utilizar para ajustar essa concepção ideal às observações astronômicas reais.
De qualquer forma, não foi por seus aspectos científicos que o Dialogo caiu nas garras afiadas da Inquisição. Mas por uma questão política, ou, mais precisamente, de natureza pessoal. É que, ao final do debate, Galileu introduziu, numa fala de Simplício, uma frase do próprio Urbano VIII. Quando encorajou o cientista a apresentar o sistema copernicano, o papa afirmou que o fato de uma hipótese explicar bem certos fenômenos não significava que ela fosse necessariamente verdadeira, porque Deus podia muito bem ter produzido os mesmos fenômenos por meios totalmente diferentes e incompreensíveis para a mente humana. Sem citar nominalmente o papa, Simplício afirma que esse argumento provinha "da mais eminente e douta pessoa, diante da qual era preciso cair em silêncio". Ao que os outros dois debatedores imediatamente se declaram silenciados por "essa admirável e angélica doutrina".
A ironia passou despercebida pelos olhos do censor eclesiástico. Mas Urbano VIII ficou uma fera ao tomar nas mãos o livro impresso e reconhecer suas palavras na boca do tolo Simplício. Mais do que qualquer argumento a favor de Copérnico, foi essa irreverência de Galileu que causou sua perdição. A venda do Dialogo foi imediatamente suspensa e o cientista intimado a comparecer perante a Inquisição. Pouco valeu, desta vez, a intervenção dos amigos. E, graças à equivocada polêmica com Grassi, ele já não contava mais com o decisivo apoio dos jesuítas. Idoso e doente, foi obrigado a viajar a Roma. Ao final dos interrogatórios, foi considerado "veementemente suspeito de heresia". E, no dia 22 de junho de 1633, vestindo trajes de penitência, de joelhos e com a mão sobre a Bíblia, teve que recitar, perante o tribunal, a horrível fórmula da abjuração: "Abjuro, maldigo e detesto os citados erros e heresias...". Numa insuportável manifestação de arrogância, a Igreja humilhava o homem e se atribuía o direito de decidir o que a ciência podia ou não dizer.
A ironia passou despercebida pelos olhos do censor eclesiástico. Mas Urbano VIII ficou uma fera ao tomar nas mãos o livro impresso e reconhecer suas palavras na boca do tolo Simplício. Mais do que qualquer argumento a favor de Copérnico, foi essa irreverência de Galileu que causou sua perdição. A venda do Dialogo foi imediatamente suspensa e o cientista intimado a comparecer perante a Inquisição. Pouco valeu, desta vez, a intervenção dos amigos. E, graças à equivocada polêmica com Grassi, ele já não contava mais com o decisivo apoio dos jesuítas. Idoso e doente, foi obrigado a viajar a Roma. Ao final dos interrogatórios, foi considerado "veementemente suspeito de heresia". E, no dia 22 de junho de 1633, vestindo trajes de penitência, de joelhos e com a mão sobre a Bíblia, teve que recitar, perante o tribunal, a horrível fórmula da abjuração: "Abjuro, maldigo e detesto os citados erros e heresias...". Numa insuportável manifestação de arrogância, a Igreja humilhava o homem e se atribuía o direito de decidir o que a ciência podia ou não dizer.
sexta-feira, 13 de junho de 2014
Versão Humana de não saber quase tudo.
"Queremos, de fato, um relato
Retrato mais sério do mistério da luz
Luz do disco voador
Pra iluminação do homem
Tão carente, sofredor
Tão perdido na distância.
Da morada do senhor."
Gilberto Gil
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Desconhecidos
A - Noite
B - Lua minguando
A - Você viu?
B - Cheia?
A - Tava enorme.
B - Em cima da caixa d´água
A - Do prédio?
B - Prefiro chamar de terraço
A - Qual seu signo?
B - Importa?
A - Não sei porque perguntei
B - Touro
A - Não entendo nada. Também?
B - Ih, isso é bom sinal?
A - Do universo?
B - Me dá um beijo?
A - Oi?
B - É. Para a gente descobrir!
A - Não entendi a associação
B - E se isso for mesmo um sinal do universo? Vamos perder essa oportunidade?
A - To com pena da lua
B - Ela adora assistir
A - Usada aleatoriamente por você!
B - E você está aqui porque?
A - Vim tomar um ar
B - Boa desculpa, mas não tão boa quanto a lua
A - Posso falar das estrelas também
B - Dizem que tudo é poeira delas.
A - Eu ia falar das três marias...
B - Um grupo de pesquisadores na Alemanha, liderado por um tal Shaw Bishop, investiga restos de supernova em fósseis de bactérias pré-históricas. Tipo traços de "ferro extraterrestre" que chegaram junto com destroços radioativos de uma estrela!
A - Que romântico!
B - Somos um pouco extraterrestres.
A- Puts!
B - Já parou pra pensar que o princípio de uma bomba nuclear é o mesmo que o big bang? Quer dizer, a vida surge do atrito é um paradoxo. Se a gente fosse passear por aquelas lindas nebulosas, seriamos transformados numa nuvenzinha de hidrogênio, ozônio e monóxido de carbono!
A - Você é bom nisso!
B - Serio, dedicado, obsessivo, radical e um pouco arrogante. Bem taurino.
(pausa)
A - Tenho que ir!
B - E meu beijo?
A - Fica para a próxima E.T.
B - Lua minguando
A - Você viu?
B - Cheia?
A - Tava enorme.
B - Em cima da caixa d´água
A - Do prédio?
B - Prefiro chamar de terraço
A - Qual seu signo?
B - Importa?
A - Não sei porque perguntei
B - Touro
A - Não entendo nada. Também?
B - Ih, isso é bom sinal?
A - Do universo?
B - Me dá um beijo?
A - Oi?
B - É. Para a gente descobrir!
A - Não entendi a associação
B - E se isso for mesmo um sinal do universo? Vamos perder essa oportunidade?
A - To com pena da lua
B - Ela adora assistir
A - Usada aleatoriamente por você!
B - E você está aqui porque?
A - Vim tomar um ar
B - Boa desculpa, mas não tão boa quanto a lua
A - Posso falar das estrelas também
B - Dizem que tudo é poeira delas.
A - Eu ia falar das três marias...
B - Um grupo de pesquisadores na Alemanha, liderado por um tal Shaw Bishop, investiga restos de supernova em fósseis de bactérias pré-históricas. Tipo traços de "ferro extraterrestre" que chegaram junto com destroços radioativos de uma estrela!
A - Que romântico!
B - Somos um pouco extraterrestres.
A- Puts!
B - Já parou pra pensar que o princípio de uma bomba nuclear é o mesmo que o big bang? Quer dizer, a vida surge do atrito é um paradoxo. Se a gente fosse passear por aquelas lindas nebulosas, seriamos transformados numa nuvenzinha de hidrogênio, ozônio e monóxido de carbono!
A - Você é bom nisso!
B - Serio, dedicado, obsessivo, radical e um pouco arrogante. Bem taurino.
(pausa)
A - Tenho que ir!
B - E meu beijo?
A - Fica para a próxima E.T.
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Não entre em pânico!
Muito além, nos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há um pequeno sol amarelo e esquecido.
Girando em torno deste sol, a uma distância de cerca de 148 milhões de quilômetros, há um planetinha verde-azulado absolutamente insignificante, cujas formas de vida, descendentes de primatas, são tão extraordinariamente primitiva que ainda acham que relógios digitais são uma grande ideia.
Este planeta tem - ou melhor, tinha - o seguinte problema: a maioria de seus habitantes estava quase sempre infeliz. Foram sugeridas muitas soluções para esse problema, mas a maior parte delas dizia respeito basicamente à movimentação de pequenos pedaços de papel colorido com números impressos.
E assim o problema continuava sem solução. Muitas pessoas eram más, e a maioria delas era muito infeliz, mesmo as que tinham relógios digitais.
E então, uma quinta-feira, quase dois mil anos depois que um homem foi pregado num pedaço de madeira por ter dito que seria ótimo se as pessoas fossem legais umas com as outras para variar, uma garota, sozinha numa pequena lanchonete em Rickmansworth, de repente compreendeu o que tinha dado errado todo esse tempo e finalmente descobriu como o mundo poderia se tornar um lugar bom e feliz. Desta vez estava tudo certo, ia funcionar, e ninguém teria que ser pregado em coisa nenhuma.
Infelizmente, porém, antes que ela pudesse telefonar para alguém e contar sua descoberta, aconteceu uma catástrofe terrível e idiota, e a ideia perdeu-se para todo o sempre.
.................................................................
Por uma curiosa coincidência, "absolutamente zero" era o quanto o descendente dos primatas Arthur Dent suspeitava que um dos seus amigos mais íntimos não descendia dos primatas, sendo, na verdade, de um pequeno planeta perto de Betelgeuse, e não de Guildford, como costumava dizer. Tal suspeita jamais passara pela cabela de Arthur Dent.
Esse seu amigo havia chegado ao planeta Terra há uns 15 anos terráqueos e se esforçara ao máximo no sentido de se integrar na sociedade terráquea - com certo sucesso, deve-se reconhecer. Assim, por exemplo, ele passara esses 15 anos fingindo ser um ator desempregado, o que era perfeitamente plausível. Porém cometera um erro gritante, por ter sido um pouco displicente em suas pesquisas preparatórias. As informações de que ele dispunha o levaram a escolher o nome "Ford Prefect", achando que era um nome bem comum, que passaria desapercebido.
Não era alto a ponto de chamar atenção, e suas feições eram atraentes, mas não a ponto de chamar atenção. Seus cabelos eram avermelhados e crespos e ele os penteava para trás. Sua pele parecia ter sido puxada a partir do nariz. Havia algo de ligeiramente estranho nele mas era algo muito sutil, difícil de identificar. Talvez os olhos dele piscassem menos que o normal, de modo que quem ficasse conversando com ele algum tempo acabava com os olhos cheios d´água de aflição. Talvez o sorriso dele fosse um pouco largo demais e desse a sensação desagradável de que estava prestes a morder o pescoço de seu interlocutor.
Para a maioria dos amigos que fizera na Terra era um sujeito excêntrico, porém inofensivo: um beberrão com alguns hábitos maio estranhos. Por exemplo, ele costumava entrar de penetra em festas na universidade, tomar um porre colossal e depois começava a gozar qualquer astrofísico que encontrasse, até que o expulsem da festa.
As vezes ele ficava desligado, olhando distraído para o céu, como se estivesse hipnotizado, até que alguém lhe perguntava o que ele estava fazendo. Então, por um instante, Ford ficava assustado, com um ar de culpado, mas logo relaxava e sorria.
- Ah estou só procurando discos voadores - brincava, e todo mundo ria e lhe perguntava que tipo de discos voadores ele estava procurando - Dos verdes! - ele respondia com um sorriso irônico, depois ria às gargalhadas por alguns instantes e daí corria até o bar mais próximo e pagava uma enorme rodada de bebidas.
Essas noites normalmente terminavam mal. Ford tomava uísque até ficar totalmente bêbado, se encolhia num canto com uma garota qualquer e dizia a ela, que na verdade a cor dos discos voadores não tinha muita importância.
Depois cambaleando maio tonto pelas ruas, de madrugada, com frequência perguntava aos policiais que passavam como se ia para Betelgeuse. Os policiais normalmente diziam algo assim:
- O senhor não acha que é hora de ir para casa?
- É o que estou tentando fazer, meu chapa, estou tentando - era o que Ford semprerespondia nessas ocasiões.
- O senhor não acha que é hora de ir para casa?
- É o que estou tentando fazer, meu chapa, estou tentando - era o que Ford semprerespondia nessas ocasiões.
Na verdade, o que ele realmente procurava quando ficava olhando para o céu era qualquer tipo de disco voador. Ele falava em discos voadores verdes porque o verde era a cor tradicional do uniforme dos astronautas marcantes de Betelgeuse.
Ford Prefect já havia perdido as esperanças de que aparecesse um disco voador porque 15 anos é muito tempo para ficar preso em qualquer lugar, principalmente num lugar tão absurdamente chato como a Terra.
.................................................................
Escuridão total.
- Tome, coma um pouco de amendoim. Se você nunca passou antes por um raio de transferência de matéria, deve ter perdido sal e proteína. A cerveja que você tomou deve ter protegido seu organismo. Estamos a salvo
- Ah, bom
- Estamos dentro de uma pequena cabine de uma das espaçonaves da Frota de Construção Vogon.
- Ah, pelo visto você esta empregando a expressão "a salvo" num sentido estranho que eu não conheço. Como é que viemos parar aqui?
- Pegamos uma carona
- Espera ai! Você está me dizendo que a gente levantou o polegar e algum monstrinho verde de olhos esbugalhados pôs a cabeça para fora e disse "Oi gente, entrem ai que eu deixo vocês na saída do viaduto"
- Bem , o polegar na verdade é um sinalizador eletrônico subeta, e na saída do viaduto, no caso, é a estrela de Barnard, a seis anos-luz da Terra; ms no geral é mais ou menos isso
- E o monstrinho de olhos esbugalhados?
- É verde, sim
- Tudo bem. Mas quando eu vou voltar pra casa?
- Não vai - encontra o interruptor e acende a luz
- Minha nossa! Estamos mesmo dentro de um disco voador?
Olham ao redor
- Bem, o que você acha?
- Meio bagunçado, né?
(Fragmentos retirados do livro "O guia do mochileiro das galáxias" de Douglas Adams)
"Mistérios Insondáveis" de Alcione Araújo
O poder da razão nos enche de genuíno orgulho. É extraordinária a capacidade humana para compreender o mundo em que vivemos - da minúscula intimidade da matéria aos espaços infinitos do cosmo, da inteligência artificial ao uso das células-tronco. É tamanha a empolgação com a capacidade de compreender as miraculosas elaborações da razão que, às vezes, somos instilados a crer que não há limites para o conhecimento - o que, de fato, parece não existir - e nós alçamos a extremos nos quais a soberba ultrapassa a própria razão.
Inflados pela onipotência, passamos a viver como senhores da natureza e deuses da razão. Nesses momentos, humildade deixa de ser apenas uma virtude e passa a ser uma necessidade - até para ajustar pesos e contrapesos e restaurar o equilíbrio.
A despeito das fantásticas conquistas da ciência, a espécia humana convive com mistérios tão insondáveis quanto essenciais à vida. É quase alarmante que a vida siga seu curso sem que possamos balbuciar qualquer verdade sobre questões que nos acompanham do nascimento à morte.
O nascimento, para começar é um mistério. Nada sabemos como e quando a vida se instala. Além do absurdo acaso implícito num determinado espermatozoide, entre milhões, fecundar o ovo e resultar num ser e não noutro, inteiramente distinto - o que nos define como um acaso da natureza, ao qual se junta o aleatório da programação celular detectado pela biologia genética. Somos, enfim, um acaso do acaso. Ademais, quase todo o saber clínico sobre o nascimento apoia-se em estatísticas e estudos de caso - não no conhecimento do momento decisivo onde tudo começa. Vivemos no mistério do nosso surgimento.
Noutro extremo, a morte - sabemos o que leva ao colapso de órgãos e sistemas, mas nada sabemos sobre o que ocorre após o repouso cerebral - instala-se nos inescrutável domínio da fé. No âmbito do conhecimento, é puro mistério. Sabemos que a vida, tudo o que somos e deixamos de ser, se dá entre o nascimento e a morte, nossos limites. E nada sabemos sobre os próprios extremos determinantes da vida entre si.
Mencionei a seara inescrutável da fé - eis outro mistério. Sabemos que muitas pessoas têm fé - vários tipos, em vários revelações -, mas não sabemos dizer o que seria a fé. Santo Agostinho, que a chamava de esperança, considerava-a um privilégio - ou seja, não é para todos! E reiterava essa ideia como quase um paradoxo. Dizia o santo das Confissões que quem entendeu Deus está longe da verdade, porque Deus não é acessível pela razão. Que mistério a fé! Sem ironia, para ter fé é preciso crer, antes, na fé - que não se dispõe ao entendimento.
Mais prosaico e rotineiro, porém não menos misterioso e intrigante, é o sonho. Desde as remotas civilizações nos primórdios da espécie que o homem quer entender os sonhos. O Talmude, o Corão e a Bíblia estão repletos de interpretações dos sonhos. No início do século XX, Freud, com A interpretação dos sonhos, lançou alicerces da teoria da subjetividade. Mas é uma interpretação entre outras. Dormimos todas as noites com o desconhecido sonho.
E o que sabemos do amor? Como surge, de que se constitui? Sabemos que são complexos impulsos subjetivos, vindos de recônditos obscuros, mas não conseguimos defini-lo. Pode-se se escolher, com critérios da razão, um marido, uma esposa, pode-se criar parcerias e conveniência e pode-se acomodar afinidades, mas não pode escolher a quem se ama. O amor brota por si e como um mistério.
Há outros, muitos outros, mistérios que nos cercam. Lembro só mais um, com o qual convivo dia e noite: a arte. Para o que é a arte, de que se constitui e a que serve, não há respostas conclusivas, todas giram em torno de conceitos - talvez pela falta de uma teoria geral da emoção, outro mistério! Por lidar com a criação, a arte propõe paradoxos, que não respondem, mas nos distraem do seu próprio mistério, como o de Jean Cocteau: "A arte é indispensável, se ao menos soubéssemos para quê."
(Crônica escrita por Alcione Araújo para o jornal Estado de Minas, retirada do livro "Cala a boca e me beija")
Inflados pela onipotência, passamos a viver como senhores da natureza e deuses da razão. Nesses momentos, humildade deixa de ser apenas uma virtude e passa a ser uma necessidade - até para ajustar pesos e contrapesos e restaurar o equilíbrio.
A despeito das fantásticas conquistas da ciência, a espécia humana convive com mistérios tão insondáveis quanto essenciais à vida. É quase alarmante que a vida siga seu curso sem que possamos balbuciar qualquer verdade sobre questões que nos acompanham do nascimento à morte.
O nascimento, para começar é um mistério. Nada sabemos como e quando a vida se instala. Além do absurdo acaso implícito num determinado espermatozoide, entre milhões, fecundar o ovo e resultar num ser e não noutro, inteiramente distinto - o que nos define como um acaso da natureza, ao qual se junta o aleatório da programação celular detectado pela biologia genética. Somos, enfim, um acaso do acaso. Ademais, quase todo o saber clínico sobre o nascimento apoia-se em estatísticas e estudos de caso - não no conhecimento do momento decisivo onde tudo começa. Vivemos no mistério do nosso surgimento.
Noutro extremo, a morte - sabemos o que leva ao colapso de órgãos e sistemas, mas nada sabemos sobre o que ocorre após o repouso cerebral - instala-se nos inescrutável domínio da fé. No âmbito do conhecimento, é puro mistério. Sabemos que a vida, tudo o que somos e deixamos de ser, se dá entre o nascimento e a morte, nossos limites. E nada sabemos sobre os próprios extremos determinantes da vida entre si.
Mencionei a seara inescrutável da fé - eis outro mistério. Sabemos que muitas pessoas têm fé - vários tipos, em vários revelações -, mas não sabemos dizer o que seria a fé. Santo Agostinho, que a chamava de esperança, considerava-a um privilégio - ou seja, não é para todos! E reiterava essa ideia como quase um paradoxo. Dizia o santo das Confissões que quem entendeu Deus está longe da verdade, porque Deus não é acessível pela razão. Que mistério a fé! Sem ironia, para ter fé é preciso crer, antes, na fé - que não se dispõe ao entendimento.
Mais prosaico e rotineiro, porém não menos misterioso e intrigante, é o sonho. Desde as remotas civilizações nos primórdios da espécie que o homem quer entender os sonhos. O Talmude, o Corão e a Bíblia estão repletos de interpretações dos sonhos. No início do século XX, Freud, com A interpretação dos sonhos, lançou alicerces da teoria da subjetividade. Mas é uma interpretação entre outras. Dormimos todas as noites com o desconhecido sonho.
E o que sabemos do amor? Como surge, de que se constitui? Sabemos que são complexos impulsos subjetivos, vindos de recônditos obscuros, mas não conseguimos defini-lo. Pode-se se escolher, com critérios da razão, um marido, uma esposa, pode-se criar parcerias e conveniência e pode-se acomodar afinidades, mas não pode escolher a quem se ama. O amor brota por si e como um mistério.
Há outros, muitos outros, mistérios que nos cercam. Lembro só mais um, com o qual convivo dia e noite: a arte. Para o que é a arte, de que se constitui e a que serve, não há respostas conclusivas, todas giram em torno de conceitos - talvez pela falta de uma teoria geral da emoção, outro mistério! Por lidar com a criação, a arte propõe paradoxos, que não respondem, mas nos distraem do seu próprio mistério, como o de Jean Cocteau: "A arte é indispensável, se ao menos soubéssemos para quê."
(Crônica escrita por Alcione Araújo para o jornal Estado de Minas, retirada do livro "Cala a boca e me beija")
quinta-feira, 5 de junho de 2014
de Carol
Não é impunemente que se nasce mulher.
E mulher artista.
Fico admirada
Boquiaberta
Estarrecia
De cara
Sem entender
Aonde estaria Florbela se não escrevesse?
E Virginia?
E Clarice? Por onde esteve?
Yaioi afirma que se não fosse a sua arte ela já teria se matado ha muito tempo.
Florbela o fez, Virginia o fez.
A Clarice morrer com um câncer no ovário se fosse ficção seria uma forçação de barra.
A Louise sobreviveu.
A Louise sobreviveu.
A Louise sobreviveu.
A Marina sobreviveu.
A Marina sobreviveu.
A Marina sobreviveu.
A Marina fala que o suicídio é um crime contra a vida
o artista não deve cometer suicídio
o artista não deve cometer suicídio
o artista não deve cometer suicídio
O meu tio cometeu suicídio
O meu tio não era artista.
Ou era, não sei.
Ele tocava piano.
Não sei.
Ele tinha 19 anos
Ele poderia vir a ser um artista.
Se ele viesse a ser um artista será que ele não teria cometido suicídio?
Se ele viesse a ser um artista será que ele teria cometido suicídio?
Suicídio
Suicídio
Suicídio
É pra dentro.
É bem pra dentro.
Ferida da alma.
Profunda
O corpo não tem mais razão de estar.
Aqui.
Agora.
Mas é agora.
E depois?
No momento da queda, ou um segundo depois de tomar o remédio
Esse segundo já não é agora
É depois.
Será que nesse segundo a camisa dele não podia agarrar num galho de árvore
Ele ficar preso de cabeça pra baixo no chão
Começar a chorar e agradecer
Agradecer muito por ter ficado vivo
Naquele segundo
ele se sentir profundamente agradecido por estar vivo
e depois ter um ataque de riso
olhar pro irmão que estava olhando para ele da janela do apartamento
e pedir: por favor me tira daqui
ME TIRA DAQUI!
O irmão sem saber como agir, chorando, pega uma escada gigantesca e tira o irmão dele de lá.
Eles se abraçam
E a vida continua vida.
Sem o suicídio carimbar essa família.
O suicídio carimba.
Flor bela de alma da conceição espanca
De alma.
Alma.
Aonde a alma dói.
Ai!
Ai!
é um lugar...
Infinito (para dentro)
Uma tortura
E como ser depois de vir do coração?
De tirar de dentro do peito a lúcida verdade
O sentimento.
No seu ponto de partida
O homem só tem instintos
Mais avançado e corrompido
Só tem sensações
Mais instruído e purificado
Tem sentimentos
O sentimento então é uma evolução da sensação.
Quirom é um planeta?
A sentimentação
O ser neutro virou um ser sentimentado
Enfim…
Quirom é um satellite
Assim como a Lilith
É mutável
Quirom mostra a ferida da alma.
Filho de cronos com uma ninfa
Era metade homem metade cavalo
Tinha o poder de curar as pessoas
Mas tinha uma grande ferida na alma
ter sido abandonado por sua mãe por ela ter vergonha de sua condição.
Um dia sem querer, leva uma flechada na pata traseira
E fica para sempre a mostra uma ferida com um cheiro terrível
Justamente no lugar em que ele mais ressentia
Sua parte cavalo.
Eu não sei onde está o meu quirom
Preciso saber
Urgente
Mas a Lilith o astrólogo me disse
A progesterona
Uma progesterona que estava concorrendo comigo- ele disse
Agiu como um louco- ele disse- andou para um lado e olhou para outro.
Ai! Ai!
Ferida na alma!
Quiron!
Quando tem Lilith é para se ficar atento
Progesterona pede atenção.
A Progesterona que é produzida no ovário.
Ferida na alma.
Quantas feridas na alma vai se acumulando no caminho
Desse grande movimento
dentro desse planeta
que órbita
nessa galaxia.
Galaxia
Via Láctea
Outras vias
Muitas outras vias…
Ser supremamente pessoal para ser coletivo.
Ser supremamente pessoal para ser coletivo
Ser supremamente pessoal para ser coletivo.
Não é impunemente que se nasce mulher.
E mulher artista.
O artista é um traumatófilo
Elementar lhe dar com a falta
Elemento se dá com falta.
Nós existimos principalmente pela nossa ausência
Isso é da Louise
Bourgeois.
O trauma
Experiência psicológica muito agressiva
Os soldados quando voltavam da primeira Guerra
Não conseguiam…
Não conseguiam…
E como ser depois de vir do coração?
O pó, o nada…
Não conseguiam falar o que viveram
Falar
Acessar
A ferida da alma
Eu não lembro
Como foi quando meu pai saiu de casa
Elementar lhe dar com a falta
Ser supremamente pessoal para ser coletivo
Ser supremamente pessoal para ser coletivo
Não é essa a magia da grande arte?
Os artistas devem procurar a inspiração no seu âmago
Quanto mais se aprofundarem em seu âmago, mais universais serão
O artista é um universo
O artista é um universo
O artista é um universo
O artista deve ser ouvido
E libertado
sempre
Isso é da Nirley
Será que ele queria voar?
Não é isso que todos queremos afinal?
Sair voando pela janela
Sair voando
Como ícaro
Que não se conteve em ter asas
Quis voar alto
Bem alto
Perto do sol
E o sol derreteu suas asas
E ele caiu
Morreu
Porque ícaro, querido ícaro
o homem não pode voar
Ele não se conforma
Com essa tristíssima contingência
Eu o entendo.
Voar alto
Bem alto
Sair da terra voando
E olhar todo o universo
No silêncio que deve ser lá em cima
E depois voar mais alto e ver a nossa galáxia
Bem pequenininha brilhando perto das outras
Que também o são.
E voltar
Depois de ser do coração.
E como voltar a ser depois de vir do coração?
Medo de morrer
Ela me respondeu
Quando eu disse que tinha medo na hora dormir.
Medo de morrer
Mas se a alma é separada do corpo
Morrer desse corpo
Pra perambular com alma pelo espaço pode ser bom.
Eu não quero morrer
Eu quero ficar viva
Mas e o desejo incontrolável de voar?
Da descoberta que a Terra gira em torno do Sol até o convívio com OVINIs
O teatro é uma arte que se utiliza da homem para falar dele mesmo. Uma metáfora do ser humano. De todas as artes talvez a mais humanista. A perspectiva sensível do homem sobre o mundo é a matéria-prima que imprime uma simplicidade essencial: a figura do ator (há quem discorde). É um pouco contraditório partir do universo como tema central da construção de uma peça, tema tão factual e amplo (o maior de todos), acreditando estar no homem a essência do teatro. É da curiosidade pela descoberta, ou da capacidade de inventar que este projeto surge. Existe um começo do universo? O que aconteceu antes dele? De onde ele surge e para onde ele vai? Qual é a natureza do tempo? Chegará ele a um fim? Desde o princípio o homem busca estas e outras respostas percorrendo um longo caminho de certezas provisórias, mentiras prazerosas, políticas de poder, fé, desenvolvimento científico e técnico... Enfim, toda teoria é crível até que se descubra o contrário. O que importa não é a verdade universal mas todas as mentiras sinceras que explicam nossa necessidade de compreender o universo. Quando Galileu prova que a Terra gira em torno do Sol e colabora com a criação da Física Moderna, ele quebra com a crença no Modelo Ptolomaico que persistia desde a Grécia Antiga. Acima de tudo, quando Galileu consegue comprovar através da observação, o modelo de Copérnico, e se livrar das esferas celestes e religiosas de Ptolomeu considerando o infinito, ele oferece ao homem a autonomia da descoberta, dando credibilidade ao seu modo de "olhar" o universo. No Renascimento surgem a figura do artista e as academias que diluem as fronteiras entre ciência e arte. A criação da perspectiva linear possibilita a reprodução da ideia de imitação da natureza, presente na Cultura Clássica. O espaço é uma experiência. A perspectiva é um pensamento sobre o espaço, e surge a partir da matemática: Uma forma de representação da realidade exterior; A representação do visível a partir de um ponto de vista individual e fixo; A produção de uma ilusão de profundidade. No momento que o homem se percebe perdido no espaço muito maior que o esperado, ele investe na sua própria inteligência, complexidade e solidão. No espaço infinito qualquer ponto pode ser considerado o centro. Leonardo da Vinci busca no "Homem Vitruviano" a relação de perfeição do corpo do ser humano com a grandiosidade do universo. O que vamos buscar? A relação desse tema com nosso dia-a-dia, dos pequenos acontecimentos às grandes coincidências. Vamos investigar, criar, inventar... As grandes teorias de conspirações envolvendo OVINIs; a aleatoriedade do horóscopo; a lua como assunto para se aproximar de alguém; ônibus espaciais; novas experiências com tempo/espaço; o nascimento de uma estrela; viagem no tempo; universos paralelos; realidade virtual; nebulosas... As associações mais humanas e sensíveis que pudermos fazer com o tema.
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quarta-feira, 4 de junho de 2014
Homem Vitruviano
O pintor italiano Leonardo da Vinci (1452 – 1519) é tido como uma das mais importantes figuras do Alto Renascimento. Embora tenha sido conhecido principalmente como pintor, era também cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Dentre os desenhos deixados por Leonardo, o Homem Vitruviano (ou o Homem de Vitrúvio)tornou-se um ícone cultural. Trata-se de um desenho encontrado em seus diários, feito por volta de 1490, que mostra o traçado e as proporções entre as diversas partes do corpo humano. Durante o Renascimento, muitos artistas, arquitetos e tratadistas puseram-se a interpretar os textos vitruvianos, para fazer novas representações gráficas, mas nenhum deles conseguiu combinar de forma harmoniosa e matemática as proporcionalidades do corpo humano e a solução da quadratura do círculo, conforme propunha Vitruvius. Dentre os desenhos que foram feitos, o de Leonardo da Vinci tornou-se o mais famoso e o mais difundido.
Duas diferentes posturas, formadas pela combinação das posições dos braços e das pernas. A figura humana com braços e pernas em cruz está contida dentro do quadrado. Enquanto aquela com braços e pernas abertos está contida no círculo. A postura em cruz delimita os lados do quadrado, enquanto que a postura com pernas e braços abertos delimita o círculo. A área das duas figuras geométricas é igual. O umbigo da figura humana é o seu real centro de gravidade que continua imóvel, embora pareça se mover. Examinando o desenho como um todo, pode-se notar que a combinação das posições dos braços e das pernas forma quatro posturas diferentes: braços e pernas em cruz, braços e pernas abertos, braços em cruz e pernas abertas, braços abertos (para o alto) e pernas unidas.
A razão de tê-lo chamado de Homem Vitruviano baseia-se no fato de que o arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio (I a. C.) apresenta no seu tratado sobre arquitetura, composto por uma série de dez livros, uma descrição sobre as proporções do corpo humano, usando como unidade de medida o dedo, o palmo e o antebraço, o que o levou a acreditar que um homem com as pernas e os braços abertos encaixaria perfeitamente dentro de um quadrado e de um círculo – figuras geométricas perfeitas. E, se o corpo humano fosse representado ao mesmo tempo, dentro das duas figuras, o umbigo, centro gravitacional da figura humana, coincidiria com o centro das duas figuras geométricas.
Vitrúvio tanto fez a sua apresentação em forma textual, como através de desenhos. Mas, com o passar dos anos, a descrição gráfica se perdeu, enquanto a obra passou a ser copiada. O homem descrito por Vitrúvio apresenta-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas, segundo o ideal clássico de beleza. Ele já havia tentado encaixar as proporções do corpo humano dentro da figura de um quadrado e um círculo, mas suas tentativas foram falhas.
O desenho do Homem Vitruviano reafirma o grande interesse de Leonardo da Vinci pela arte e ciência. No conceito da Divina Proporção, tão procuradas nas obras do Renascimento, dá-se a busca e definição das partes corporais do ser humano.
Para a filosofia a figura mostra mais que as proporções perfeitas, pois está repleta de símbolos, a figura presente na obra está dentro de um círculo e de um quadrado que tem relação com a numerologia sagrada, o círculo como símbolo da divindade e o quadrado símbolo da manifestação na matéria a partir da divindade.
A figura humana está totalmente integrada à estas figuras geométricas, demonstrando a relação do homem com o universo, o macrocosmo aqui como o universo e o microcosmo como o homem totalmente integrados.
A figura na posição de braços abertos longitudinais ao corpo formam uma cruz latina, símbolo da verticalização do homem em busca do sagrado com um trabalho na matéria (horizontal).
Desta maneira o Homem Vitruviano é um pentagrama, que é um símbolo estelar de cinco pontas representando o homem e sua relação também com os quatro elementos (terra, água, ar e fogo) que por sua vez tem relação com os quatro corpos da Personalidade e a cabeça como o elemento racional da Tríade que traz o poder de discernimento adquirido pela obtenção de conhecimento.
Marcus Vitruvius Pollio descreve no terceiro livro de sua série de dez livros intitulados De Architectura as proporções do corpo humano masculino. Eis algumas:
- O comprimento dos braços abertos de um homem (envergadura dos braços) é igual à sua altura.
- A distância entre a linha de cabelo na testa e o fundo do queixo é um décimo da altura de um homem.
- A distância entre o topo da cabeça e o fundo do queixo é um oitavo da altura de um homem.
- A distância entre o fundo do pescoço e a linha de cabelo na testa é um sexto da altura de um homem.
- O comprimento máximo nos ombros é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre a o meio do peito e o topo da cabeça é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre o cotovelo e a ponta da mão é um quarto da altura de um homem.
- A distância entre o cotovelo e a axila é um oitavo da altura de um homem.
- O comprimento da mão é um décimo da altura de um homem.
- A distância entre o fundo do queixo e o nariz é um terço do comprimento do rosto.
- A distância entre a linha de cabelo na testa e as sobrancelhas é um terço do comprimento do rosto.
- O comprimento da orelha é um terço do da face.
- O comprimento do pé é um sexto da altura.
- Face -> do queixo ao topo da testa = 1/10 da altura do corpo.
- Palma da mão -> do pulso ao topo do dedo médio = 1/10 da altura do corpo.
- Cabeça -> do queixo ao topo = 1/8 da altura do corpo.
- Base do pescoço às raízes do cabelo = 1/6 da altura do corpo.
- Meio do peito ao topo da cabeça = 1/4 da altura do corpo.
- Pé = 1/6 da altura do corpo.
- Largura do peito = 1/4 da altura do corpo.
- Largura da palma da mão = quatro dedos.
- Largura dos braços abertos = altura do corpo.
- Umbigo = centro exato do corpo.
- Base do queixo à base das narinas = 1/3 da face.
- Nariz -> da base às sobrancelhas = 1/3 da face.
- Orelha = 1/3 da face.
- Testa = 1/3 da face.
O teatro é humanista
Para entender o contexto em que Galileu vivia, e em que medida sua
descoberta aboliu um modelo de mundo que persistia à séculos, foi preciso
pesquisar a passagem histórica da Idade Média para a Idade Moderna.
Humanistas, foram a vanguarda da grande
transformação cultural chamada Renascimento. Quando nos referimos ao
Renascimento temos em mente, de maneira geral, o período que vai de meados do
século XIV até o final do século XVI. Ou seja, é um movimento histórico
relativamente breve que marca o início da chamada Idade Moderna e é
caracterizado pelo progresso técnico e científico, por maior conhecimento da
filosofia e da literatura antigas e maior amor pela beleza.
O termo Renascimento se refere ao retorno
ideal às formas da Antiguidade Clássica enquanto verdadeira fonte da beleza e
do saber. A idéia de Renascimento pertence à própria época e seus
protagonistas. Apesar do retorno ao passado clássico, o movimento conhecido por
esse nome nada possuía de nostálgico. Era, na verdade, portador de um acentuado
sentimento de superioridade em relação aos séculos precedentes,
acompanhado de atitude de substancial otimismo diante do presente e do futuro.
A idéia vinha acompanhada de “trazer à luz”, subtrair ao esquecimento a
grandiosidade da cultura do passado, sepultada pelas “trevas” da Idade Média. A
visão da Idade Média como um abismo cultural foi instaurada pelo Renascimento.
As pesquisas do último século desmistificaram a idéia de “Idade das Trevas” e
se dedicaram a identificar os inúmeros vínculos entre a Idade Média e o
Renascimento. Os resultados alcançados puderam demonstrar que ao longo dos
séculos, não propriamente de trevas, a tradição clássica não havia desaparecido
completamente. Em ruptura com a tradição medieval, as artes visuais procuraram
reencontrar as mais harmoniosas proporções do corpo humano e redescobrir em
tais medidas humanas a alma da arquitetura antiga, capaz de dar às novas
construções o ritmo musical recomendado por Platão.
O movimento humanista foi fundado na literatura. Francesco
Petrarca (1304-74) havia sido o primeiro a contrapor as imagens de trevas e
luz, ao confrontar o presente medieval cristão com o esplendor cultural do
passado clássico. Não obstante fosse problemática a identificação do passado
pagão com as “luzes” e da era cristã com as “trevas”, a ideia, cultivada por um
grupo de literatos, vingou. Ainda na primeira metade do século XIV, Giovanni
Boccaccio (1313-75), genial discípulo de Petrarca, utilizava o esquema “luz e
trevas” de análise em louvor da arte de Giotto. Para afirmar a evolução da
pintura em relação ao passado, o aspecto mais evidente era observar a
excelência com que esta se tornara capaz de imitar a natureza; no caso, a
natureza humana. O elogio de Boccaccio ao naturalismo de Giotto, além de
sobrepor a luz do presente às trevas do passado medieval, revelava uma
sensibilidade diferente em relação às imagens pictóricas e sua representação do
mundo visível. As palavras do poeta e precursor do Humanismo
indicavam a existência de um público interessado em formas mais complexas de
apreciação das artes a que o novo tipo de artista era chamado a satisfazer.
A imitação é um conceito crucial para todo o Renascimento, o ponto
de interseção por onde passam os diferentes elementos do projeto Renascimento.
O conceito portanto comporta uma vasta gama de significados, que absolutamente
não excluem a ideia de originalidade. Para a cultura do Humanismo, a imitação
era fundamento de um sistema moral e estético que tinha como referência os
valores da Antiguidade, suas virtudes públicas e suas grandes realizações. Em
oposição à imobilidade hierática das figuras da arte bizantina, os humanistas
estavam interessados na representação dos “afetos” – como eram designadas as
atitudes e expressões. Esse novo naturalismo era a essência da inovação
Renascentista e construía o principal desafio para a nova arte. A doutrina
estética do Renascimento se referia, por um lado, à imitação da natureza , à
imitação do real; por outro à imitação do modelo, imitação da Antiguidade
Clássica. Imitar não significava copiar, mas assimilar princípios; indicava
limites e oportunidades para a invenção. As obras produzidas não deviam ser
iguais, mas parecer com os modelos tal como o filho dos pais, segundo exemplo
da época.
Na primeira metade do Quatrocentos, o conceito de imitação
correspondia à reprodução o mais possível perfeita da realidade e estava ligado
a uma prática pictórica determinada a recriar a perfeita ilusão do visível. As
figuras de Masaccio na capela Brancacci, em Florença (1424-1425) são exemplos
da nova orientação. A anatomia e a perspectiva linear eram consideradas
diciplinas essenciais: à primeira era destinada à construção dos corpos
conforme a natureza; a segunda à construção do espaço. As regras da perspectiva
renascentista – inventadas em 1415 por Brunelleshi, possibilitam a criação do
espaço tridimensional sobre a superfície plana, resultando em uma imagem muito
semelhante à percepção que o olho humano possui da realidade espacial e dos
objetos nela colocados.
Depois dos primeiros tempos mais pragmáticos, dedicados às novidades da prática pictórica capaz de desenvolver a ilusão do real, a avaliação totalmente externa da beleza logo dará lugar a justificativas filosóficas. Aristóteles é considerado principal fonte para a interpretação da imitação como mímeses da natureza. Na Poética, a arte é espelho da natureza concebida como comportamento humano. O tratado De pictura (1433), de Alberti, texto fundamental para todas as formulações sobre arte dali em diante, já contemplava a idéia de eleição ao lado da de imitação, isto é, do livre-arbítrio do pintor, que, posto diante da natureza, podia não apenas retratá-la, mas eleger seus aspectos mais belos. A busca dessa "natureza ideal" era identificada pelos humanistas na frase de Aristóteles sobre a imitação: imitar a natureza não como era, mas como deveria ser.
O início do Renascimento havia sido marcado por certa dissolução das divisões rígidas da vida intelectual, fazendo com que a arte e a ciência compartilhassem um mesmo terreno. A geometria e a matemática estavam impregnadas por idéias filosóficas. A mateática possuia lugar de preeminência enquanto ciência singular, capaz de conduzir ao conhecimento abstrato das relações e das medidas, fazendo com que estas assumissem significados além do nível racional. Por meio da matemática, o espaço arquitetônico, por exemplo, prestava-se a analogias universais astrológicas e teológicas a que estavam sujeitos formas e números. Tais analogias punham em comunicação o macrocosmo e o microcosmo. O antigo simbolismo dos números e a harmonia numérica das esferas celestes remetiam aos preceitos pitagóricos retomados por Plotino e os neoplatônicos da Antiguidade. Tais ideias sobre o misticismo dos números - que nunca desapareceram totalmente - são redescobertas e desenvolvidas pelos filósofos do Renascimento com grande influência sobre as artes.
O processo de promoção social das artes se desenvolve em sintonia com a celebrada centralidade que a ideia de individuo teve para o Renascimento. O novo protagonismo adquirido pelo artista acompanha um processo de secularização da cultura no qual as realizações e os feitos terrenos dos homens passavam a ser altamente considerados e louvados. No decorrer do Quatrocentos, surgem diversos livros no gênero "homens ilustres" como o de Vilani, sobre os notáveis de Florença. O elogio do indivíduo e o culto da fama se estendem da literatura para a escultura, a pintura e a arquitetura.
(Fragmentos do texto “o projeto do renascimento” de Elisa Byington)
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