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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

La Belle Verte



Poeira das estrelas

            Se existe algo que a ciência ensina, é a humildade: humildade de perceber quanto somos pequenos perante a vastidão cósmica, que vivemos neste modesto planeta aquoso que gira em torno de uma estrela pouco relevante em meio a 100 bilhões de outras na Via Láctea. Não somos o centro do cosmo, nem mesmo podemos afirmar que estamos perto do centro da nossa própria galáxia, ela mesma apenas uma em meio a centenas de bilhões de outras. O centro não é uma posição relevante no universo.

Entretanto, aprendemos também que somos feitos de poeira das estrelas, que nossa química é produto de inúmeras explosões estelares que espalharam as sementes da vida pelo cosmo. Seria muita pretensão acreditar que somos tão privilegiados a ponto de sermos os únicos em toda a galáxia capazes de refletir sobre nossas origens, de refletir se estamos sós. Meu instinto diz que não deve ser assim, que é melhor que não seja assim. É difícil acreditar que somos especiais. Difícil e perigoso, pois leva a uma confusão de sermos raros e sermos “escolhidos”, entre ciência e religião. Porém, o que vemos, ao menos até agora, é que a vida é mesmo rara nesse sistema solar, e provavelmente também em outros. Vida inteligente, então, mais rara ainda, visto que somos produto de uma série de acidentes cósmicos e geológicos que resultaram numa espécie bípede capaz de dominar todas as outras, mesmo sendo fisicamente mais fraca (...) sou forçado a concluir que somos mesmo raros, que a vida é um privilégio e que a inteligência é uma centelha do divino que carregamos conosco.

(Epílogo do livro “Poeira das Estrelas” de Marcelo Gleiser e Frederico Neves)